sábado, 29 de dezembro de 2012

Mensagem de Ano Novo




Percebi que estar com os que amo é o suficiente,

Descansar na companhia dos demais, à noitinha, é o suficiente,

Estar cercado por pessoas lindas, curiosas, arejadas, sorridentes é o que basta,

Passar por entre elas ou tocar qualquer um deles, ou descansar meu braço sempre tão leve em torno do pescoço dele ou dela, por um momento, o que é isso então?

Não peço nada mais delicioso do que isso, nado nessa experiência como se fosse um oceano.

Há algo especial em estar próximo de homens e mulheres, observando-os, em contato com eles e com seu perfume, e é isso que dá tanto prazer à alma,

Todas as coisas dão prazer à alma, mas com esses prazeres a alma de fato se sente bem.


(WALT WHITMAN, Folhas de Relva)

Foto de A. Crickmay, 1977, London Contemporary Dance Theatre, Theatre de La Ville (Sarah Bernhardt), Paris, França.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Caminho da Beleza 06 - Sagrada Família


O Caminho da Beleza 06
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Sagrada Família             30.12.2012
Eclo 3, 3-7.14-17              Cl 3, 12-21               Lc 2, 41-52


 ESCUTAR

“Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe” (Eclo 3, 7).


“Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro” (Cl 3, 12-13).

“Jesus respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai’. Eles, porém, não compreenderam as palavras que lhes dissera” (Lc 2, 49).


MEDITAR

“Sim, tu me deste muito. Mas eu te peço muito mais. Não venho a ti só por um gole d’água. Quero a fonte. Não venho para que me levem apenas até a porta. Quero ir até a sala do Senhor. Não venho apenas para receber o dom do amor. Desejo o próprio Amante” (R. Tagore).

“Deus diz: ‘Eu sou a bondade soberana de todas as coisas. Eu sou o que faz você amar. Eu sou o que faz você durar e desejar. Eu sou isto – o cumprimento sem fim de todos os desejos’” (Julian de Norwich).


ORAR


Na tradição do Antigo Testamento a família era constituída para procriação e repousava sobre uma estrutura patriarcal de parentesco cujo principal cuidado era a perpetuação de uma linhagem. A família de Jesus é uma reviravolta nesta tradição. Maria, como rezava a tradição, havia sido “prometida a um homem chamado José, da família de Davi” (Lc 1, 27), mas o Arcanjo Gabriel lhe anuncia algo absolutamente revolucionário: a nova família será constituída a partir de afinidades eletivas e escolhas amorosas. José, em sonho, ouviu a palavra do anjo e a respondeu acolhendo a jovem e a criança que ela carregava no ventre, ainda que não fosse o autor desta gravidez e nem o genitor deste filho. José confia e se coloca disponível: "José não tenhas medo de acolher Maria como tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo”. Uma mulher plena do Espírito de Deus não pode e nunca poderá ser submissa. Maria, em vigília, ouve a palavra do anjo e, apesar de temerosa e perturbada confia e se coloca à disposição do desígnio de Deus. Ouvir a palavra, responder com um sim incondicional e estar absolutamente disponível são os novos pilares desta nova estrutura familiar na qual o amor recíproco e o crer sustentam a comunidade cristã e cada família nas suas plurais formas de existir. José e Maria ensinam – ele em estado de sono e ela em estado vigília – que devemos estar sempre, consciente ou inconscientemente, disponíveis para escutar e acolher a palavra de Deus. Não podemos nos confundir: existe um abismo entre sermos pais e genitores. Um homem e uma mulher precisam de alguns segundos para se tornar genitores e são estes que vêm seus filhos como propriedade particular, preocupados em fazer crescer o patrimônio familiar e em continuar o sobrenome da família. Na família de Deus, gerada a partir de Maria, José e Jesus, ser pai, mãe e filho é uma aventura de outra natureza. É uma escolha amorosa, uma afinidade eletiva e um compromisso de entrega para educar e conduzir os seus filhos e filhas para opções de liberdade que poderão gerar mais vida e mais desejos. Para a mentalidade retrógada dos que se reduziram à família nuclear burguesa tudo escandaliza nesta Santa Família. A família de Deus se concretiza de uma forma extraordinária aos padrões convencionais sacralizados: José, um homem sem mulher; Maria, uma virgem sem esposo e Jesus, uma criança sem pai. Deus revela, para todo o sempre, que o mais importante é a adoção pelo coração, o centro da vida. A revelação perturbadora é a de que só existem pais adotivos que superam a sua condição de genitores biológicos quando há a atitude radical da disponibilidade de dar a sua vida pelos que amam. Esta, segundo Jesus, é a maior prova de amor. Cada filho é portador de um mistério. Existe nele uma vocação pessoal, única, que nunca se repete e que jamais poderá ser sacrificada aos nossos projetos egoístas, às nossas ambições utilitaristas. Cada componente da família representa uma realidade consagrada que deve ser respeitada e valorizada. Nenhuma postura arbitrária contrária à dignidade e à liberdade deve profanar essa sacralidade que é própria da pessoa. A Sagrada Família nos ensina que devemos viver e preparar os nossos filhos para a imprevisibilidade de Deus. Somente o exercício da oração e do silêncio poderá trazer, como trouxe aos pais de Jesus, a inteligência da carne, do coração e do espírito. E, neste silêncio, poderemos descobrir, como afirma Paulo, que “somos cidadãos do céu” (Fl 3, 20). A família de Deus é cósmica e nela se cumpre a Sua promessa: “Eis que farei novas todas as coisas e renovarei o universo!” (Ap 21, 5).



CONTEMPLAR

A Santa Família, ícone com base na pintura a óleo de Francisco Argüello, s. d., 25 x 30 cm, Ícones do Atelier Notre-Dame, Paris, França.






sábado, 22 de dezembro de 2012

O Caminho da Beleza 05 - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo


O Caminho da Beleza 05
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo                       25.12.2012
Is 52, 7-10               Hb 1, 1-6                  Jo 1, 1-18

ESCUTAR

“Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação, e diz a Sião: ‘Reina teu Deus!’” (Is 52, 7).

“Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo. Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser” ( Hb 1, 1-3).

“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).


MEDITAR

“Natal, não é somente uma alegria que nasce da terra. É a revelação da bondade infinita de Deus, o sinal de um destino misterioso que toca o mundo e os homens. É um pensamento do amor infinito que abre o céu fechado do mistério impenetrável da vida íntima do Deus desconhecido e o comunicou a terra” (Paulo VI).

“O Cristo nos faz uma única exigência: nunca limitar nada!” (Maurice Zundel).


ORAR


Neste dia de Natal, comemoramos e damos graças porque Deus pronunciou a sua última palavra e este Menino na manjedoura é “a expressão do seu ser (...) o que faz dos ventos os seus anjos e das chamas de fogo os seus ministros” (Hb 1, 3.7). O Cristo nasceu para todos e o Natal é o dia em que o mistério sagrado se tornou santo e especial. Não é somente um dia a mais na fastidiosa ronda dos dias. Hoje, “a eternidade entra no tempo e o tempo, santificado, entra na eternidade” (Thomas Merton). Natal se tornou uma palavra mágica e todos são atingidos por ela: os bons cristãos e os de Boa Vontade procuram nela o seu gosto especial. É uma festa que a todos pertence, cristãos ou não. É a festa em que nos permitimos uma trégua, sobretudo no ciclo vicioso das nossas amarguras, dos nossos rancores, dos nossos maus silêncios e até dos nossos ódios. Muitas vezes, pode ser o momento de graça e de paz em que muitas pessoas se reconciliam. Anunciamos a Boa Nova de que o Deus que estava distante se tornou próximo neste recém-nascido, filho de Maria e de José. E nesta realidade tocamos o coração do cristianismo. Podemos ser vagamente deístas, mas só começamos a ser cristãos quando reconhecemos neste menino nascido de uma mulher, o próprio Filho de Deus. Este mistério da Encarnação nos ultrapassa completamente e só podemos acolhê-lo na pura fé. É muito belo para ser verdade porque, diante do Deus-Menino da manjedoura, é preciso que reencontremos a ingenuidade e a maravilha desta Criança. O Natal é uma Boa Nova porque não estamos mais sós, não estamos mais condenados a um destino cego subordinado a uma eterna repetição da usura, do aleatório e da morte. A novidade da mensagem de Jesus não é a de ter anunciado a ressurreição dos mortos: os judeus já acreditavam nela; nem ter prometido a vinda do Filho do Homem no último dia: os judeus já esperavam esta vinda. A novidade da mensagem de Jesus é ter manifestado para toda a humanidade o nascimento de um novo Deus. Não mais um Deus distante, mas próximo; não um deus do cosmos, mas um Deus dos vivos e dos mortos; não um Deus justiceiro e violento, mas um Deus do amor e da paz que toma o partido dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados e dos pecadores. A mensagem de Natal é a mensagem de Paz para todos os homens e, por isso, devemos ser mensageiros da Paz para nossos irmãos e irmãs de todos os cantos da Terra e de todas as religiões. E o Reino de Deus que vem a cada novo Natal, é um Reino que acontece e se realiza cada vez que o amor triunfa sobre o ódio; cada vez que a reconciliação coloca um fim na engrenagem da violência e da banalização da vida e, sobretudo, cada vez que o desejo da paz é mais forte que a fatalidade da guerra. Neste Natal, Emmanuel volta a caminhar, para sempre, até nós como faz há 2013 anos. Nada, até fim do mundo, O impedirá de vir e permanecer junto de nós. Meditemos as palavras de Johannes Tauler, místico do século XIV: “É no meio do silêncio, no momento em que todas as coisas estão mergulhadas no maior silêncio, em que reina o verdadeiro silêncio, é então que se ouve em verdade essa Palavra, pois se queremos que Deus nos fale é preciso que nos calemos. Para que Ele entre, todas as coisas devem sair”. Amém!

CONTEMPLAR


Adoramos-te (detalhe), Jean-Marie Pirot (Arcabas), 1985, Église de Saint-Hugues-de-Chartreuse, Isère, França.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Natal de 2012




“Deus pede nosso amor, por isto se faz criança. Não quer de nós mais do que nosso amor, por meio do qual aprendemos espontaneamente a entrar em seus sentimentos, em seu pensamento e em sua vontade: aprendamos a viver com ele e a praticar também com ele a humildade da renúncia que é parte essencial do amor” (Bento XVI).


Que nossas vidas sejam testemunhas de uma encarnação até as últimas consequências para que a verdade do amor seja vingada como na Profecia Extrema de Dom Pedro Casaldáliga:


“Eu morrerei de pé como as árvores.

Me matarão de pé.

O sol, como testemunha maior, colocará seu lacre

Sobre meu corpo duplamente ungido.

E os rios e o mar

Serão caminho

De todos os meus desejos,

Enquanto a selva amada sacudirá, de júbilo, suas cúpulas.

Eu direi às minhas palavras:

- Não mentia ao gritar-vos.

Deus dirá aos meus amigos:

- Certifico que viveu com vocês esperando este dia.

De golpe, com a morte,

Minha vida se fará verdade.

Por fim terei amado!”

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Caminho da Beleza 04 - IV Domingo do Advento


O Caminho da Beleza 04
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


IV Domingo do Advento           23.12.2012
Mq 5, 1-4                 Hb 10, 5-10            Lc 1, 39-45

ESCUTAR

“Ele não recuará, apascentará com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor seu Deus: os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até aos confins da terra, e ele mesmo será a Paz” (Mq 5, 3-4).

“Eu vim para fazer a tua vontade” (Hb 10, 9).

“Bendita é tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1, 42)


MEDITAR

“Sem o amor, tão difícil de praticar, a vida se reduz a um combate incessante para possuir e se defender dos outros” (Anthony Burgess).

“O grande inimigo, o inimigo número um do mundo moderno, é o tédio” (Teilhard de Chardin).


ORAR

            A pequena aldeia de Belém significava pouco entre as cidades da Judéia e, no entanto, Deus colocou seu olhar precisamente neste lugar insignificante para nele realizar um acontecimento decisivo. As escolhas de Deus jamais estão determinadas por critérios de grandeza e de importância mundanas. A pequenez constitui o terreno fértil em que germina e se desenvolve a obra divina. As coisas sem importância chamam a atenção do Senhor. O evangelista nos apresenta o encontro de Maria e Isabel. Maria é apresentada numa postura dinâmica: de caminhar, de encontrar e de louvar a Deus. Ela simboliza uma Igreja que jamais poderá ser fixada numa imagem estática. A Igreja deve estar em marcha pelos caminhos dos homens para levar Alguém e não deve falar de si mesma, mas do Outro. O Cristo começou a ser itinerante desde o ventre materno e graças aos passos de sua mãe caminha pelas veredas do mundo. No encontro entre Isabel, anciã estéril, e Maria, jovem virgem, existirá um pacto das entranhas que nos revela que “nada é impossível para Deus” (Lc 1, 37). A visitação se liga intimamente à anunciação. A visitação é a epifania, a manifestação do sinal anunciado de que se acabara o tempo das preparações e das esperas, de que se cumprira a promessa e de que o Senhor visitará o seu povo. A visitação é o abraço amoroso, o encontro e o cumprimento pleno de duas histórias: a de Isabel que se completa e a de Maria que se inicia. O pacto de Deus está vingado em Jesus, pois as entranhas da sua mãe são a Arca da Aliança, tecendo o Salvador, agora e sempre, para todos os habitantes da Terra. O que do ponto de vista humano é limitação, impedimento, se converte em possibilidade quando intervém Deus, Senhor do Impossível. Neste encontro se realiza o que o anjo anunciara a Zacarias a respeito de João: “Ficará cheio do Espírito Santo desde o seio de sua mãe” (Lc 1, 15). No encontro destas duas  mulheres grávidas a profecia é vingada, João dança de alegria no ventre de Isabel e Maria será chamada de Bem-Aventurada porque acreditou que a Palavra do Senhor seria cumprida. Maria não é uma mulher que sabe, mas uma mulher que crê. O Natal, no fundo, é um Deus que mantém a palavra e busca gente disponível, como Maria, que se agarre a esta Palavra. No Natal, Deus diz: “Aqui estou!” e seria estranho que o homem não se deixasse encontrar. E, finalmente, Maria “recebendo aos pés da cruz o testamento do amor divino assumiu todos os seres humanos, como filhos e filhas, renascidos para a vida eterna, pela morte do Cristo” (Prefácio de Nossa Senhora).


CONTEMPLAR


Visitação, Rogier van der Weyden, c. 1445, óleo sobre carvalho, 36 x 57 cm, Museum der Bildenden Kunste, Leipzig, Alemanha.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Caminho da Beleza 03 - III Domingo do Advento


O Caminho da Beleza 03
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


III Domingo do Advento                16.12.2012
Sf 3, 14-18               Fl 4, 4-7              Lc 3, 10-18


ESCUTAR

“Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém!”(Sf 3, 14).

“Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo!” (Fl 4, 4).

“Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3, 16).


MEDITAR

“Saiba que o que vos dá o direito de pedir aos outros só é adquirido de uma maneira: dando-vos, primeiramente, aos outros” (Cardeal Lustiger).

“Não é preciso mostrar as faltas do outro com o dedo sujo” (Provérbio italiano).


ORAR

            A dinâmica da vida cristã se realiza na resposta a uma tríplice vocação: a da esperança, a da conversão do olhar e a da alegria. Temos uma vocação à alegria ainda que tentem nos incutir que a felicidade está proibida e que devemos suportar, nesta terra, um “vale de lágrimas”. A alegria da comunidade eclesial é a melhor prova da existência de Deus, ou pelo menos, uma suspeita desta existência. O cristão deve aprender a praticar a ascese da felicidade, a penitência do sorriso e o cilício da serenidade. Esta alegria é conquistada quando saímos de nós mesmos, do nosso egoísmo e nos abrimos a Deus para acolher os seus desígnios em nossa vida. E esta acolhida não implica numa dimensão intimista, mas numa abertura ao mundo inteiro. Quando o “valente guerreiro que te salva” (Sf 3, 17) está no meio de nós, podemos começar do zero e inventar outra história: dizer sim a Deus e ao próximo. João, o Batista, revela que o sinal da descoberta da presença do próximo está na nossa capacidade de partilhar: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!”. A regra de ouro dos sinais do Reino está na justiça e não na extorsão; na recusa da violência, da mentira e da busca insana do proveito próprio com o prejuízo dos outros. João proclama a conversão como descoberta do próximo e esta descoberta como elemento essencial da nossa alegria. O Cristo reitera que só sendo um ser-em-comunhão é que poderemos atingir a felicidade. A alegria cristã é marcada pela afabilidade, esta capacidade de não fazer dramas por ninharias; de aniquilar toda a ansiedade e inquietude e de exorcizar toda a angústia: “Não vos preocupeis!”. A alegria é a nossa capacidade de dar graças e para o cristão, ser significa ser na alegria. O papa Bento XVI nos exorta: “A verdade da paz chama a todos a cultivarem relações fecundas e sinceras, estimula a procurarem e a percorrerem os caminhos do perdão e da reconciliação, a serem transparentes nas conversações e fiéis à palavra dada”. Temos que ser sinais de alegria neste mundo necessitado de tréguas e de repouso; neste mundo em desânimo e depressivo onde o acumular é a chave mestra do viver e os caminhos se tornaram tortuosos pela cobiça e pela ambição. Este Menino é a luz do mundo e temos que resplandecer esta luz para que não seja apagada pelo vento do orgulho e da soberba. É a humildade profética que nos liberta para o anúncio de Cristo a todos os povos e nações: “Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias”. O papa Bento XVI nos chama a uma comunhão de serviço: “Nós temos imperativamente a necessidade de um diálogo autêntico entre as religiões e entre as culturas, capaz de nos ajudar a superar juntos todas as tensões, num espírito de frutuosa colaboração”. A manjedoura desvela que a casa do Senhor é o lugar dos abraços, da partilha e da comunhão. É o lugar onde todos, sem discriminação, podem e devem saciar-se da ternura do Pai. E nela somos convidados a entrar em todas as horas do dia e todos os dias do ano: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos”. Neste mundo virtual em que estamos mergulhados e onde os símbolos da vida real são banalizados não podemos perder a nossa sensibilidade, pois se isto acontecer, ao chegar ao jardim prometido e ainda amortecidos pela beleza e pelo perfume das flores, poderemos exclamar: “Como são lindas e perfeitas, parecem com as da tela de um computador”.


CONTEMPLAR

Madona com a criança – Apresentação aos magos do Oriente, Arcabas (Jean-Marie Pirot), s.d., 80 x 80 cm, óleo sobre tela, coleção particular, Costa de Santo André, França.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Caminho da Beleza 02 - II Domingo do Advento


O Caminho da Beleza 02
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


II Domingo d0 Advento                       09.12.2012
Br 5, 1-9                   Fl 1, 4-6.8-11               Lc 3, 1-6


 ESCUTAR

“Levanta-te, Jerusalém, põe-te no alto e olha para o Oriente! Vê teus filhos reunidos pela voz do Santo, desde o poente até o levante, jubilosos por Deus ter-se lembrado deles” (Br 5, 5).

“E isto eu peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, para discernirdes o que é melhor. E assim ficareis puros e sem defeito para o dia de Cristo, cheios do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cristo, para a glória e o louvor de Deus” (Fl 1,9-10).

“Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’!” (Lc 3, 4).


MEDITAR

“O importante não é fazer muitas coisas nem fazer tudo. O que importa é estarmos prontos em todo momento. O importante é estarmos convencidos de que quando servimos os pobres, servimos realmente a Deus” (Madre Teresa de Calcutá).

“O povo santo de Deus participa da função profética de Cristo. Dá o testemunho vivo de Cristo, especialmente pela vida de fé e de amor e oferece a Deus a hóstia de louvor como fruto dos lábios que exaltam o seu nome” (Lumen Gentium 12).


ORAR

            O Advento está dominado pelo sentido da espera e pelo dever da esperança. O profeta exorta a que nos despojemos das “vestes de luto e da aflição” para que possamos “revestir para sempre os adornos da glória vinda de Deus”. Ele conclama a nos “cobrirmos com o manto da justiça que vem de Deus e a pôr “na cabeça o diadema da glória do Eterno”. Os que foram arrastados para o exílio da Babilônia voltarão “conduzidos com honras, como príncipes reais”. O profeta é aquele que consegue ver de outra maneira e anima os outros a ver o que ainda não existe. Adivinha a luz na escuridão absoluta; intui a reconstrução no caos da devastação; vislumbra uma presença na solidão espantosa do deserto e faz explodir a alegria no olho do furacão. Olhar de outra maneira representa o maior desafio a uma situação intolerável. O profeta é o homem da esperança. O evangelista apresenta sua narrativa salpicada de nomes famosos do império romano e de autoridades religiosas. No entanto, tudo isto só serve para nos aproximar do profeta João, o Batista que prega no deserto. Quando Deus intervém na história dos homens, sua palavra está nos lábios de um personagem não oficial. Um tipo considerado “fora de si” pelas autoridades constituídas. Paradoxalmente, somos chamados a “ver” a palavra de Deus “dirigida” a João e que desce às profundidades de cada um de nós, pois, com certeza “todas as pessoas verão a salvação de Deus”. Esta salvação é uma Palavra que além de ser “escutada” deve ser “vista”, reconhecida e acolhida no meio de nós. Esta Palavra, com frequência, desponta onde menos esperamos e se apresenta, muitas vezes, quando não queremos. A Palavra de Deus “desce” no meio de nós para falar e busca o silêncio. Um silêncio conquistado pelo despojamento das autossuficiências e das falsas seguranças para que a acolhida seja total. Paulo nos convida a discernir e escolher o essencial, sem deixar que as discussões intermináveis e fúteis nos seduzam. O essencial é o amor fraterno. Este amor que não sufoca as diferenças e que nos torna mais humanos, pois só o amor representa a verdade última diante da qual as “outras verdades” são sempre penúltimas. A Palavra de Deus não está escondida e encerrada num texto com sinais arqueológicos a serem decifrados; nem a palavra escrita deve permanecer como um repertório de argumentos para uso dos doutores e muito menos como preceitos para uso dos moralistas. A Palavra se encarna para curar nossos olhos, para eliminar nossa cegueira e purificar o nosso olhar de tudo o que nos torna estreitos e míopes de visão. Não podemos ser, como cristãos, homens e mulheres que pensam que para ver basta manter os olhos abertos. Sabemos que para ver é preciso que o Cristo acenda dentro de nós uma faísca da sua luz. A esperança que deve nos consumir e que devemos proclamar é esta: “das espadas forjarão arados; fundirão lanças para delas fazer foices. Nenhuma nação pegará em armas contra outra e nunca mais se treinarão para a guerra”(Is 2, 4). Sejamos nós a cada dia e todo o dia os profetas peregrinos entre o tempo e a eternidade.


CONTEMPLAR

Virgem, o menino Jesus e São João, o Batista, William Bouguereau, 1875, óleo sobre tela, 122 x 200,5 cm, Coleção Particular, França.