segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Caminho da Beleza 01 - I Domingo do Advento


O Caminho da Beleza 01
Leituras para a travessia da vida

 
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).

 

I Domingo de Advento             01.12.2013
Is 2, 1-5                    Rm 13, 11-14                      Mt 24, 37-44

 

ESCUTAR

 
“Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate” (Is 2, 4).

 
“A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz” (Rm 13, 12).

 
“Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do homem virá” (Mt 24, 44).

 

MEDITAR

 
“Quando quer manifestar a sua vontade, Deus evita cuidadosamente as pessoas que pertencem ao mundo religioso, refratárias e hostis a qualquer novidade que venha perturbar as seguranças delas, e escolhe simplesmente ‘um homem’, sem qualquer outro título a não ser o de pertencer à humanidade” (Alberto Maggi).

 
“A esperança não é a convicção de que alguma coisa acabará bem, mas a certeza de que alguma coisa tem sentido, independentemente do modo como acabar” (Vaclav Havel).

 

ORAR

 
Nestes tempos de Advento, somos chamados a despertar do sonambulismo, da indiferença e da insensibilidade. O papa Francisco nos questiona: “Onde estamos nós ancorados, cada um de nós? Estamos ancorados precisamente na margem daquele oceano tão distante ou estamos ancorados num lago artificial que nós construímos com as nossas regras, os nossos comportamentos, os nossos horários, os nossos clericalismos, as nossas atitudes eclesiásticas e não eclesiais? Estamos ancorados ali? Tudo cômodo, tudo seguro? Aquilo não é a esperança.” A enfermidade do sonambulismo, como uma epidemia, tem afetado as igrejas em todos os lugares e tempos. O Cristo está no meio de nós e, sem temor, devemos permanecer perto da sua vinda: “Não é necessário atravessar mares, penetrar nuvens ou transpor montanhas; não é um caminho muito longo que nos é proposto: basta entrarmos em nós mesmos para correr ao encontro do nosso Deus” (Bernardo de Claraval). As igrejas devem se desinstalar, pois a espera do Senhor não é um plácido repouso, mas uma transformação. A espera do Senhor é um desenraizamento que nos faz ver mais longe e o horizonte para o qual avançamos é atual. O tempo do Advento se abre com a urgência de um despertar e de um colocar-se a caminho. Como no dilúvio, somos impotentes para ler os sinais dos tempos e nos aferramos ao ramerrão do cotidiano: “Pois, nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e se davam em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca”. Temos nos condenado a um frenético ativismo e concentramos nossas forças para conquistar uma eficiência administrativa em que se entrelaçam negócios e apostolados, poder e religião, num escapismo que nos leva a não dar conta de nada. Tudo isto aponta para um estado de não vigilância que desemboca numa agitação mundana sinalizada pelo arrivismo, pelas disputas internas, pelas invejas e pelas mesquinharias. É o momento de nos darmos conta de que o tempo de Deus penetrou no tempo dos homens e que este instante é um instante eterno. E o que importa é o agora e a grande ocasião que não podemos perder é a de hoje. Meditemos o canto do salmista: “Pois ele é o nosso Deus e nós o seu povo, o rebanho do seu aprisco. Oxalá lhes deis atenção hoje” (Sl 95, 7).

 
CONTEMPLAR

O sol no ventre, Arcabas (Jean-Marie Pirot), 1984, óleo sobre arcadas 660 g., 112 x 56 cm, coleção particular, França.
 
 
 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O Caminho da Beleza 53 - Cristo, Rei do Universo


O Caminho da Beleza 53
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Cristo, Rei do Universo                       24.11.2013
2 Sm 5, 1-3              Cl 1, 12-20               Lc 23, 35-43


ESCUTAR

“Tu apascentarás o meu povo Israel e serás o seu chefe” (2 Sm 5, 2).

“Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino do seu Filho amado” (Cl 1, 13).

“Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado” (Lc 23, 42).


MEDITAR

“Ninguém dá o que não tem. Se um homem não se aceita plena e verdadeiramente, tanto em sua inteireza como em sua fragilidade, ele tampouco pode se dar inteiramente a outra pessoa nem aceitar inteiramente a outra pessoa” (Todd A. Salzman e Wichael G. Lawler).

“Nessas andanças arriscadas podem cometer erros. Podem até receber uma carta da Congregação para a Doutrina da Fé recriminando suas atitudes. Não se preocupem! Expliquem e sigam adiante! Abram portas e façam algo, onde a vida clama! Prefiro uma Igreja que comete erros a uma Igreja que adoece por ficar fechada” (Papa Francisco aos religiosos da Conferência Latino-Americana e do Caribe).


ORAR


Davi tem uma investidura real plebiscitária: “Todas as tribos de Israel vieram encontrar com Davi em Hebron e disseram-lhe: ‘Aqui estamos. Somos teus ossos e tua carne’”. Jesus, o Cristo, da descendência de Davi, ao contrário, é contestado em sua realeza: o povo adota uma posição neutra e oportunista; os soldados O insultam e a inscrição colocada sobre a sua cabeça é um zombaria. Somente um delinquente comum o reconhece como rei. Davi foi vitorioso com a força das armas nas suas batalhas; Jesus, ao contrário, aparece sobre a cruz como perdedor, pois são os seus inimigos que possuem as armas. Onde está a cruz, não há lugar para sinais de força. A tortura foi o seu manto, os espinhos a sua coroa, a proscrição o seu cetro, as provocações e os escárnios foram a sua aclamação. Cristo quer ser reconhecido como rei unicamente por meio de uma adesão livre, no amor, sem coação alguma e nenhuma imposição. Cristo é um Rei vencido pela força, mas vitorioso na fraqueza da ternura e jamais poderá aceitar a honra das armas nem que seja por puro adorno. No calvário, Cristo está coroando não uma conquista espetacular, mas uma obra de reconciliação e de paz. Cristo em seu “palácio” oferece asilo aos “malfeitores” que nele encontram um refúgio seguro e se cerca de súditos “pouco recomendáveis”. Um destes o reconhece explicitamente como rei e se converte no primeiro cidadão do seu Reino. O Reino do Cristo é o reino do Inocente condenado, da inocência achincalhada. É o Reino invisível Daquele que faz irromper no mundo a dimensão do perdão e o perdão para todos, inclusive para os que brilham por sua covardia, pois são os que sempre lavam as mãos. A Igreja de Jesus é sempre ameaçada pelo triunfalismo, em nome do Cristo Rei, para garantir um império como o dos ditadores e não perder o domínio e o privilégio de suas conquistas terrenas. O desafio está lançado no alto do Calvário: ou empenhamos nossas vidas para o serviço aos outros, ou procuraremos o poder e nos converteremos em seus escravos. O “bom ladrão” não obtém de Cristo a salvação física, como pretendia o seu parceiro, mas a salvação total. Jesus, o Rei e Messias crucificado, reúne todo o universo e nos revela, para todo o sempre, que a felicidade em Deus consiste em ser o dom de si mesmo.


CONTEMPLAR

Crucifixão e Deposição, Missal de Reims (Missale Remenense), 1285-1297, pergaminho, 23, 3 x 16, 2 cm, Paris, França.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O Caminho da Beleza 52 - XXXIII Domingo do Tempo Comum








O Caminho da Beleza 52
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXXIII Domingo do Tempo Comum                     17.11.2013
Ml 3, 19-20             2 Ts 3, 7-12             Lc 21, 5-19


ESCUTAR

“Para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas” (Ml 3, 20a )

“Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2 Ts 3, 10).

“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente” (Lc 21, 8).


MEDITAR

“Crescemos na escola de Caifás, um professor que nos obrigou a copiar milhões de vezes no caderno de nossa existência que poder, riqueza e prestígio são os pilares de um mundo feliz. Frente a esta aprendizagem gravada a fogo na alma de nossa cultura, o caminho até a felicidade distópica do Reino – serviço, pobreza e humildade – exige uma conversão social e pessoal nada fácil e nem evidente” (José Laguna).

“Há que dizer a verdade, toda a verdade, nada mais que a verdade. Dizer cruamente a verdade crua, preocupadamente a verdade que causa dano, tristemente a verdade triste. Quem não proclama a verdade quando a conhece se torna cúmplice dos mentirosos e dos covardes” (Charles Pèguy).


ORAR


Teremos sempre que enfrentar a hora decisiva e a lucidez exige afrontar a soberba e a injustiça que tem raiz e ramos dentro de nós. Temos que atiçar o fogo ardente para queimar como palha tudo o que dentro de nós faz parte de um mundo decrépito e inaceitável aos olhos de Deus. Devemos aniquilar a astúcia humana que cultiva a ilusão de que pode possuir o segredo do momento e, por esta razão, tentamos o Senhor: “Mestre, quando vai ser isto? E qual será o sinal que tudo isto está para suceder?”. São sempre as mesmas e tediosas perguntas repetidas até a náusea – “quando?” e “como?” – para que possamos aniquilar o risco de sermos surpreendidos. Jesus nos apela à perseverança, pois “é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”, pois os dias dos homens, os dias do antes também são dias do Senhor, dias em que se desenvolve o juízo. O único tempo certo é o tempo da conversão. A existência do cristão encontra o seu ponto de equilíbrio no concreto do compromisso cotidiano sério e sereno, evitando os extremos opostos do fanatismo e da inércia. Paulo fez-se construtor de tendas para sobreviver do próprio trabalho e não onerar a comunidade eclesial e Jesus afirma que do templo não “ficará pedra sobre pedra”: “O Senhor repudiou o seu altar, desfez o seu santuário, afundou na terra as portas, quebrou os ferrolhos, estendeu o prumo e não retirou a mão que derrubava” (Lm 2, 5-9). No lugar do Templo, Deus oferece uma tenda que, em sua provisoriedade, é necessária como resguardo e lugar de encontro dos nômades. E ainda assim continuam a perguntar: “O fim do mundo é para amanhã?”. Jesus dá a resposta: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ‘Está aqui, está ali, pois o Reino de Deus está no meio de nós’” (Lc 17, 20-21). E podemos responder tranquilamente: “Não, o fim anunciado é hoje” e por mais que na arrogância queiramos materializar os símbolos de proteção e poder em fortalezas, templos, palácios e igrejas de pedra, Aquele que nasceu numa manjedoura, que morreu suspenso numa cruz e saiu vivo e nu de um túmulo despojado, garante, para todo o sempre, que somos o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em nós (cf. 1 Cor 3, 16).


CONTEMPLAR

Oscar Romero de El Salvador, ícone, anônimo.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Caminho da Beleza 51 - XXXII Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 51
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXXII Domingo do Tempo Comum                       10.11.2013
2 Mc 7, 1-2.9-14                2 Ts 2, 16- 3, 5                   Lc 20, 27-38


ESCUTAR

“Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará” (2 Mc 7, 14).

“Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo” (2 Ts 16, 5).

“Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 20, 38).


MEDITAR

“Deus não precisa ser representado. Ele é ele próprio. Isto basta. Deus não é uma criatura tão desvalida a ponto de precisar de porta-vozes o tempo todo. E quando ele quer falar, ele o faz na alma de cada pessoa” (Eugen Drewermann).

“Não somos espíritos, somos pessoas... Nos veremos à nós, humanos sempre, nos veremos sempre humanamente, ainda que nos vejamos ‘em sua luz’. A corporeidade humana é indestrutível. Será transformada” (D. Pedro Casaldáliga).


ORAR

Jesus nos faz entender que a instituição do matrimônio enquanto tal não tem razão de ser na outra vida. Isto não significa que na eternidade tudo será varrido, pois o que se semeou nesta terra no que se refere ao amor autêntico, à amizade, à fraternidade, certamente não desaparecerá. Ao contrário, tudo encontrará a sua plenitude e a sua máxima expressividade na transfiguração dos corpos. Devemos reter duas imagens. A primeira, “são como anjos”, pois a vida eterna estará consagrada ao louvor e à ação de graças em plena comunhão com Deus e entre nós. A segunda, “são filhos de Deus”, o que nos faz entrever uma relação de intimidade como a que existe entre o Pai e o Filho. O Senhor nunca permitirá que o vínculo da aliança se rompa por este corte brutal que é a morte. Estarmos destinados à vida eterna significa, principalmente, estarmos muito vivos no presente. O amor de Deus impede que nos percamos ao longo do caminho. A paciência do Cristo representa um antídoto contra o cansaço e a desilusão. Não temos o direito, como cristãos, de colocarmos a Jesus questões destinadas a ridicularizar o que acreditamos. Jesus afirma antes de mais nada que a sexualidade sobre a qual também repousa a bênção de Deus (cf. Gn 1, 28) é transitória e que ela pertence à condição terrestre dos seres humanos e exprime uma realidade que a transcende. Esta realidade é a fidelidade, a aliança nupcial de Deus com o seu povo, com todos os homens e mulheres: “Naquele dia – oráculo do Senhor – tu me chamarás Esposo meu, já não me chamarás Ídolo meu [...]. Eu me casarei contigo para sempre, eu me casarei contigo a preço de justiça e de direito, de afeto e de amor” (Os 2, 18.21). Não é a procriação que assegura a vida eterna, mas o poder de Deus e sua misericórdia.



CONTEMPLAR

A Ressurreição, William Blake, s.d., aquarela sobre lápis no papel, 21 x 20,5 cm, coleção particular.