segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O Caminho da Beleza 07 - Epifania do Senhor

Epifania do Senhor                   03.01.2016
Is 60, 1-6                 Ef 3, 2-3.5-6                       Mt 2, 1-12


ESCUTAR

Levanta os olhos ao redor e vê, todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços (Is 60, 4).

Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do evangelho (Ef 3, 6).

“Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 2).


MEDITAR

Os ministros do Evangelho devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se. O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou “clérigos burocratas” (Francisco, Entrevista a Antonio Spadaro, 2013).


ORAR

A marca da manifestação do amor de Deus, na sua totalidade, está no trecho da carta de Paulo: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do Evangelho”. O evangelista ratifica esta eleição de Deus pelos pagãos, simbolicamente, representados pelos Reis Magos. Deus fala a estes astrólogos pagãos fazendo brilhar uma insólita estrela no meio de suas constelações habituais. Esta palavra lhes aguça os ouvidos e os coloca, confiantes, a caminho, seguindo a estrela. E os poderosos da Jerusalém daquele tempo, acostumados à palavra de Deus, fecham seus ouvidos à palavra da revelação para que nada perturbe o curso habitual das suas dinastias. Os Reis Magos nos ensinam a liberdade absoluta dos que ouvem a palavra de Deus, pois “para ser livres, Cristo nos libertou” (Gl 5, 1). Estes se põem a caminho, modificam o curso de suas vidas, alteram a ordem dos dias e o desenvolvimento dos seus trabalhos, e disponibilizam o seu tempo. E não é isto que aprendemos a chamar de metanóia, de conversão? E são os convertidos que abrem novos caminhos para as igrejas apesar da sua resistência em aceitá-los. “Paulo, ao chegar em Jerusalém, tentava juntar-se aos discípulos; mas eles o temiam, pois não acreditavam que fosse discípulo” (At 9, 26). São assim as pessoas que Deus ama: os que são habitados pela paixão da verdade, que não se contentam com fórmulas feitas, mas, pagãos ou não, estão em autêntica busca e não temem pagar o preço das suas descobertas e dos seus itinerários. O evangelho nunca será recebido por meio de estradas já percorridas e, muito menos, em seguranças confortáveis. O evangelho só é encontrado por quem está pronto para correr o risco de um êxodo e ir até o fim de uma busca jamais terminada, pois a distância não é nada para quem se põe a caminho, ao passo que a vizinhança não é nada para quem está e é imóvel. Nesta epifania do Senhor, uma coisa deve ser tatuada em nosso coração: “A vida cristã é núpcias na pobreza; a cruz é o leito nupcial!” (Hans Urs von Balthasar).


CONTEMPLAR


India. Kashmir. Srinagar, 1948, Henri Cartier-Bresson (1908-2004), França.



sábado, 26 de dezembro de 2015

O Caminho da Beleza 06 - Sagrada Família

Sagrada Família             27.12.2015
Eclo 3, 3-7.14-17              Cl 3, 12-21               Lc 2, 41-52


ESCUTAR

Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe (Eclo 3, 7).

Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro (Cl 3, 12-13).

Jesus respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai”. Eles, porém, não compreenderam as palavras que lhes dissera (Lc 2, 49-50).


MEDITAR

Jesus afirma que, a partir de agora, a regra de vida de seus discípulos deverá ser aquela que prevê o primado da misericórdia, como Ele mesmo dá testemunho partilhando a refeição com os pecadores... Jesus vai além da lei, a sua partilha da mesa com aqueles que a lei considerava pecadores permite compreender até aonde chega a sua misericórdia (Francisco, Misericordiae Vultus).


ORAR

Na tradição do Antigo Testamento a família era constituída para procriação e repousava sobre uma estrutura patriarcal de parentesco cujo principal cuidado era a perpetuação de uma linhagem. A família de Jesus é uma reviravolta nesta tradição. Maria, como rezava a tradição, havia sido “prometida a um homem chamado José, da família de Davi” (Lc 1, 27), mas o Arcanjo Gabriel lhe anuncia algo absolutamente revolucionário: a nova família será constituída a partir de afinidades eletivas e escolhas amorosas. Ouvir a palavra, responder com um sim incondicional e estar absolutamente disponível são os novos pilares desta nova estrutura familiar na qual o amor recíproco e o crer sustentam a comunidade cristã e cada família nas suas plurais formas de existir. José e Maria ensinam – ele em estado de sono e ela em estado vigília – que devemos estar sempre, consciente ou inconscientemente, disponíveis para escutar e acolher a palavra de Deus. Não podemos nos confundir: existe um abismo entre sermos pais e genitores. Um homem e uma mulher precisam de alguns segundos para se tornar genitores e são estes que vêm seus filhos como propriedade particular, preocupados em fazer crescer o patrimônio familiar e em continuar o sobrenome da família. Na família de Deus, gerada a partir de Maria, José e Jesus, ser pai, mãe e filho é uma aventura de outra natureza. É uma escolha amorosa, uma afinidade eletiva e um compromisso de entrega para educar e conduzir os seus filhos e filhas para opções de liberdade que poderão gerar mais vida e mais desejos. Para a mentalidade retrógada dos que se reduziram à família nuclear burguesa tudo escandaliza nesta Santa Família. A família de Deus se concretiza de uma forma extraordinária aos padrões convencionais sacralizados: José, um homem sem mulher; Maria, uma virgem sem esposo e Jesus, uma criança sem pai. Deus revela, para todo o sempre, que o mais importante é a adoção pelo coração, o centro da vida. A revelação perturbadora é a de que só existem pais adotivos que superam a sua condição de genitores biológicos quando há a atitude radical da disponibilidade de dar a sua vida pelos que amam. Esta, segundo Jesus, é a maior prova de amor. A Sagrada Família nos ensina que devemos viver e preparar os nossos filhos para a imprevisibilidade de Deus. Somente o exercício da oração e do silêncio poderá trazer, como trouxe aos pais de Jesus, a inteligência da carne, do coração e do espírito. E, neste silêncio, poderemos descobrir, como afirma Paulo, que “somos cidadãos do céu” (Fl 3, 20). A família de Deus é cósmica e nela se cumpre a Sua promessa: “Eis que farei novas todas as coisas e renovarei o universo!” (Ap 21, 5).

CONTEMPLAR

Mãe nutrindo bebê enquanto escutava discurso político, 1936, David Seymour (1911-1956), Guerra Civil Espanhola, Badajoz, Estremadura, Espanha.





segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Caminho da Beleza 05 - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo                 25.12.2015
Is 52, 7-10               Hb 1, 1-6                  Jo 1, 1-18


ESCUTAR

Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação, e diz a Sião: “Reina teu Deus!” (Is 52, 7).

Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo. Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser (Hb 1, 1-3).

E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).


MEDITAR

Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai... Na “plenitude do tempo” (Gl 4,4), quando tudo estava pronto segundo o seu desígnio de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor. Quem O vê, vê o Pai (cf. Jo 14,9). Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus (Francisco, Misericordiae Vultus).


ORAR

Neste dia de Natal, comemoramos e damos graças porque Deus pronunciou a sua última palavra e este Menino na manjedoura é “a expressão do seu ser (...) o que faz dos ventos os seus anjos e das chamas de fogo os seus ministros” (Hb 1, 3.7). O Cristo nasceu para todos e o Natal é o dia em que o mistério sagrado se tornou santo e especial. Não é somente um dia a mais na fastidiosa ronda dos dias. Hoje, “a eternidade entra no tempo e o tempo, santificado, entra na eternidade” (Thomas Merton). Natal se tornou uma palavra mágica e todos são atingidos por ela: os bons cristãos e os de Boa Vontade procuram nela o seu gosto especial. É uma festa que a todos pertence, cristãos ou não. Anunciamos a Boa Nova de que o Deus que estava distante se tornou próximo neste recém-nascido, filho de Maria e de José. E nesta realidade tocamos o coração do cristianismo. O Natal é uma Boa Nova porque não estamos mais sós, não estamos mais condenados a um destino cego subordinado a uma eterna repetição da usura, do aleatório e da morte. A novidade da mensagem de Jesus não é a de ter anunciado a ressurreição dos mortos: os judeus já acreditavam nela; nem ter prometido a vinda do Filho do Homem no último dia: os judeus já esperavam esta vinda. A novidade da mensagem de Jesus é ter manifestado para toda a humanidade o nascimento de um novo Deus. Não mais um Deus distante, mas próximo; não um deus do cosmos, mas um Deus dos vivos e dos mortos; não um Deus justiceiro e violento, mas um Deus do amor e da paz que toma o partido dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados e dos pecadores. A mensagem de Natal é a mensagem de Paz para todos os homens e, por isso, devemos ser mensageiros da Paz para nossos irmãos e irmãs de todos os cantos da Terra e de todas as religiões. E o Reino de Deus que vem a cada novo Natal, é um Reino que acontece e se realiza cada vez que o amor triunfa sobre o ódio; cada vez que a reconciliação coloca um fim na engrenagem da violência e da banalização da vida e, sobretudo, cada vez que o desejo da paz é mais forte que a fatalidade da guerra.


CONTEMPLAR

Mãos, 1978, Sebastião Salgado (1944-), Brasil.







segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O Caminho da Beleza 04 - IV Domingo do Advento

IV Domingo de Advento                      20.12.2015
Mq 5, 1-4                 Hb 10, 5-10                        Lc 1, 39-45


ESCUTAR

“Os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até os confins da terra e ele mesmo será a paz” (Mq 5, 3-4).

“‘Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade’” (Hb 10, 7).

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1, 42).


MEDITAR

Crer em Jesus significa oferecer-Lhe a nossa carne, com a humildade e a coragem de Maria, para que Ele possa continuar a habitar no meio dos homens; significa oferecer-Lhe as nossas mãos, para acariciar os pequeninos e os pobres; os nossos pés, para ir ao encontro dos irmãos; os nossos braços, para sustentar quem é fraco e trabalhar na vinha do Senhor; a nossa mente, para pensar e fazer projetos à luz do Evangelho; e, sobretudo, o nosso coração, para amar e tomar decisões de acordo com a vontade de Deus (Francisco, A igreja da misericórdia, 2014).


ORAR

Belém conta muito pouco entre as cidades da Judeia e o Senhor colocou o seu olhar precisamente neste lugar insignificante. As escolhas de Deus nunca são determinadas por critérios de grandeza e importância mundanas. São as coisas sem importância que chamam a atenção do Senhor. Os homens olham as aparências, mas o Senhor olha os corações. O Evangelho nos revela o dinamismo do cristianismo. A Igreja de Jesus deve estar sempre em marcha pelos caminhos dos homens para levar Alguém a não falar de si mesmo, mas do Outro. O Cristo começou a sua vida itinerante no seio da sua mãe. Jesus, mesmo antes de nascer, está em caminho pelas veredas do mundo. Maria não é uma criatura que “sabe”, mas que crê. Ela confia e não pede explicações. Maria é o testemunho de que as palavras do Senhor se realizam somente quando confiamos nelas. O Natal é um Deus que mantém a palavra e busca os disponíveis, como Maria, para que se deixem conduzir por esta Palavra.


CONTEMPLAR

Sem título, c. 2013, Elli Cassidy, Galeria da Maternidade, Louth, Lincolnshire, Inglaterra, Reino Unido.




domingo, 6 de dezembro de 2015

O Caminho da Beleza 03 - III Domingo do Advento

III Domingo do Advento                     13.12.2015
Sf 3, 14-18                           Fl 4, 4-7                   Lc 3, 10-18


ESCUTAR

“O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa” (Sf 3, 17-18).

Irmãos, alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos (Fl 4, 4).

“Quem tiver duas túnicas dê uma a quem não tem; e quem tiver comida faça o mesmo” (Lc 3, 11).


MEDITAR

O Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura (Francisco, Evangelii Gaudium, 88, 2013).


ORAR

O cristão é chamado à esperança, à conversão do olhar e à alegria. Para muitos, a religião representa a negação da alegria. O cristianismo é um convite à alegria e a alegria pode se constituir numa prova convincente da existência de Deus. O cristão, para ser consumido pela alegria, deve esvaziar-se de si mesmo para amar e acolher o seu desígnio de amor na própria vida. Esta acolhida não é uma dimensão intimista, mas uma abertura diante do mundo inteiro. O sinal de que descobrimos a presença do próximo está na nossa capacidade de compartilhar. A regra de ouro é a recusa da violência, da mentira, do atropelo, da busca de proveito próprio com o prejuízo dos outros. A conversão é a descoberta do outro e a descoberta do outro é o elemento vital da alegria. A alegria é o que permanece quando todo o resto se esquece; uma alegria que desemboca na afabilidade, na indulgência e na capacidade de não fazer dramas existenciais pelo que não é essencial. A alegria faz desaparecer a ansiedade e a inquietude. Exorciza a angústia e nos confere o poder de render graças. A alegria é a verdade de nosso ser e para os cristãos, ser significa ser na alegria. “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos”.



CONTEMPLAR

Dal Lake, Kashmir, India, 1996, Steve McCurry (1950-), Estados Unidos, foto in: South Southeast, Phaidon Press Limited, Londres, Reino Unido, 2001.






segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O Caminho da Beleza 02 - II Domingo do Advento

II Domingo do Advento                       06.12.2015
Br 5,1-9                    Fl 1,4-6.8-11                       Lc 3, 1-6


ESCUTAR

Levanta-te, Jerusalém, põe-te no alto e olha para o oriente! (Br 5, 5).

E isto eu peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência (Fl 1, 9).

“Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3, 4).



MEDITAR

Na experiência pessoal de Deus não posso deixar de lado o caminho. Diria que encontramos Deus caminhando, andando, buscando-o e deixando-nos buscar por Ele. São dois caminhos que se encontram. Por um lado, o nosso que O busca, impulsionado por esse instinto que flui do coração. E depois, quando nos encontramos, percebemos que Ele já nos buscava desde antes, Ele nos antecipou (Francisco, Sobre o céu e a terra, 2013).


ORAR

Neste domingo somos convidados a “ver” para que nossa esperança não se torne impossível e a espera desemboque na desilusão. O profeta pede para nos colocarmos em pé, subir no mais alto possível e olhar para o oriente de onde vem o Sol Nascente. O profeta consegue ver de outra maneira e anima os outros a olhar o que ainda não existe. O evangelista nos assegura que “todas as pessoas verão a salvação de Deus”. Esta salvação que, com frequência, desponta onde menos esperamos e se apresenta quando não desejamos. O Vaticano II proclama que por causa do Cristo, Deus salva também os homens fora dos limites visíveis da Igreja e fora do alcance do rito dos sacramentos (cf. LG 16). A história da Igreja não coincide, simplesmente, de modo unívoco, com a história da salvação. Não podemos confundir o Natal com nossas canções e cantilenas. Deus arma a sua tenda no meio de nós para falar e busca o silêncio. Paulo nos exorta a irmos ao essencial da vida cristã que é o amor fraterno. Jesus nunca pregou que o amor não evita os conflitos. Ao contrário, o amor produz os verdadeiros conflitos em que a verdade está comprometida. O amor não sufoca as diferenças, mas nos convida a um olhar convertido capaz de vislumbrar e discernir o essencial. A luz que desperta em Belém não é ornamental e é ela que vislumbra o nosso caminho. O Cristo solta dentro de nós a centelha de sua luz para vermos o que muitos não veem. O evangelista nos revela que o essencial não está nas mãos dos poderosos políticos e religiosos: a Palavra do Senhor se fez ouvir no deserto, não na Roma imperial e nem no recinto sagrado do Templo de Jerusalém. No deserto, não há lugar para o supérfluo e nem para acumular coisas desnecessárias. Façamos da nossa vida um eterno deserto para que o Senhor nos fale no silêncio e nos inunde de vozes e sons de ternura e alegria.


CONTEMPLAR

Thomas, 2011, Lee Jeffries (1971-), foto da série Homeless, Manchester, Reino Unido.







segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O Caminho da Beleza 01 - I Domingo do Advento

I Domingo do Advento             29.11.2015
Jr 33, 14-16                                    1 Ts 3,12-4,2                      Lc 21, 25-28.34-36


ESCUTAR

“Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei cumprir a promessa de bens futuros para a casa de Israel e para a casa de Judá” (Jr 33, 14).

Irmãos, o Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós (1 Ts 3,12).

“Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida e esse dia não caia de repente sobre vós” (Lc 21,34).


MEDITAR

Já nessa terra, na oração, nos Sacramentos, na fraternidade, nós encontramos Jesus e o seu amor, e assim podemos degustar algo da vida ressuscitada. A experiência que fazemos do seu amor e da sua fidelidade acende como um fogo no nosso coração e aumenta a nossa fé na ressurreição. De fato, se Deus é fiel e ama, não pode sê-lo por tempo limitado: a fidelidade é eterna, não pode mudar. O amor de Deus é eterno, não pode mudar! Não é ao mesmo tempo limitado: é para sempre! É para seguir adiante! Ele é fiel para sempre e Ele nos espera, cada um de nós, acompanha a cada um de nós com esta fidelidade eterna (Francisco, Angelus, 10 de novembro de 2013).


ORAR

Este domingo é o primeiro dia do calendário da Igreja. É o tempo da espera e da esperança centradas na mesma pessoa: o Cristo. As duas manifestações – na debilidade da primeira, o Natal, e no poder fulgurante da segunda, o Juízo Final – estão a favor de todos os homens para a salvação. É o momento de purificar a nossa esperança das idolatrias do dinheiro, do poder e dos status, para que ela se converta numa esperança cristã. A esperança cristã é uma esperança ousada que tem como objeto o dom que, em Cristo, nos vem do Deus que sempre mantém suas promessas. Nesta espera confiante exorcizamos os medos e é preciso vivê-la a cada momento para que os corações não fiquem embotados e pesados. Uma espera vigilante não significa fuga da existência cotidiana. As seduções podem se converter numa grande tentação e nos desviar do sentido do caminho e da busca da vida eterna. Paulo une esperança com amor e revela que a santidade para o cristão consiste na realização de um programa de amor. Entre a encarnação e a vinda final de Jesus, corre o tempo da Igreja. Nunca será o tempo da ausência e nem uma espera vazia. A vigilância é um tema fundamental da pregação de Jesus, uma atitude destinada a reconhecer a sua presença silenciosa nos acontecimentos da nossa vida. Jesus não nos livra dos problemas ou da insegurança, mas nos ensina a enfrentá-los. É necessário, mais do que nunca, apresentarmos diante de Deus, não meras lâmpadas rituais, mas as lâmpadas ardentes dos nossos corações.


CONTEMPLAR


Em algum lugar do norte, Sebastião Salgado (1944-), Brasil, foto in: Gênesis, Taschen, 2013.



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O Caminho da Beleza 52 - Jesus Cristo Rei do Universo

O Caminho da Beleza 52
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Jesus Cristo Rei do Universo                        22.11.2015
Dn 7, 13-14             Ap 1, 5-8                  Jo 18, 33-37


ESCUTAR

“Seu reino é um reino que não se dissolverá” (Dn 7, 14).

“Eu sou o alfa e o ômega” (Ap 1,8).

“O meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36).


MEDITAR

Por toda eternidade, Deus é Pai. Porque ele é amor, ele é todo inteiro comunicação de si, dom de si... E esse dom essencial é o Filho engendrado eternamente no seio do Pai, fazendo-se um com ele no Espírito, o Sopro de amor que os une (Éloi Leclerc).

Todo movimento de compaixão pura numa alma é uma nova descida do Cristo sobre a terra para ser crucificado (Simone Weil).


ORAR

Jesus contrapõe aos reinos deste mundo um reino de amor, de solidariedade e de justiça. A comunidade de Jesus se encontra no meio do mundo e ela não é um refúgio que nos permite evadir da nossa responsabilidade histórica. Jesus afronta os poderes políticos e religiosos ao revelar a sua descendência: “Vós sois do diabo, vosso pai, e quereis realizar os desejos do vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). Jesus se apresenta como um semeador, como um pastor e um pescador, figuras emblemáticas da simplicidade e do despojamento. Semeia as sementes de várias espécies, pastoreia todos os tipos de ovelha e lança a rede para colher uma grande variedade de peixes. Jesus é Rei de um reino longe de qualquer realeza ou triunfalismo. O élan vital da construção permanente deste reino é o amar que nos conduz à paz e à justiça para todos. Um amor como convicção, que denominamos fé; um amor como agir transformador que nomeamos esperança. Com o Crucificado entrou no mundo, para sempre, a força revolucionária do amor que declarou fora da lei todos os poderes sociais, políticos e religiosos. Nesta festa de hoje, devemos proclamar que só aquele que ama se converte em rei. Cristo não é o Rei Primeiro e Único do Universo. Ele nos revela que todos os que entregam a sua vida por amor e pela verdade são e serão os reis e rainhas neste Reino de Deus.


CONTEMPLAR

Coroação de Espinhos, c. 1622-3, Dirck van Baburen (1595-1624), óleo sobre tela, 106 x 136 cm, Museum Catharijneconvent, Utrecht, Países Baixos.
















quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O Caminho da Beleza 51 - XXXIII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 51
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXXIII Domingo do Tempo Comum                     15.11.2015
Dn 12, 1-3                Hb 10, 11-14.18                 Mc 13, 24-32


ESCUTAR

“Os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude brilharão como as estrelas por toda a eternidade” (Dn 12, 3).

Onde existe o perdão, já não se faz oferenda pelo pecado (Hb 10, 18).

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13, 31).


MEDITAR

Hoje não existem deuses que possam ser explicitamente definidos como tais. Porém, existem forças diante das quais o homem se dobra. O capital, a propriedade em geral, bem como a ambição, são algumas delas. O bezerro de ouro é, sob diversos aspectos, de grande atualidade no mundo ocidental. O risco existe de nos reduzirmos a uma tecnocracia cujo único critério seria o aumento do consumo (Papa Bento XVI).

O Evangelho pode permanecer letra morta, sem vida, se ele não se incarna em nossa existência pessoal. Nós podemos ter a impressão de compreendê-lo, nós podemos dissecar cada palavra, mas se ele não se torna palavra vivente isso não serve para nada (D. Guillaume Jedrzejczak).


ORAR

A mensagem de hoje se apresenta em tonalidades diferentes. Os sinais de obscuridade: angústia, tribulação; os pecados dos homens persistem ainda que “todo sacerdote se apresente diariamente para celebrar o culto, oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, incapazes de apagar o pecado”. São tempos de esterilidade litúrgica e de banalização do mistério. No entanto, há sinais de alegria. O evangelista nos faz saber que entre os escombros e as cinzas brota uma figueira com seus ramos de verdade. Todas as realidades estão por terra, no entanto, a Palavra ficará para sempre. Os grandes, os poderosos, os sábios da terra desgastaram a Palavra ao pronunciar milhares de sons confusos, desconexos, contraditórios, alguns de ameaça, outros de triunfo. O Senhor tem a última palavra e esta é a Palavra que não passa e que julga a História. O mais vital não é saber o dia ou a hora, mas saber que o Senhor está próximo, que ele está à porta e que o mundo novo está presente dentro de nós. Saber que na duração curta do provisório está o germe da realidade definitiva e que o bater do coração, ainda que esteja destinado a apagar-se, marca o ritmo de um tempo novo e distinto que não se interrompe jamais. É no nosso frágil coração que está o futuro, o eterno. Quem vive plenamente o dia de antes, sabe que o dia de depois já começara, pois a única maneira de permanecer fiel ao eterno é não trair o presente.


CONTEMPLAR

São Miguel e o demônio, 1956-58, Sir Jacob Epstein (1880-1959), bronze, Catedral de Coventry, Coventry, Grã-Bretanha. Clique na imagem para ampliar.







segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O Caminho da Beleza 50 - XXXII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 50
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXXII Domingo do Tempo Comum                       08.11.2015
1 Rs 17, 10-16                     Hb 9, 24-28                       Mc 12, 38-44


ESCUTAR

“‘A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá. Até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’” (1 Rs 17, 14).

Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo (Hb 9, 26).

Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada (Mc 12, 42).


MEDITAR

Deus se apresenta como possibilidade de amor total e nós temos que nos deixar impregnar no Espírito desse amor total. E esse amor total exige de nós uma entrega absolutíssima! É uma exigência de Deus, se soubermos ser fiel a essa paixão de Cristo, que é a paixão de sabê-Lo amá-Lo a esse ponto (Madre Belém).

Ama-se não na medida em que se possui, mas na medida em que se espera (Gustave Thibon).


 ORAR

O nada que possuímos se converte no todo quando nos despojamos de tudo em oblação e em oferenda. Tanto as duas moedas quanto o pouco resto de farinha e o fio de azeite não fizeram nenhum ruído. Jesus revela que a verdadeira história é escrita por pessoas insignificantes e anônimas, capazes de gestos que não causam ruídos e nem chamam a atenção. Não podemos parar na superfície das coisas e dos acontecimentos, nem deixarmo-nos enganar pelo clamor dos gestos espetaculares e muito menos pelas liturgias chamativas que despertam a catarse da plateia. Oferecer o que restava da farinha, do azeite e as derradeiras moedas são ações verdadeiramente grandes que só os pequenos são capazes de realizar. Eles oferecem tudo e não o supérfluo, pois “de tudo fica um pouco...”. São os gestos que nos aproximam Daquele que se ofereceu a Si próprio. Jesus acusa os que estão imersos, como valor absoluto, na vaidade, na hipocrisia e na cobiça. A vaidade expressa nas pompas das vestimentas, nas reverências e saudações, nas cadeiras de honra dos banquetes e liturgias. A hipocrisia vinda da devoção ostentosa, baseada na quantidade e extensão dos pedidos oferecidos em espetáculo. A cobiça revelada numa falsa religiosidade e na despudorada exploração dos ingênuos e crédulos. Jesus acusa a deformação profissional dos que se utilizam da posição religiosa e social para se valorizarem. O discípulo de Jesus é o que não se dá importância, o que não tem status para defender, com unhas e dentes, e nem um “padrão de vida” que mais o angustia para manter do que o liberta. A única coisa que “agrega valor” à vida cristã é que ela está sempre a caminho. São as pessoas simples, de coração grande e generoso, o melhor que temos em nossas igrejas. São as que não têm nada, mas que doam tudo! Elas fazem o mundo mais humano, acreditam com todas as suas forças no Pai da misericórdia. São as que mantêm vivo o Espírito de Jesus e, finalmente, as que mais se parecem com Ele.


CONTEMPLAR


Dona Pilar, Canudos, Bahia, 2009, Araquém Alcântara (1951-), foto do livro “Sertão sem Fim”, Editora Terra Brasil, Brasil, 2009.