quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Caminho da Beleza 11 - IV Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 11
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


IV Domingo do Tempo Comum                   03.02.2013
Jr 1, 4-5.17-19                   1 Cor 12, 31- 13, 13                       Lc 4, 21-30

ESCUTAR

“Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu já te conhecia, antes de saíres do ventre, eu te consagrei e te fiz profeta para as nações” (Jr 1, 5).

“O amor desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. O amor jamais acabará” (1 Cor 13, 7-8).

“Em verdade, vos digo que nenhum profeta é aceito na sua própria terra” (Lc 4, 21, 24).


MEDITAR

“A estrada é a companheira que desposei. Ela me fala debaixo dos pés o dia todo, e a noite inteira canta para os meus sonhos. A senda e eu somos amantes. A cada noite eu troco de veste por sua causa, e a cada amanhecer deixo nas pousadas do caminho o estorvo dos velhos farrapos” (R. Tagore).

“Temos verdadeiramente lugar para Deus quando Ele tenta entrar em nós? Temos tempo e espaço para Ele? Porventura não é o próprio Deus que rejeitamos? Isto começa pelo fato de não termos tempo para Deus. Quanto mais rapidamente nos podemos mover, quanto mais eficazes se tornam os meios que nos fazem poupar tempo tanto menos temos tempo disponível. E Deus? O que diz respeito a Ele nunca parece uma questão urgente. O nosso tempo já está completamente preenchido” (Bento XVI).

ORAR

O profeta Jeremias é de uma família sacerdotal sobre a qual, durante três séculos, caíra a proscrição por ser descendente do sacerdote Abiatar, culpado do complô contra Salomão (1 Rs 2, 26-27). Neste contexto, o chamado de Jeremias assume um profundo significado. Deus o conhecia antes que no seio da mãe fosse formado. Jeremias foi amado e consagrado por Deus no sentido inverso que havia sido colocado antes a sua família. De agora em diante, dependerá totalmente de Deus e de sua palavra. Conhecido, não para ser desprezado, mas amado; separado não no sentido da excomunhão e da discriminação, mas em vista de uma missão mais ampla. Jeremias foi ignorado, escarnecido, exilado, perseguido, ameaçado, insultado, denunciado por parentes e amigos e tudo porque queriam que ele falasse o que desejavam ouvir e que ele não podia dizer. O evangelista nos mostra o confronto de Jesus com o povo de Nazaré e revela a mesma incompatibilidade vivida por Jeremias. Os habitantes de Nazaré exigem que Jesus faça o que querem: “Todas as maravilhas que fizestes em Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-as também aqui na tua pátria”. Até hoje, temos a pretensão de administrar a palavra profética segundo os nossos interesses. Jesus sai do seu povo e, como Elias e Eliseu, vai para outro lugar, buscar entre “os pagãos” a fé que escasseou entre os seus. A soberba religiosa os impedia de sair com Ele em busca dos que necessitavam de misericórdia e compaixão. Esta é a tentação permanente das pessoas religiosas que permanecem nos limites sufocantes da presunção: sequestrar o Cristo, aprisioná-Lo nos seus próprios esquemas e utilizá-Lo para seus próprios projetos. Jesus nos chama a sair de nós mesmos e a caminhar com Ele nas suas estradas de itinerários imprevisíveis. Jesus sempre funda e fundará Nazaré em outras partes, pois o povo de Jesus não é aquele em que nós nos situamos, mas onde Ele está: “Ele, porém, passando entre eles, foi-se embora” (Lc 4, 30). Se a palavra de Jeremias vem de outra parte, a de Jesus nos leva a outra parte. Em ambos os casos, é uma palavra que não se deixa confiscar por nossos desejos mesquinhos, pretensões e arrogâncias de poder. Jesus não é um sacerdote do templo e nem um mestre da Lei. Diferente dos reis e sacerdotes, o profeta não é chamado e nem ungido por ninguém, pois sua autoridade provém de Deus para consolar e guiar o seu povo quando os dirigentes políticos e religiosos não o fazem. Devemos pedir que o Senhor envie profetas para a sua Igreja, mais do que padres. Uma Igreja sem profetas caminha surda aos clamores do seu povo e acaba por colocá-lo sob a sua ordem e clericalismo por medo da novidade e da imprevisibilidade de Deus.

CONTEMPLAR

Escultura sem nome de Guido Rocha, Genebra, 1975, foto de capa do disco “Paixão segundo Cristino” de Geraldo Vandré e Frades Dominicanos, 1984, Fundação Cultural de Curitiba, Paraná, Brasil.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Caminho da Beleza 10 - III Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 10
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


III Domingo do Tempo Comum                   27.01.2013
Ne 8, 2-6.8-10                   1 Cor 12, 12-30                  Lc 1, 1-4; 4,14-21


ESCUTAR

“E Neemias disse-lhes: ‘Ide para vossas casas e comei carnes gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois este dia é santo para o nosso Senhor. Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa força’” (Ne 8, 10).

“De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1 Cor 12, 13).

“Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 1, 21).


MEDITAR

“Minha vida é só um instante, uma hora passageira. Minha vida é somente um dia que me escapa e foge. Tu sabes, ó meu Deus! Para te amar sobre a terra não tenho nada a não ser hoje! (Santa Teresa do Menino Jesus).

“Deus é o único amigo que não coloca um fim à solidão essencial. Ele é aquele em que a solidão enquanto tal se realiza. Não é somente porque Ele é tão terno e tão discreto, nem porque Ele é tão grande que não podemos compreendê-Lo. É também porque nosso desejo de solidão não é absolutamente um desejo de nós mesmos, mas o desejo deste amor interior e deste diálogo” (Urs von Balthasar).


ORAR

Na Bíblia, o falar de Deus é dirigido essencialmente a um povo. A Bíblia não é um livro de oráculos em que cada um pode projetar as próprias ideias ou que lhe é mais conveniente para a sua cultura religiosa, para a sua devoção ou para as polêmicas contra os próprios adversários. A Bíblia “se enfraquece” quando se converte em objeto de uma busca individualista. A primeira leitura descreve o ato inaugural da nova comunidade israelita depois da volta do exílio. Há uma liturgia solene para a qual é convocado todo o povo, não só os homens, mas também as mulheres e as crianças. É um dia profético que destaca a qualidade sacerdotal de todo o povo e não somente a dos encarregados do culto. O Templo está em ruínas, destruído, mas a Palavra de Deus está viva e presente para reunir os dispersos e reconstruir um povo. Pela primeira vez, temos a notícia da construção de um ambão, uma espécie de púlpito, para aquele que deveria proclamar a Palavra: “Esdras, o escriba, estava de pé sobre um estrado de madeira erguido para este fim”. Os textos lidos são explicados, na busca de seu sentido, como uma tradução parafraseada, fiel e, ao mesmo tempo, livre, a qual se deu o nome de Targum. O povo ao ouvir as palavras reagia com temor e gozo, pois a palavra de Deus é uma espada de dois gumes: uma palavra que penetra os ossos, coloca a descoberto as ações e as intenções secretas do coração. Esta Palavra arranca o véu das nossas aparências e as máscaras das nossas hipocrisias. O evangelista apresenta Jesus, na sinagoga de Nazaré, atualizando as palavras do profeta: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Jesus cria um novo hoje para todos os seus seguidores. Devemos “ler” a Bíblia e escutar a Palavra que Deus nos dirige para que possamos anunciar ao mundo a novidade de que Deus sonha grandes coisas para o homem. Estas grandes coisas não são nem a organização de uma religião mais perfeita nem um culto mais digno. Estas grandes coisas são levar a libertação, a esperança, a luz e a graça aos mais pobres e desafortunados. Esta é a opção do Espírito de Deus que anima e sustenta a vida inteira de Jesus. E devemos sempre dar graças que, na sua bondade, Ele jamais poderá não querer nos amar (Maître Eckhart).


CONTEMPLAR

Cristo Benedicente, Giotto (?), segundo decênio do século XIV,  painel central do Políttico Peruzzi, Museu de Arte, Kress Collection, Releigh, Carolina do Norte, Estados Unidos.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Caminho da Beleza 09 - II Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 09
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


II Domingo do Tempo Comum                     20.01.2013
Is 62, 1-5                 1 Cor 12, 4-11                     Jo 2, 1-12


ESCUTAR

“Assim como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposam; e como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus” (Is 62, 5).

“Há diversidades de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 12, 4-7).

“Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não tem mais vinho!’” (Jo 2, 3).


MEDITAR

“Amar, é se esvaziar de si, ser pobre de si, fazer de si um espaço em que cada um possa respirar a sua vida” (Maurice Zundel).

“Aquele que vê sofrer o seu irmão na necessidade e lhe fecha seu coração exclui Deus do seu próprio coração. O amor de Deus e o do próximo são como duas portas que só podem ser abertas e fechadas ao mesmo tempo” (Kierkegaard).


ORAR

A inauguração da vida pública de Jesus é colocada, pelo evangelista, num contexto de festa de bodas. Aos nossos olhos, não parece ser o melhor lugar para os seus discípulos iniciarem o seu noviciado. Tudo começa numa festa para que nossa alegria não se empobreça. É um grande equívoco unir a Sua presença aos momentos de dor e de dificuldades em nossa existência. Jesus revela que nossas festas são tímidas e frágeis; que a algazarra esconde um vazio e uma angústia; que o vinho é insuficiente e de baixa qualidade. Com Jesus, a festa encontra a sua plenitude e não está limitada ao tempo. Com Ele, o vinho é novamente colocado sobre a mesa e nunca mais faltará. Todos se beneficiarão dos seus dons, inclusive os que não esperam nada Dele. Maria intervém não porque falta o pão, mas falta o vinho que é o símbolo da alegria. As seis talhas de pedra significam o número inacabado da imperfeição em oposição ao número sete que expressa a totalidade e a plenitude. As talhas estão vazias e o ritual complexo das purificações esconde sua ineficácia, pois a relação entre Deus e o homem só pode se restabelecer por meio do amor. Na festa, todos os rituais de purificação foram cumpridos conforme a Lei e, no entanto, só produziram ansiedade, medo e tristeza. Faltara o vinho do amor e Jesus vai oferecer a todos, em abundância, a degustação do seu vinho de ternura e alegria, pois “No amor não há lugar para o temor; ao contrário, o amor desaloja o temor. Pois o temor se refere ao castigo, e quem teme não alcançou um amor perfeito” (1 Jo 4, 18). O cardeal Ravasi é enfático: “O amor que existe sobre a face da terra e que reaparece cada vez que duas criaturas se encontram e se amam é o sinal do amor que Deus tem pela humanidade inteira”. Em Caná da Galileia, Jesus começou os seus sinais para manifestar a sua glória e João não nos fala de “milagres”, mas de sinais. Na festa das bodas, o sinal é dado pela preocupação de Alguém para que a festa seja completa. O Senhor sempre faz sinais, esboça sussurros de ternura e alegria para nos fazer, com o pudor do amor, suspeitar que Ele nos ama e quer intervir na trama ordinária da nossa vida para nos convidar para a festa. O mundo contemporâneo permanece indiferente à mensagem das igrejas cristãs porque as pessoas necessitam que elas apontem sinais que toquem as suas existências e corações. Sinais de compaixão, sinais de acolhida sem discriminação de pessoas, sinais que possam fazer descobrir nos cristãos a capacidade de se encontrar com Jesus que alivia os sofrimentos e nos sustenta a esperança nas dificuldades cotidianas da vida. Não podemos evangelizar a torto e a direito, como uma catequese de talhas de pedra, numa verborragia que só faz crescer o temor e a ansiedade e que é estéril e inexistente de sinais de vida, de alegria e comunhão compassiva. Escutemos Simone Weil: “Acima da infinidade do espaço e do tempo, o amor infinitamente mais infinito de Deus vem apoderar-se de nós. Ele vem na sua hora. Nós temos o poder de consentir na acolhida ou na recusa. Se ficamos surdos, ele vem e volta novamente como um mendigo, mas também como um mendigo um dia ele não retorna mais”.


CONTEMPLAR

Casamento em Caná da Galileia, Isaac Fanous, s.d., Escola de Iconografia Copta Moderna, Cairo, Egito.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O Caminho da Beleza 08 - Batismo do Senhor


O Caminho da Beleza 08
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Batismo do Senhor                    13.01.2013
Is 42, 1-4.6-7                      At 10, 34-38                       Lc 3, 15-16.21-22

ESCUTAR

“Eu, o Senhor te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42, 6-7).

“De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção de pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10, 34-35).

“Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem querer” (Lc 3, 22).


MEDITAR


“A alegria durável nasce das bodas do amor de Deus e do amor do próximo no coração de nossa pessoa, no coração de nossos vínculos e de nossos serviços. Viver as beatitudes é reativar a Presença que nos habita, é marchar e divinizar nossa existência e a dos nossos irmãos e irmãs segundo o sonho de Deus” (Yvan Portras).

“Um homem que caminha, um pássaro que voa, uma folha que tomba: tudo anuncia o começo de uma dança. No coração do átomo e no ballet dos astros, o ritmo e a harmonia são semeados por nossos Criador e Pai. Escutar a música, olhar a dança são verdadeiras orações” (D. Helder Câmara).


ORAR


Jesus não se enquadra nos esquemas e nos escaninhos que os homens predispuseram para Ele. Jesus desmente a própria imagem apresentada pelo Batista: um Messias cheio de ira e que colocaria ordem “na casa”. O estilo de Jesus não casa com os gostos e as previsões dos que O esperavam. O seu modo diferente de ser é o de Servo (Is 42, 1ss): que não faz publicidade, não enche as praças com uma voz potente e sonora cheia de retóricas e ameaças. Ele é solidário com os perdedores, com os fracos; com os capazes de dar confiança e sustentar a esperança. Ele se coloca ao lado dos pobres e daqueles que não contam para a sociedade da opulência e do consumo. O batismo prefigura a morte e a ressurreição de Jesus. A imersão no rio simboliza a ação de morrer e o seu emergir a vida nova que surge e é selada pelo abrir do céu e a voz do seu Pai que declara o seu bem querer. O céu aberto para sempre traz o novo dia e nos faz saber que o muro entre Deus e os homens foi destruído: Deus não é mais o Inacessível. Jesus tem preferência por todos e “andava por toda a parte fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele”. Jesus manifesta o seu poder ao se ocupar dos fracos e se manifestar como manso e humilde de coração. O nosso batismo deve ultrapassar os registros dos arquivos paroquiais numa prática cristã que honre os compromissos que outros assumiram por nós. Não basta delegar à certidão paroquial a prova de que somos batizados. É necessário que o batismo seja assumido por nós para que não se sepulte como um ato convencional e social. Caso contrário, seremos demissionários do nome de cristãos que nos deram. Antes, quando crianças, não podíamos ler o Evangelho. Agora, podemos e devemos, pois temos o direito de saber o que somos e qual a prática de vida que nos qualifica como cristãos. Batismo e manifestação de Jesus de Nazaré coincidem. O que agrada o Senhor não são os ritos carentes de amor, mas uma vida “em espírito e em verdade” no Espírito de Jesus. O cardeal Ratzinger, papa Bento XV, escrevia: “O batismo é o arco-íris de Deus sobre nossa vida, a promessa do seu grande Sim, a porta da esperança e o caminhar numa união viva e pessoal com Jesus Cristo pelos seus caminhos. Olhando para Ele sabemos que Deus é maior que o nosso coração” (Homilia do Batismo, 07.01.1990). Paulo nos exorta: “Não matem o Espírito de Deus” (1 Ts 5, 19) e uma igreja com o Espírito apagado ou esvaziada do Espírito de Jesus não pode viver e nem comunicar sua verdadeira novidade e, muito menos, saborear e proclamar a Boa Nova.

CONTEMPLAR

Batismo de Cristo, El Greco, 1568, têmpera sobre painel, 24 x 18 cm., Galeria Estense, Modena, Itália.
















quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Caminho da Beleza 07 - Epifania do Senhor


O Caminho da Beleza 07
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Epifania do Senhor                   06.01.2013
Is 60, 1-6                 Ef 3, 2-3.5-6                       Mt 2, 1-12


 ESCUTAR


 “Levanta os olhos ao redor e vê, todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe nos braços.”(Is 60, 4).

“Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do evangelho” (Ef 3, 6).

“Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 2).


MEDITAR

“A vida nos oferece uma maravilhosa dádiva: o instante presente. Desejemos a graça de vivê-lo plenamente. O tempo corre como um rio. Ele passa e não volta. Aproveitemos, pois, o que o instante presente nos oferece tão generosamente” (François Gervais).

“A fé não é tanto a busca de Deus pelo ser humano, mas o reconhecimento pelo homem de que Deus vem a ele, o visita e lhe fala” (Bento XVI).


ORAR


Não devemos insistir excessivamente nestes elementos legendários de camelos, dromedários, estrelas, reis astutos como Herodes e magos que estão incrustrados nas estórias da Epifania. Esta festa representa um segundo nascimento revelado em dois temas essenciais e mais antigos do que o próprio Natal: a manifestação de Deus e a busca dos homens. A primeira iniciativa é de Deus e a partir dela os homens se colocam em movimento. Deus vem ao nosso encontro e seus passos se adiantam aos nossos. Nós O encontramos porque Ele nos busca. O homem não conquista Deus, mas se deixa conquistar: “Tu me seduzistes, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20, 7). A manifestação do Senhor assume contornos planetários: “Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do Evangelho”. Esta festa não permite nenhuma apropriação privilegiada e exclusiva: os filhos chegam de longe (Is 60, 4); chegam os pagãos (Ef 3, 6); chegam os inesperados (Mt 2, 1) e os adoradores imprevistos (Mt 2, 11). A geografia de Deus é impossível de ser ensinada, pois a sua manifestação suscita um movimento imprevisível, sem controle e sem regulamentos. É uma geografia sem confins e na qual é impossível estabelecer quem é “próximo” ou quem é “distante”. Uma geografia em que as distâncias são abolidas por um raio de luz, por uma secreta inquietude e por uma incrível nostalgia do futuro. O sinal da estrela é espetacular, mas a realidade é modesta, ordinária e quase decepcionante. É mais fácil ver uma estrela e ficar impressionado por sua aparição do que nos defrontarmos com um cenário familiar e tão comum. E neste momento, entra em jogo a fé, uma vez que somente a fé nos permite ver além das aparências e, consequentemente, adorar. Os magos não fazem parte dos descendentes de Abraão; não conhecem o Deus vivo e verdadeiro; não são circuncidados, ou seja, não são membros da Aliança que tem por sinal esta incisão na carne e nem mesmo é a Palavra de Deus que os guia na sua viagem. No entanto, sua busca de Deus, suas meditações e suas minuciosas investigações científicas dos sinais da natureza lhes permitem fazer uma leitura visionária que os impulsiona a partir, seguindo simplesmente a luz de uma estrela. Os magos evidenciam que esta criança é uma bênção destinada a toda a humanidade conforme a promessa feita a Abraão: “Por ti e por tua descendência todos os povos do mundo serão abençoados”(Gn 28, 14). Os padres conciliares afirmavam que todas as culturas e tradições trazem nelas os traços e as sementes da palavra de Deus e, nós, cristãos, devemos nos alegrar por descobrir e valorizar as sementes do Verbo escondidas nas culturas e religiões dos vários povos (cf. Ad Gentes 112). A epifania nos questiona se somos e seremos capazes de testemunhar a salvação definitiva que Deus nos traz por meio de Jesus Cristo, manifestando uma simpatia cordial com todos os homens e mulheres de todas as raças, culturas e crenças. Gravemos nos nossos corações em mentes as palavras do papa Bento XVI: “O Senhor quer que também nós cheguemos a ser estrelas; que também em nós aconteça esta explosão transformadora da fé, por meio da qual é liberada a luz que Ele depositou em nós para que encontremos o caminho e cheguemos a ser os indicadores do caminho para os outros”.


CONTEMPLAR

Sonho dos Magos, capitel de Gislebertus, c. 1120, Catedral de São Lázaro, Autun, Borgonha, França.