segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O Caminho da Beleza 15 - II Domingo da Quaresma

O Caminho da Beleza 15
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



II Domingo da Quaresma                   01.03.2015
Gn 22, 1-2.9-13.15-18                 Rm 8, 31-34                       Mc 9, 2-10


ESCUTAR

“Depois, Abraão, estendeu a mão, empunhando a faca para sacrificar o filho” (Gn 22, 10).

“Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8, 32).

“Este é o meu Filho Amado. Escutai o que ele diz” (Mc 9, 7).


MEDITAR

Ainda que a aridez que vem de Deus despoje todos os tipos de gozos, tanto do céu como da terra, ela nos une todavia mais a Deus, qualquer que seja a pena e solidão (São João da Cruz).

Quando as coisas estão difíceis, é sinal de que Deus nos leva a sério (J. L. Lebret).


ORAR

A agonia de Abrão, de Isaac, do Cristo e de todos os homens e mulheres é a experiência primeira e mais comum da dinâmica da fé. É também a experiência da noite. Alimentamos o justo desejo de saltar por cima das trevas para que a luz nos penetre. Foi assim a noite de Abraão quando lhe foi pedido o sacrifício do próprio filho e para os discípulos quando ouviram Jesus falar sobre o caminho da Cruz. Nesta atônita entrega só nos resta a certeza da promessa de que “se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Toda noite traz em seu âmago raios de luz. Vivemos um processo acelerado de desumanização que é, desgraçadamente, privilégio dos homens e não de Deus. Nosso Deus tranquiliza inquietando e sempre existirá o início e nunca uma conclusão. Deus nos pede o impossível para que descubramos a nossa força interior. Os deuses que nos são apresentados, para agregar valor espiritual e religioso, são um arremedo do Pai de Jesus Cristo. O evangelista Marcos nos antecipa a visão pascal que dura o instante de um corisco, mas o eco da voz do Senhor permanece para sempre: “Este é o meu Filho Amado. Escutai o que ele diz”. O caminho dos que resistem só pode ser iluminado pela Palavra: “Tua palavra é lâmpada para meus passos, luz em meu caminho” (Sl 119, 105). A lâmpada não ilumina a noite, mas permite caminhar e avançar. Meditemos as derradeiras palavras de Bonhoeffer instantes antes de ser assassinado: “Este é o final, para mim é o começo da vida”.


CONTEMPLAR


O Sacrifício de Isaac, 1966, Marc Chagall (1887-1985), óleo sobre tela, 230 cm x 235 cm, Museu Nacional da Mensagem Bíblica Marc Chagall, Nice, França.




segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O Caminho da Beleza 14 - I Domingo da Quaresma

O Caminho da Beleza 14
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



I Domingo da Quaresma                     22.02.2015
Gn 9, 8-15                           1 Pd 3, 18-22                      Mc 1, 12-15


ESCUTAR

“Estabeleço convosco a minha aliança: nunca mais nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio para devastar a terra” (Gn 9, 11).

O batismo não serve para limpar o corpo da imundície, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo (1 Pd 3, 21).

Naquele tempo, o Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias e aí foi tentado por satanás (Mc 1, 13).


MEDITAR

Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre... Deus come escondido e o diabo sai por toda parte lambendo o prato... (Guimarães Rosa).

A vida é luta e a solidariedade com a vida é luta e se faz na luta. Não me cansarei de repetir que o que mais une os homens uns aos outros são as nossas discórdias. E o que mais une cada um consigo mesmo, o que faz a unidade íntima de nossa vida, são nossas discórdias íntimas, as contradições interiores de nossas discórdias. Só nos colocamos em paz conosco mesmo, como Dom Quixote, para morrer (Miguel de Unamuno).


ORAR

O cristão é solicitado, continuamente, pela palavra de Deus a uma mudança radical de mentalidade e de atitudes. Esta mudança, conversão, abarca a pessoa em sua totalidade e determina sempre um momento de decisão e um revirar, pelo avesso, a vida. É no deserto que este embate pessoal acontece. No deserto, os beduínos se lavam com areia que se torna assim um elemento de purificação. Longe da forma refrescante da água que lava nossos corpos, a areia nos submete a um enérgico tratamento à base do esmeril. No deserto, Deus se serve das areias para arear a nossa superficialidade e atingir a mais implacável sinceridade conosco mesmo. A areia do deserto é cruel, não oferece alternativa a não ser um estilo de austeridade. Esta austeridade nos impõe limitações que não queremos, pois desejamos todas as coisas inúteis que nos correspondem. O deserto é o lugar da intimidade, do encontro e do diálogo com Deus interrompido no jardim do Éden. O deserto é, também, o lugar do confronto, da tentação e da luta, pois, além de encontrarmos Deus, encontramos o Inimigo. Não existe vida cristã sem luta, empenho e esforço. A conversão não é um processo indolor, mas exige desprendimento, lacerações e privações. O caminho cristão não é uma tranquila excursão em território religioso, mas uma aventura arriscada no meio da Vida, que é Deus. Ainda que sejamos tentados por satanás e tenhamos que viver entre animais selvagens, sabendo, acima de tudo, que os anjos nos servirão.


CONTEMPLAR


A Vitória de São Miguel sobre o demônio, século XVIII(?), escultura em bronze, porta de entrada da Igreja de São Miguel, Hamburgo, Alemanha.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

O Caminho da Beleza 13 - VI Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 13
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



VI Domingo do Tempo Comum                   15.02.2015
2 Rs 5, 9-14                        1 Cor 10, 31-11,1                Mc 1, 40-45


ESCUTAR

“Senhor, se o profeta te mandasse fazer uma coisa difícil, não a terias feito?” (2 Rs 5, 13).

Fazei como eu, que procuro agradar a todos em tudo, não buscando o que é vantajoso para mim mesmo, mas o que é vantajoso para todos, a fim de serem salvos (1 Cor 10, 33).

Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse. “Eu quero: fica curado!” (Mc 1, 41).


MEDITAR

Jesus circulou tocando as pessoas. Ele tocou os corpos dos doentes. Ele tocou os leprosos. Ele tocou até os mortos... Gandhi recusou deixar que os da casta mais baixa no hinduísmo fossem chamados de “intocáveis”... A compaixão nos dá um coração de carne. Isto significa que nós desejamos alcançar e tocar as pessoas que os outros rejeitam (Timothy Radcliffe).

Se há um mendigo à porta da Igreja, pedindo esmola, a missa foi mal rezada (Dom Irineu Danelon, sdb).


ORAR

Paulo é enfático! Não diz para olharmos para ele, mas seguir o seu exemplo e assumir como única referência o Cristo. Jesus, no Evangelho, não vacila em infringir a regra, romper o cordão sanitário, superar os mecanismos de exclusão e sair fora do círculo de proteção. Jesus tem piedade, mas também está enojado porque os homens tentam resolver os problemas dos leprosos pela exclusão. Jesus suprime as fronteiras, destrói os muros seculares da separação, passa por cima dos preconceitos e não aceita as discriminações religiosas. Para Jesus, existe somente o homem e a mulher sem adjetivos e a porta, para Ele, só serve para sair ao encontro daqueles que estão fora, ainda que seja um só. Somos nós, cristãos, que nos preocupamos mais com a lista dos que estão presentes sem jamais nomearmos os ausentes da nossa comunidade eclesial para os quais o Cristo veio prioritariamente: “Se algum de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás da extraviada até encontrá-la?” (Lc 15, 4). A celebração litúrgica deve ser interrompida quando fazemos exclusões e discriminações. Nunca estaremos preparados como exigem nossos pastores, salvo o orgulho de poucos, para merecermos os dons gratuitos de Deus. O leproso, mantido à distância é readmitido com todas as honras no centro da comunidade. Se não fizermos o mesmo, quando celebrarmos uma festa em honra do Cristo, mais uma vez O condenaremos a morrer “fora da cidade”.


CONTEMPLAR


São Francisco abraçando um leproso, 2014, Julie Lonneman, gravura, Cincinatti, Ohio, Estados Unidos, http://julielonneman.blogspot.com.br.



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O Caminho da Beleza 12 - V Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 12
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



V Domingo do Tempo Comum                     08.02.2015
Jó 7, 1-4.6-7                       1 Cor 9, 16-19.22-23                    Mc 1, 29-39


ESCUTAR

“Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança” (Jó 7, 6).

Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele (1 Cor 9, 22-23).

De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto (Mc 1, 35).


MEDITAR

A fé é um fio de cabelo seguro com os dentes, no abismo! (Madre Belém).

Coragem! Quis servir-me de ti para o advento do meu reino. Não desanimes. Não afrouxes. Não te esquives. Mergulha na aventura desconhecida da minha noite. Então te salvarei de ti mesmo, e te ensinarei a imensidão do amor fraternal (J. L. Lebret).



ORAR

Tantas vezes, como Jó, temos a coragem de nos fazer uma pergunta escandalosa: Viver é uma vida? Podemos chamar de vida se depois devemos morrer? “Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver felicidade”. O livro de Jó é a oração de uma vida por um fio. O termo tikva, em hebraico, significa fio, mas também esperança. A vida cessa quando se rompe o fio, mas também quando desaparece a esperança. Tantas vezes nos esgarçamos até o limite, desejamos que tudo termine logo e ansiamos pelo descanso definitivo. Jó, como nós, é convidado a descobrir um Deus gratuito e não utilizável para rasas justificativas e ponderações. Jesus revela que seu seguidor não é um burocrata, nem um empregado, mas alguém que se coloca na linha de frente com a mais absoluta gratuidade: “Dai de graça o que de graça recebestes” (Mt 10, 8). Algumas vezes, o Cristo diz não quando todos O buscam. Foge, toma distância e ora. Quando se assenta é para estar presente, de outra maneira e em outro lugar. Jesus afirma que a comunhão se produz saindo fora da popularidade falsa, dos ritos da banalidade e das regras do conformismo. O homem de oração é o que se deixa encontrar e a solidão é sempre uma possibilidade oferecida a todos.


CONTEMPLAR

Jó n. 2, 2003, Oldrich Kulhánek (1940-2013), litografia, República Checa, in
http://oldrichkulhanek.cz/index.php?section=galerie&lang=cz.