segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Caminho da Beleza 27 - Santíssima Trindade


O Caminho da Beleza 27
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Santíssima Trindade                31.05.2015
Dt 4, 32-34.39-40                        Rm 8, 14-17                        Mt 28, 16-20


ESCUTAR

“Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra e que não há outro além dele” (Dt 4, 39).

“Vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá, ó Pai!” (Rm 8, 15).

“Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).


MEDITAR

A Razão vos diz: Três são três. – e a Fé declara que: Três são um (Gustave Flaubert).

Eu amo muito a Trindade: cada pessoa da Trindade é voltada para a outra. A religião que me foi ensinada é uma “religião para...”, isto é, uma religião que sai de si, que se inclina para fora de si (Soeur Emmanuelle).


ORAR

A festa da Santíssima Trindade não é uma simples formalidade nem uma representação dogmática. Ela nos convida a tentar viver e a nos insurgir contra uma certa insensibilidade em nós e em torno de nós à urgência de Deus e à envergadura do seu Mistério. Neste domingo, devemos entrar neste mistério adorável de saber que a dinâmica da Trindade é o Amor. É uma eterna comunicação, pois não existe nem um olhar-para-si, mas sempre e eternamente um olhar-para-o-outro. O Pai é um eterno olhar para o Filho assim como o Filho é um olhar eterno para o Pai e toda a Luz divina brota desta troca como a visibilidade de um dom eternamente realizado. Toda a alegria brota do dom nesta dança eterna em que qualquer posse é impossível, pois a grandeza consiste no dom de si mesmo. A vida de Deus é sempre uma vertiginosa troca, partilha e uma circulação infinita expressa no respirar do Pai, no sangue do Filho, na água e no fogo do Espírito. A vida da Trindade acontece em nós mesmos sem que a percebamos e nela “nem morte nem vida, nem anjos nem potestades, nem presente nem futuro, nem poderes nem altura nem profundidade, nem criatura alguma nos poderá separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus Senhor nosso” (Rm 8, 38-39). É no silêncio que esta vida se manifesta, pois a alegria verdadeira começa quando, enfim, com os olhos fechados e os lábios cerrados percebemos a dinâmica amorosa do Pai, pelo Filho e no Espírito Santo. Esta festa exige uma profunda revisão de vida e a perguntarmos sobre a esterilidade de um amor que se debruça sobre si mesmo e de um egoísmo que se idolatra. O Cristo nos revelou a Trindade para fazer surgir em nós uma liberdade total ante os olhos do egoísmo mortal que assola o mundo, aniquila as culturas, domina os mais fracos, corrompe os poderes civis e religiosos, e que, sobretudo, pela ganância, destrói a natureza criada para o bem de toda a humanidade por todos os séculos. Eis o mistério: Deus para nós, Deus em nós e Deus conosco.


CONTEMPLAR

A Trindade, Jacopo Robusti Tintoretto (1518-1594), óleo sobre tela, 123 x 184 cm, Galleria Sabauda, Turim, Itália.




segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Caminho da Beleza 26 - Pentecostes

O Caminho da Beleza 26
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



Pentecostes                       24.05.2015
Gn 11, 1-9                Rm 8, 22-27                       Jo 7, 37-39


ESCUTAR

“Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja o céu” (Gn 11, 4).

“Também o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26).

“Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Aquele que crê em mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva jorrarão do seu interior” (Jo 7, 37-38).


MEDITAR

Eu quero falar de Deus não nos limites, mas no centro, não nas fraquezas, mas sim na força, portanto não na morte e no pecado, mas na vida e no bom do ser humano (Dietrich Bonhoeffer).

Como cada um de nós é diferente, como cada um de nós é inigualável e único, como Deus não se repete jamais criando uma alma, ele dá a esta alma, ele confia a ela um brilho dele mesmo, ele a convida a exprimir sua Beleza, na sua própria linguagem, que é única (Maurice Zundel).


ORAR

Pentecostes não se limita a uma perspectiva eclesial estrita. Pentecostes significa a reunificação da humanidade. A unidade se realiza no pluralismo e o Espírito é princípio de unificação, mas também de diferenciação. A uniformidade representa a caricatura da comunhão no Espírito e o conformismo se configura como uma recusa do dom da liberdade. O Espírito Santo derruba todas as barreiras, suprime todas as linhas de demarcação e dilata nossos corações em comunhão. Não somos privilegiados, mas co-responsáveis pelo anúncio da Boa Nova. A Igreja de Jesus alcança a universalidade quando não sufoca, não manipula as particularidades, mas as incentiva e exalta. A unidade do mundo dar-se-á quando assumirmos as medidas de Deus sem aprisionar o Espírito em nossos rígidos esquemas de vida. Não podemos nos encerrar entre quatro paredes, pois fomos talhados para os desafios do mundo em que o mal parece reinar e vencer. A Igreja missionária que sai do cenáculo não conquista as massas, mas cada pessoa. É uma chamada pessoal. Recebemos os dons do Espírito e seus frutos: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, sobriedade e modéstia (Gl 5, 22). Nestes tempos surdos à Palavra, a oração se torna uma invocação ao Espírito Santo: o altar é o coração, o mundo é a oferenda e o fogo do Espírito consome tudo em seu amor.


CONTEMPLAR

O Espírito Santo, 2012(?), Latimer Bowen, Abilene, Texas, Estados Unidos.




segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Caminho da Beleza 25 - Ascensão do Senhor

O Caminho da Beleza 25
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



Ascensão do Senhor                  17.05.2015
At 1, 1-11                  Ef 1, 17-23               Mc 16, 15-20


ESCUTAR

“Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1, 10).

“Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos” (Ef 1, 18).

“Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 20).



MEDITAR

Não fiques imóvel
à beira do caminho,
não congeles a vida,
não ames com fastio,
não te salves agora,
não te salves nunca

Não te enchas de calma,
não reserves do mundo,
apenas um cantinho feliz,
não deixes cair pesadas
pálpebras como juízos definitivos,
não fiques sem lábios,
não durmas sem sonho,
não te penses sem sangue,
não te julgues sem tempo.

Mas se
apesar de tudo,
não podes evitar;
e congelas a vida,
e amas com fastio,
e te salvas agora,
e te enches de calma,
e reservas do mundo,
apenas um cantinho feliz,
e deixas cair pesadas pálpebras como juízos definitivos,
e te secas sem lábios,
e dormes sem sonho,
e te pensas sem sangue,
e te julgas sem tempo,
e ficas imóvel
à beira do caminho,
e te salvas;


então
não fiques comigo.

(Mario Benedetti)


ORAR

Nesta festa, os sentimentos são ambíguos: desilusão e espera; tristeza e alegria; decadência e consolo; cansaço e vontade de recomeçar. Sobretudo, domina uma pergunta de fundo: trata-se de uma conclusão ou um princípio? É preciso superar a catequese simplista e pueril que até hoje nos subjuga: Jesus veio ao mundo, permaneceu nele trinta e três anos, terminou sua missão com um incidente político, mas num final feliz voltou aos céus. Em suma, cumpriu a sua parte e agora cabe às igrejas assumir a parte que lhes cabe neste latifúndio até o Juízo Final quando serão julgadas pelo que fizeram na sua ausência. As coisas, infelizmente, não são tão lineares. Na trajetória cristã tudo aparece sob o signo da instabilidade e da imprevisibilidade. Somos herdeiros de uma fé vivida na obscuridade, mas com a certeza da ressurreição como sinal de que o mundo pode avançar, que as forças do mal podem ser derrotadas apesar das incertezas e contradições: tudo está cumprido e tudo está por se fazer. As rotas são inúmeras e diversas: um espiritualismo desencarnado, um apostolado burocrático e sem alma, uma missão fundamentalista e intolerante. No entanto, a beleza de ser cristão é a de que nada está decidido de antemão, pois existe um caminho para se inventar a cada dia entre certezas, ambiguidades e imprevistos que nos obrigam a uma permanente revisão de decisões e posições diante do mundo em que vivemos, existimos e somos.


CONTEMPLAR


O Ceifeiro e o Semeador, 1915, Charles Haslewood Shannon (1863-1937), óleo sobre tela, 101,2 cm x 106 cm, William Morris Gallery, Londres, Reino Unido.



segunda-feira, 4 de maio de 2015

O Caminho da Beleza 24 - VI Domingo da Páscoa

O Caminho da Beleza 24
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



VI Domingo da Páscoa             10.05.2015
At 10, 25-26.34-35.44-48                     1 Jo 4, 7-10             Jo 15, 9-17


ESCUTAR

“Levanta-te. Eu também sou apenas um homem” (At 10, 26).

Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus (1 Jo 4, 7).

“Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15, 13).


MEDITAR

Confesso que acho natural entregar-me por inteiro ao afeto de meus amigos, especialmente quando estou cansado dos escândalos do mundo. Neles me repouso sem preocupação alguma. Pois sinto que Deus está lá, que é n'Ele que me lanço com toda a segurança e em toda segurança me repouso... Quando sinto que um homem, abrasado de amor cristão, tornou-se meu amigo fiel, o que lhe confio de meus projetos e de meus pensamentos não é a um homem que confio, mas Àquele em quem ele permanece e pelo qual é o que é (Santo Agostinho).

Obrigado, irmão, pelo sol que me deste, na aparência roubando-o (Carlos Drummond de Andrade).


ORAR

O Senhor sempre chega primeiro e nos elege no amor. O Senhor nos precede no amor e, na sua irreverência, nos faz sempre chegar atrasados aos encontros marcados com Ele. Sempre estamos defasados em relação às iniciativas divinas. O Senhor está sempre adiante de nós e fora do raio dos nossos controles. São os nossos preconceitos e imobilismos que impedem de seguirmos as trajetórias do Espírito. Nossas parcas aberturas são janelas minúsculas para que, sem perigo de vertigem, possamos entrever o campo infinito em que o amor de Deus age e nos conduz. O amor de Cristo é gratuito, criativo e vai até o dom total da vida. É um amor universal e não podemos restringir as dimensões do dom que se oferece a todos. No amor do Cristo não existe nenhuma mentalidade elitista, nenhuma postura sectária. O evangelho exige que tomemos a iniciativa de sentar à mesa dos diferentes de nós para que aprendamos as suas maneiras de amar, louvar e servir ao Senhor. Pedro afirma ser apenas um homem como Cornélio e recusa uma posição clerical de privilégio: conta apenas com a Palavra que lhe foi confiada. Não podemos substituir Deus e, muito menos, temos o direito de, em seu Nome, dominar as consciências e pisotear a liberdade dos nossos irmãos e irmãs. Não somos déspotas, mas servos de todos e como todos necessitados do amor compassivo de Deus.


CONTEMPLAR


Cristo com são João, c. 1290, Mestre Henri de Constance, Convento de Sankt Katharinental, escultura em madeira, 171 x 73 x 48 cm, Museu Meyer van den Bergh, Antuérpia, Bélgica.