Como
se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
XIV Domingo do Tempo Comum
Is 66, 10-14 Gl 6, 14-18 Lc
10, 1-12
ESCUTAR
“Sereis amamentados, carregados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei (Is 66, 12-13).
“Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão têm valor; o que conta é a criação nova” (Gl 6, 15).
“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir” (Lc 10, 1).
MEDITAR
Vocatus atque non vocatus, Deus aderit [Chamado ou não chamado, Deus estará presente].
(Frase na porta de entrada da casa de Carl Jung)
Há espaço para tudo numa única vida. Para acreditar em Deus e para um fim miserável... é uma questão de se viver a vida de minuto a minuto, acolhendo, além disso, o sofrimento.
(Etty Hillesum)
ORAR
Não há vocação sem missão, pois a vocação está em razão da missão:
aquele que é chamado é sempre enviado. A missão diz respeito a todos e não
somente a alguns especialistas: toda a comunidade eclesial é missionária e
todos os batizados são responsáveis pelo anúncio da Boa Nova. Neste anúncio
existe uma palavra de alegria e de paz e no outro extremo está a Cruz de
Cristo. Os que sofrem recebem as consolações maternais de Deus. A participação
no mistério pascal evita que o cristão ceda ao triunfalismo ou ao desânimo
diante dos fracassos. A fecundidade da Palavra não se verifica nem pelo êxito
nem pelo fracasso, mas por germinar e crescer no terreno árido do Calvário. Em
sua primeira homilia como papa, criticando as benesses e o carreirismo na
Igreja, Francisco nos adverte: “Quando caminhamos sem a Cruz,
quando edificamos sem a Cruz e quando confessamos um Cristo sem Cruz, não somos
discípulos do Senhor: somos mundanos, somos Bispos, Padres, Cardeais, Papas,
mas não discípulos do Senhor” (14.03.2013). A fonte da missão está na
oração e não num projeto humano, pois a missão é graça e dom e nenhum apóstolo
é forjado em laboratórios especializados. O vínculo pessoal com o Cristo é
vital, pois sem a oração a missão se converte em profissão. O teólogo Urs von
Balthasar escrevia: “Uma coisa é certa: ninguém pode se entregar ao amor de
Deus por decepção de um amor humano. Não se pode, por não se amar ninguém e nem
a nada, acreditar que se ama a Deus”. A missão está sob o signo da fraqueza, da
mansidão e de uma entrega sem reservas e sem pretensões. A única força do
cristão é uma palavra que pode ser recusada, burlada e hostilizada e se ela não
estiver penetrada pelo amor de Cristo, a missão se transforma em conquista e
proselitismo. A missão é marcada pela pobreza e pela gentileza: “Paz a esta
casa”. O apóstolo sabe que o evangelho não passa por meio das reverências
sociais, sorrisos formais e discursos de circunstâncias. É preciso sacudir o pó
dos aplausos, dos entusiasmos emotivos, das adesões de conveniência para que
surja a essência do Evangelho. Se a missão não assume este estilo de pobreza se
transforma em empresa, propaganda e espetáculo. Nestes tempos ardilosos de
sucesso e eficácia, não devemos nos preocupar com o êxito da nossa missão, pois
Jesus nos preveniu que o sucesso não está incluído nela: “Sereis expulsos da
sinagoga. Chegará um tempo quando quem vos matar pensará oferecer um culto a
Deus” (Jo 16, 2).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Os frutos, Patrice Delaby, 2012, óleo sobre tela, Pas-de-Calais, patricedelaby.artblog.fr, França.