segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Caminho da Beleza 45 - XXVI Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 45
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXVI Domingo do Tempo Comum             29.09.2013
Am 6, 1.4-7             1 Tm 6, 11-16                      Lc 16, 19-31


ESCUTAR

“Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas de Samaria!” (Am 6, 1).

“Tu que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão” (1 Tm 6, 11).

“Há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós” (Lc 16, 26).


MEDITAR

“Comece fazendo o que é necessário, despois o que é possível e de repente estarás fazendo o impossível” (São Francisco de Assis).

“Somente quando não se poupam as mãos no serviço de amor e de misericórdia na disposição diária de ajudar, pode a boca anunciar com alegria e credibilidade a palavra do amor e da misericórdia de Deus” (Dietrich Bonhoeffer).


ORAR

Há um momento da vida que é preciso “acertar as contas” e na maioria das vezes o cenário é desagradável: uma existência fútil e inútil; uma ostentação descarada do luxo, um alarde das riquezas acumuladas por meios inconfessáveis. O profeta não poupa as palavras: a orgia dos dissolutos acabará de uma maneira trágica: “Eles irão agora para o desterro, na primeira fila, e o bando dos gozadores será desfeito”. Na parábola de Jesus, o rico não tem nome e nem o necessita, pois de todas as maneiras seria abusivo para qualquer um desde que a vida se torna vazia, fútil e se gasta unicamente em favor próprio. O mendigo não possui nada e nada recebe além da compaixão dos cachorros que vinham lamber as suas feridas. Mas, tem um nome importante – Lázaro – que significa Deus trouxe auxílio. A narrativa evangélica não pretende descrever o além-da-morte, nem nos informar sobre a decoração e a temperatura do inferno. Ela quer nos fazer entender a mudança radical das perspectivas no momento da morte, quando o teatro termina, as cortinas se fecham e as luzes se apagam. Em síntese, a parábola afirma que a Palavra de Deus Basta e sobra!!! Não há aparições, nem de mortos ou fantasmas, que podem substituí-la e nem sinais extraordinários que sejam mais convincentes. Os mais pobres exigem que façamos justiça às suas vidas e que transformemos as estruturas sociais e religiosas que os condenam à mendicância. Neles, o Cristo mendiga a cada instante e deste Cristo encarnado nos pobres não podemos nos envergonhar, pois o evangelho de Jesus revela que quanto menor é o irmão tanto maior é nele a presença do Cristo: “Aquele que recebe um destes pequeninos é a mim que recebe” (Mc 9, 37). Ironicamente, o evangelista mostra que Lázaro não teve um funeral e, no entanto, “os anjos levaram-no para junto de Abraão”. E o rico anônimo acostumado às pompas foi, simplesmente, enterrado. Devemos ter a lucidez que um lázaro qualquer de nossas vidas, o menor entre os menores, é e sempre será o que poderá interceder por nós diante Daquele que  vive e reina com o Pai na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos. Amém.


CONTEMPLAR

Lázaro e o rico, maestro de Westfália, século XV, Fundação Barnes, Merion, Pensilvania, Estados Unidos.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O Caminho da Beleza 44 - XXV Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 44
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXV Domingo do Tempo Comum               22.09.2013
Am 8, 4-7                1 Tm 2, 1-8              Lc 16, 1-13


ESCUTAR

“Nunca mais esquecerei o que eles fizeram” (Am 8, 7).

“Quero, portanto, que em todo lugar os homens façam a oração, erguendo mãos santas, sem ira e sem discussões” (1 Tm 2, 8).

“Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13).


MEDITAR

“A nossa vocação de comunidade levou-nos a viver exclusivamente do nosso próprio trabalho, não aceitando nem doações, nem heranças, nem presentes, absolutamente nada. A audácia de não garantir nenhum capital, sem temer a possível pobreza, dá uma força incalculável” (As fontes de Taizé).

"Sonhei que o papa enlouquecia. E ele mesmo ateava fogo ao Vaticano e à Basílica de São Pedro. Loucura sagrada, porque Deus atiçava o fogo que os bombeiros, em vão, tentavam extinguir. O papa, louco, saía pelas ruas de Roma, dizendo adeus aos embaixadores, credenciados junto a ele; e espalhando pelos pobres o dinheiro todo do Banco do Vaticano. Que vergonha para os cristãos! Para que um papa viva o Evangelho, temos que imaginá-lo em plena loucura” (Dom Hélder Câmara).


ORAR

A lição de hoje é de uma visibilidade inconfundível: não se pode misturar religião e injustiça; culto e fraude; glória de Deus e aviltamento do homem; louvor ao Pai e exploração do fraco. Deus esquece as nossas práticas religiosas ainda que as conciliemos com uma conduta desonesta, mas jamais esquece as práticas de trapaça enganosas: “Dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias”. Os que governam e não conduzem o povo a uma vida digna são maus administradores e “filhos das trevas”. São os que idolatram o dinheiro e acumulam riquezas injustas porque não partilhadas. Os “filhos da luz” devem testemunhar um mundo totalmente diferente, um mundo em que os valores sejam os da acolhida, os da amizade e os da partilha. O gerente fraudulento acaba agindo de uma maneira sensata e toma uma decisão imediata: fazer amigos como um investimento para o futuro, pois considerou as relações humanas mais importantes do que o dinheiro injusto acumulado pelo patrão. Só devemos servir a Deus e devemos servi-Lo com mais astúcia, audácia, espírito inventivo, sendo generosos com os bens que nos foram confiados e não mais avarentos. Tudo nos foi dado por Deus para todos. O Senhor sente repugnância pelo avarento, mas ama receber das pessoas generosas que servem a Deus ao servir os seus irmãos. Meditemos as palavras de São Basílio: “Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebestes? Ao faminto pertence o pão que guardas; ao homem nu, o manto que mantém guardado; ao descalço, os sapatos que estão estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondestes. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar”. Nossas igrejas e comunidades estão sempre em julgamento, pois dizer e não fazer é uma impostura e com ela continuaremos a “diminuir medidas, aumentar pesos, adulterar balanças, maltratar os humildes e causar a prostração dos pobres da terra”. O Papa Paulo VI advertia: “Um cristão não pode sentir-se tranquilo enquanto houver um homem que sofre; que é tratado injustamente; que não tem o necessário para viver”.

CONTEMPLAR

O administrador astuto, Turone di Maxio, fim do século XIV, Arquivo Capitular, corale MLX, f. 24v., Verona, Itália.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O Caminho da Beleza 43 - XXIV Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 43
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXIV Domingo do Tempo Comum             15.09.2013
Ex 32, 7-11. 13-14             1 Tm 1, 12-17                      Lc 15, 1-32


ESCUTAR

“Vejo que este é um povo de cabeça dura” (Ex 32, 9).

“Por isso encontrei misericórdia, para que em mim, como primeiro, Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza de seu coração” (1 Tm 1, 16).

“Haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15, 7).


MEDITAR

“Porque Deus não é assim como vocês o vêem, tomados de medo. Deus é totalmente diferente. Deus não quer a morte de vocês. Deus não quer ser o caçador de vocês. Deus não quer vingar as suas culpas. Todas as culpas, afinal, provêm de seu medo, do seu desamparo e desespero. Deus sabe disso” (Eugen Drewermann).

“Compaixão significa justiça (...). Compaixão é onde a paz e a justiça se beijam” (Mestre Eckhart).


ORAR

A palavra misericórdia significa ter o próprio coração (cor) próximo aos pobres (miseri). Nestes nossos tempos de egolatria, as palavras misericórdia e compaixão passaram da moda e soam aos ouvidos de muitos como palavras sentimentais. “A misericórdia é a revelação da transcendência de Deus além de todo o humano e além de tudo o que é humanamente calculável”, diz o Cardeal Walter Kaspers. Na sua misericórdia, Deus se revela como o totalmente Outro e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, como o totalmente próximo a nós. O evangelho desvela o verdadeiro rosto do Pai – um rosto materno – e sua incurável debilidade diante do filho “pecador” arrependido. O filho mais velho, ainda que não tivesse deixado a casa paterna, está distante da ternura do pai. Sua fidelidade é puramente formal; sua obediência está privada de alegria e de amor; seu coração é mesquinho e ele se recusa a abandonar seus esquemas rígidos. A verdadeira traição é a daquele que permanece sem dar o passo decisivo: ultrapassar a soleira da porta e penetrar no centro da casa onde está o coração do pai. Este coração, que recupera o filho por meio da nostalgia, do desejo, da espera vigilante e trepidante: “Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos”. Somos convidados a participar da festa final, caso contrário, faremos como o filho mais velho que com o seu coração ressequido interrompe a festa, os bailes, a música e o banquete. Como um diligente executor de ordens, não suporta a alegria e azeda a vida de todos os que estão disponíveis para a alegria e a ternura. Ele desafina a partitura paterna da sinfonia da misericórdia com uma nota que tem o poder de estragar a sua harmonia e suspender a sua execução. A música só voltará a tocar se ele, o distante, passar pela soleira da porta e entrar na festa. Será que terá esta magnanimidade?  

CONTEMPLAR

Retorno do Filho Pródigo, Pompeo Batoni, 1773, óleo sobre tela, 138 x 100,5 cm, Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria.