terça-feira, 30 de agosto de 2016

O Caminho da Beleza 42 - XXIII Domingo do Tempo Comum

XXIII Domingo do Tempo Comum                        04.09.2016
Sb 9, 13-18         Fm 9-10.12-17             Lc 14, 25-33                        
                                             

ESCUTAR

“Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Ou quem pode imaginar o desígnio do Senhor” (Sb 9, 13).

“Assim, se estás em comunhão de fé comigo, recebe-o como se fosse a mim mesmo” (Fm 9,17).

“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27).


MEDITAR

Recordemos bem todos nós: não se pode anunciar o Evangelho de Jesus sem o testemunho concreto da vida. Quem nos ouve e vê, deve poder ler nas nossas ações aquilo que ouve da nossa boca, e dar glória a Deus!... A incoerência dos fiéis e dos pastores entre aquilo que dizem e o que fazem, entre a palavra e a maneira de viver mina a credibilidade da Igreja (Francisco, A Igreja da Misericórdia).


ORAR

O que vem a ser a sabedoria cristã? No mundo de hoje, como sempre, é alarmante a quantidade de pessoas que alardeiam, com uma segurança assombrosa, conhecer a vontade de Deus. Sobretudo, quando se trata de impor a sua própria vontade. Para estes, Deus quer o que eles pensam. Jesus nos propõe uma revisão total na escala de valores: a prioridade do ser sobre o ter; a disponibilidade para mergulhar na lógica louca do amor e da doação; o abandono dos cálculos egoístas para administrar, com prudência, a própria vida. A decisão fundamental de seguir a Cristo exclui os tons de cinza, as cômodas desculpas e as veleidades. Paulo nos revela que a única escolha equivocada é a neutralidade, o único compromisso imperdoável é o de não se comprometer e a única posição intolerável é a indiferença. A forma mais plena da sabedoria cristã é sermos padecidos de fraternidade. Jesus nos chama ao realismo e inútil seria querer responder aos desafios de hoje com as estratégias de ontem. Jesus nos chama para ser fermento no meio do povo e sal para colocar novo sabor na vida das pessoas. Sabedoria não é erudição, mas um conhecimento que envolve experiência e amor. Sabedoria vem do latim sapere/saborear, ter sabor de...Um saber orientado para a ação que exige escolhas concretas de vida. O cristianismo de massa a que chegamos e a igreja do espetáculo não conhecem o risco do comprometimento porque ao servirem a dois senhores o seu sal se tornou insípido.


CONTEMPLAR

Madre Teresa embalando um bebê órfão sem braços no seu orfanato em Calcutá, Índia, 1978, Eddie Adams (1933-2004), Nova Iorque, Estados Unidos.










segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O Caminho da Beleza 41 - XXII Domingo do Tempo Comum

XXII Domingo do Tempo Comum              28.08.2016
Eclo 3, 19-21.30-31         Hb 12, 18-19.22-24          Lc 14, 1.7-14


ESCUTAR

É aos humildes que ele revela seus mistérios (Eclo 3, 20).

Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste (Hb 12, 22).

“Porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado” (Lc 14,11).


MEDITAR

Na casa dos pobres, Deus encontra sempre lugar (Francisco, Jornada Mundial da Juventude, Rio de Janeiro, 2013).


ORAR

No banquete do Reino não sentarão os que praticam o carreirismo mais desenfreado, a vaidade mais descarada e a ostentação mais vergonhosa. Muito menos os que buscam as posições de privilégio e os que ostentam suas torpes autopromoções. No banquete do Reino será considerada a pequenez e a humildade valerá como a titulação mais acreditada. As precedências serão invertidas e sentarão à mesa os que nada têm para dar em troca, os pobretões que não nos garantem nenhuma promoção social. Temos que nos acostumar a oferecer sem nada esperar e sem nada conceder aos interesses e vaidades. A hospitalidade oferecida aos segregados e proscritos constitui uma garantia para não sermos excluídos do Reino. Jesus apresenta duas dimensões que confrontaram os costumes religiosos de sua época: a humildade e a gratuidade do amor. A humildade cristã não é nos desprezar a nós mesmos e nem nos diminuir diante dos outros, pois isto pode ser uma forma de orgulho. A soberba e o orgulho são os maiores obstáculos para o amor. Jesus nos faz conhecer a chave de todo o seu discurso: “Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. Haverá uma recompensa divina de uma qualidade completamente diferente do que esperamos. A experiência cristã é, antes de tudo, compartilhar o amor que vem de Deus e que cumula de alegria e ternura o nosso coração. Jesus conhece a deplorável tendência de nos colocarmos acima de todos por querer simplesmente aparecer poderosos aos olhos dos outros. Jesus revela o sentimento louco de Deus que, no banquete do Reino, reserva os melhores lugares para os pobres e para os últimos: “Há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão os últimos” (Lc 13, 30).


CONTEMPLAR

Cordeiro recém-nascido se aconchega com menino dormindo, 1940, Inglaterra, Foto de Williams/Fox, Getty Images.









segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Caminho da Beleza 40 - Assunção de Nossa Senhora

Assunção de Nossa Senhora             21.08.2016
Ap 11, 19; 12,1-3-6.10                 1 Cor 15, 20-17                  Lc 1, 39-56


ESCUTAR

“Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas” (Ap 12, 1).

“O último inimigo a ser destruído é a morte” (1 Cor 15, 26).

“Bem-aventurada aquele que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1, 45).


MEDITAR

Tu és toda bela, ó Maria! Em ti se encontra a joia perfeita da vida bem-aventurada com Deus. Faça com que não percamos o sentido de nosso caminho sobre a terra: que a doce luz da fé ilumine nossos dias, que a força consoladora da esperança oriente nossos passos, que o calor contagioso do amor anime nosso coração (Francisco, Ato de veneração a Virgem, Roma, oito de dezembro de 2013).


ORAR

As distorções e deformações das devoções à Virgem têm repercutido negativamente na vida das igrejas e acabam por falsear sua imagem mais autêntica. O Concílio Ecumênico é enfático: “Exortam-se os teólogos e pregadores a evitar os excessos, bem assim como uma demasiada estreiteza mental ao considerar a especial dignidade da mãe de Deus [...] Lembrem-se de que a verdadeira devoção dos fiéis não pode ser confundida com um sentimento estéril e passageiro, nem com outra credulidade” (Lumen Gentium). O pecado imperdoável é o da profanação da beleza e a beleza se enxovalha pela falta de pudor, pelo abandono da justa medida que denuncia um vazio da fé. O Evangelho nos apresenta Maria como uma criatura do silêncio. A mãe desaparece totalmente no Filho, pois é o Verbo que deve falar e não ela. Maria escolhe a não visibilidade. No evangelho, os traços de Maria não são chamativos e seus contornos se esfumam na ilimitada transparência do silêncio. O Mistério encontrou sua morada na pequenez, na profundidade de uma mulher que tem predileção pela penumbra. Maria, “uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas” é plena da luz do Cristo transfigurado. A luz que brilha em Maria é a que brilha em toda a Igreja e em todo universo recapitulado em Cristo. No entanto, o mundo está hipnotizado por estranhas e terríveis luzes que iludem e dividem as pessoas, isolando-as numa alienação permanente. A primeira criatura a entrar, de corpo e alma, no espaço e no tempo do Criador, só poderia ser aquela que consentiu que o divino atravessasse o humano. A Virgem Mãe se torna o germe e as primícias de uma Criação transfigurada. A humilde mulher de Nazaré é, para nós, a garantia e o penhor, pois ela se torna, pelo dom de Deus, Mãe do Senhor, terra do céu: uma terra remida, crística e transfigurada graças à força do Espírito Santo. Uma terra doravante em Deus, para sempre, e antecipação do nosso destino comum. Maria é a própria carne da terra que, transfigurada, se torna eucaristia, ação de graças, abraçada com o Céu. Guardemos em nossos corações a invocação de São Bernardo: “Diz-se que é bendito o homem, é bendito o pão, é bendita a mulher, é bendita a terra e as outras criaturas que pareçam dignas de serem benditas; mas de modo especial é bendito o fruto do teu ventre, porque sobre todas as coisas ele é Deus bendito por todos os séculos. Portanto, bendito é o fruto do teu ventre. Bendito por seu perfume, bendito por seu sabor, bendito por sua beleza” (Sermão para a festa de Nossa Senhora).


CONTEMPLAR

S. Título, s. data, Oli Mcavoy, natural da Grã-Bretanha, residente em Nova Yorque, Estados Unidos.



terça-feira, 9 de agosto de 2016

O Caminho da Beleza 39 - XX Domingo do Tempo Comum

XX Domingo do Tempo Comum                  14.08.2016
Jr 38, 4-6.8-10                 Hb 12, 1-4               Lc 12, 49-53


ESCUTAR

“Pedimos que seja morto este homem; ele anda com habilidade lançando o desânimo entre os combatentes que restaram na cidade e sobre todo o povo” (Jr 38, 4).

Irmãos, rodeados como estamos por tamanha multidão de testemunhas, deixemos de lado o que nos pesa e o pecado que nos envolve (Hb 12, 1).

“Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12, 49).


MEDITAR

Mas não podemos fazer um cristianismo um pouco mais humano – dizem – sem cruz, sem Jesus, sem despojamento? Dessa forma nos tornaríamos cristãos de pastelaria, como lindos bolos, como boas coisas doces! Muito lindos, mas não cristãos verdadeiros! (Francisco, A Igreja da Misercórdia).


ORAR

A palavra profética quando não assegura bem-estar e incomoda os poderes é considerada subversiva e deve ser calada por todos os meios. O profeta é martirizado de um modo nada heroico: enfiado numa cisterna de lama fétida para ir afundando lentamente. A semente da Palavra estava para morrer se o rei não escutasse o conselheiro honesto e retirasse o profeta da fossa. O salmista canta: “De estercore elevat pauperum” (Sl 113, 7), pois o pobre liberto é a mais perfeita profecia de Deus. A Palavra desprezada, escarnecida, pisoteada emerge novamente para abalar as consciências amortecidas. Se na cisterna a palavra é condenada a morrer de um modo ignominioso, é no fogo que ela é difundida. O homem da palavra deve abrigar o fogo em si mesmo, pois os inimigos poderão transformar em cinzas todos os livros sagrados, mas jamais apagarão o fogo da palavra atiçado no coração dos homens. Se a vida é fogo, aquele que anuncia a palavra é um apaixonado devorado por um fogo incontido. A causa do Evangelho não necessita de intelectuais pálidos de clergyman, nem burocratas cinzas e pregadores inofensivos. Uma palavra sem unção e nem vibração interior é uma palavra traída assim como uma verdade sepultada nas cinzas da rigidez é uma verdade ofendida. O Evangelho se difunde pelo contágio do fogo interior que não pode ser confundido com o calor dos spots dos shows televisivos. Jesus veio trazer uma fé que deve ser convertida em incêndio. Ser apaixonado significa padecer. O lenho da Cruz serve para queimar e não se deixar apagar. O cristianismo deve penetrar na injustiça do mundo e desvelar os que aceitam e os que não aceitam as consequências do amor. O conflito não nasce do Evangelho, mas da dureza do coração dos que o ouvem. Quem está próximo de Jesus está próximo do fogo. O Concílio nos exorta a perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho para sermos capazes de oferecer repostas às grandes questões humanas a respeito do sentido da vida presente e futura. É preciso conhecer e compreender o mundo em que se vive, sua índole, muitas vezes dramática, suas expectativas e seus desejos (Gaudium et Spes 4).


CONTEMPLAR

Martin Luther King cumprimentado em seu retorno aos Estados Unidos após receber o Prêmio Nobel da Paz, Baltimore, Maryland, 31 de outubro de 1964, Leonard Freed (1929-2006), Magnum Photos, New York, Estados Unidos.









segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O Caminho da Beleza 38 - XIX Domingo do Tempo Comum

XIX Domingo do Tempo Comum                07.08.2016
Sb 18, 6-9                Hb 11, 1-2.8-19                  Lc 22, 32-48


ESCUTAR

A noite da libertação fora predita a nossos pais para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se conservassem intrépidos (Sb 18, 6).

“A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11, 1).

“Porque, onde está vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12, 34).


MEDITAR

A fé é um bem para todos, um bem comum: a sua luz não ilumina apenas o âmbito da Igreja nem serve somente para construir uma cidade eterna no além, mas ajuda também a construir as nossas sociedades de modo que caminhem para um futuro de esperança (Francisco, Lumen Fidei).


ORAR

O evangelista exorta o pequenino rebanho a não ter medo porque a sua debilidade, no plano humano, está compensada pela proteção do Pai que sempre estimula olhar mais adiante. Para tanto, é necessário não se apegar às riquezas, eleger o essencial e saber discernir quais as coisas cuja validez não caduca. Os bens inesgotáveis aos quais devemos apegar o nosso coração, como um tesouro, são os do amor que se dá e não os da posse egoísta. Uma fidelidade constante e uma sensatez devem nos orientar para que interpretemos as mudanças e sejamos capazes de dar respostas novas aos problemas e exigências desafiadores. Tendemos ao eterno, mas nem por isso somos autorizados a passar por cima do hoje. Uma abertura ao futuro não se expressa com a enfadonha reedição do passado, pois preservar a memória não é reproduzir as mesmas coisas. Jesus condena o estilo de vida sonolento, distraído, sem brilho e repetitivo. Somos convidados a um compromisso inteligente, a um serviço diligente e a uma abertura ao imprevisível. O Senhor nos deu em abundância para sermos ousados, termos coragem e não para congelarmos no medo. A fé não se encontra segura nas igrejas, nem nos livros, mas nas várias tendas da travessia. Não somos depositários de doutrinas que sempre nos dividem, mas proclamadores das promessas de Deus.


CONTEMPLAR

Santa Claus consultando mapa no metrô, Nova Yorque, 1990, Erich Hartmann (1922-1999), Magnum Photos, Munique, Alemanha.