quinta-feira, 30 de março de 2023

O Caminho da Beleza 19 - Ramos da Paixão do Senhor

Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor       

Is 50, 4-7          Fl 2, 6-11           Mt 26, 14-27, 66    

 

ESCUTAR

“O Senhor Deus deu-me língua adestrada para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo” (Is 50, 4).

“Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 6-8).

“Senhor, nós nos lembramos de que quando este impostor ainda estava vivo, disse: ‘Depois de três dias eu ressuscitarei!’ Portanto, manda guardar o sepulcro até o terceiro dia para não acontecer que os discípulos venham roubar o corpo e digam ao povo: ‘Ele ressuscitou dos mortos!’ pois essa última impostura seria pior do que a primeira” (Mt 27, 63-64).

 

MEDITAR

O engajamento de Deus pelo homem é tão definitivo que toda objeção contra a ordem do mundo e a Providência está reduzida ao silêncio. O Novo Testamento é um livro em que a alegria é capaz de abranger, novamente, mesmo o sofrimento mais extremo: o abandono de Deus por Deus.

(Hans Urs Von Balthasar)

A ternura do Cristo revela o que de mais humano existe em Deus e o que de mais divino existe no homem.

(Carlo Rochetta)

 

ORAR

   Temos o costume de nomear este domingo como uma entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e, para tanto, acrescentamos todos os ingredientes que a nossa imaginação possa inventar: mobilização das massas, entusiasmo incontido, adornos faustosos, cantos, gritos e aplausos vibrantes. Aprendemos que a grandeza de Deus só pode ser celebrada com mantos reais, coreografias espetaculosas e cortejos imponentes. No entanto, para Jesus, o triunfo é o da humildade, da modéstia, da mansidão, pois todas as suas conquistas foram obtidas com a força do amor. Jesus, até hoje, não se interessa pelos aplausos e gritarias que beiram a histeria, mas sim pelos corações convictos dos seus seguidores. Neste domingo, o Cristo quer ser reconhecido como um rei na sua debilidade desarmada, na sua aceitação da perseguição e no fato de ter resistido à violência, aos insultos e às torturas brutais. O nome de Jesus que invocamos é um nome que foi desacreditado pelos detentores do poder civil e religioso. Neste domingo, não podemos ficar perplexos e desconcertados diante da realidade da Cruz e embaraçados com uma fé sem profecia que nos impede de conquistar a esperança que faz atingir o mais além de nós mesmos. Somente o olhar da fé permite superar o muro do escândalo e acreditar que podemos ver de outra maneira os acontecimentos da nossa vida. E devemos estar lúcidos de que a única resposta ao excesso do mal e da violência é a superabundância de amor que nos conduz, se preciso, até o dom da própria vida.  Jesus não tinha dinheiro. Não tinha autoridade religiosa oficial, por não ser nem sacerdote e nem escriba. Jesus levava apenas em seu coração o fogo do amor pelos que eram injustiçados e até mortos pela violência dos poderosos. A mensagem de Jesus era direta e sem rodeios: os que desprezamos, excluímos e exploramos são os prediletos de Deus. Celebrar a Semana Santa é uma conversão constante para que os nossos corações sejam capazes de olhar e atender aos que sofrem, identificando-nos, cada vez mais, com eles. Nestes tempos, pelo contrário, amordaçamos os gritos de indignação e nos acomodamos a tudo o que é tranquilizador, que não exija nada da inteligência e que seja um refúgio que nos proteja do vazio existencial. Queremos e construímos um tipo de religião que não intranquiliza ninguém, que não tem nenhuma agonia, que perdeu a tensão do seguimento de Jesus, pois não nos chama à responsabilidade alguma e sim nos exonera dela. No nosso cristianismo atual, escutamos cantos que abafam o grito dos pobres; estamos mergulhados em devoção alienante e não nos sobra tempo para os que sofrem e estão desconsolados. Neste domingo de ramos, celebramos o Messias da Cruz, desprezado, traído e abandonado. Neste domingo, devemos estar atentos ao sinal de Deus para que sejamos humildes e compassivos, pois é o outro – o estrangeiro, o diferente de nós, o pagão – que faz a sua profissão de fé, não no momento arrebatador do triunfo, mas no escândalo da derrota: “Na verdade, este homem era Filho de Deus!”. Por esta razão, devemos sempre testemunhar a esperança de que todos os humilhados da terra um dia se levantarão do seu túmulo para obter a reparação e a recompensa da violência sofrida em suas vidas: a bem-aventurança no Reino e a vida eterna. Amém!

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

A entrada de Cristo em Jerusalém, c. 1842, Jean-Hippolyte Flandrin (1809-1864), afresco, Igreja de Saint-Germain-des-Prés, Paris, França.



quinta-feira, 23 de março de 2023

O Caminho da Beleza 18 - V Domingo da Quaresma

Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).

V Domingo da Quaresma

Ez 37, 12-14              Rm 8, 8-11              Jo 11, 1-45      

 

ESCUTAR

“Porei em vós o meu espírito, para que vivais, e vos colocarei em vossa terra. Então sabereis que eu, o Senhor, digo e faço – oráculo do Senhor” (Ez 37, 14).

“E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8, 11).

“Então Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isso?” (Jo 11, 25-26).

 

MEDITAR

Tudo o que é votado à morte vem terminar na minha vida; tudo o que se torna outono encalha na praia da minha primavera; tudo o que se desfaz em podridão vem nutrir as minhas flores.

(Hans Urs von Balthasar)

Deus somente sabe o túmulo dos tempos e Ele aí bate. Ele fala e o que já está sepultado se levanta, sai da sombra e avança para Ele, pois a morte se retirou diante do Deus da Páscoa.

(Patrice de la Tour du Pin)

 

ORAR

        Lázaro representa toda a humanidade sepultada e atada aos nós da morte que Jesus, por terna compaixão, salvará ao se entregar livremente por amor. Ressuscitar é desatar os nós que nos prendem à realidade cruel de uma sociedade civil e religiosa sustentada pela ganância e pela competição; a uma sociedade que incentiva a promiscuidade do amor; a uma política que tolera e incentiva a corrupção; a igrejas que abandonam o seu papel profético e fazem todas as concessões para esposarem os privilégios do poder. Jesus não é um dos ressuscitados. Jesus é a Ressurreição! A travessia cristã é uma contradição permanente: temos a certeza da morte, mas vivemos esta certeza na imprevisibilidade do quando e do como. Para um cristão, em espírito e verdade, morrer é aprender a se lançar no abismo das entranhas do Amor onde começou a Vida. Na sua mística do viver, a Igreja de Jesus confronta os poderes políticos e religiosos e os coloca em xeque a partir da dimensão espiritual de suas vidas. A fidelidade de Deus é mais forte do que a morte. Ele soprará seu Espírito para fazer viver o seu povo e abrirá os túmulos da desesperança. A escolha é nossa: podemos nos fechar sobre nós mesmos num movimento autodestruidor e suicida ou acolher o transbordamento da ressurreição dada por Deus que é vida em plenitude e abundância. Vivemos tempos sombrios em que “nossos olhos se ressecaram, nossa esperança se extinguiu” (Ez 37, 11). Jesus testemunha que para Ele o mais importante é vencer a morte do que afastar a doença. Amar, para o Cristo, não é arrancar do leito, mas dos Infernos, pois o que prepara para nós, lázaros da existência, não é um remédio para nossas enfermidades, mas a glória da Ressurreição (cf. Pedro Chrisólogo, Sermão 63). Meditemos esta frase desconcertante de Jesus: “Lázaro está morto. Mas por causa de vós, alegro-me por não ter estado lá, para que creiais”. E Aquele que chorou a morte do amigo nos fez saber para todo o sempre de que era necessária esta morte, daquele que Ele amava, para que a nossa fé sepultada com Lázaro ressuscitasse com Ele para a glória bendita de Deus. Somos chamados à liberdade do Espírito, basta ouvirmos no mais íntimo de nós e arriscar na travessia o apelo de Jesus que ecoará até o fim dos tempos: “Desatai-o e deixai-o caminhar!”.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Dom Hélder Câmara, s.d., autoria desconhecida.




 

quarta-feira, 15 de março de 2023

O Caminho da Beleza 17 - IV Domingo da Quaresma

Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).

IV Domingo da Quaresma             

1 Sm 16, 1.6-7.10-13a               Ef 5, 8-14                 Jo 9, 1-41      

 

ESCUTAR

“Não olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu o rejeitei. Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração” (1 Sm 16, 7).

“O que esta gente faz em segredo, tem vergonha até de dizê-lo. Mas tudo que é condenável torna-se manifesto pela luz; e tudo o que é manifesto é luz” (Ef 5, 12-13).

“Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos. Alguns fariseus, que estavam com ele, ouviram isso e lhe disseram: ‘Porventura também nós somos cegos?’. Respondeu-lhes Jesus: ‘Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas, como dizeis ‘nós vemos’, o vosso pecado permanece’” (Jo 9, 39-41).

 

MEDITAR

 É o amor das riquezas que causa a cegueira, a loucura dos homens e a sua perversidade.

(Théognis de Mégare)

“O pior cego é o que quer ver”.

(João Guimarães Rosa)

 

ORAR

       A unção de Davi se passa em Belém, o lugar onde mil anos mais tarde nascerá Jesus, um lugar insignificante entre os clãs de Judá. Davi, pastor, era o mais jovem dos filhos de Jessé. Foi o escolhido pelo Senhor, mesmo não sendo o primogênito conforme a lei. Toda eleição divina é sempre desconcertante, pois a sua dileção recai sobre os humildes e os pequenos. O Evangelho narra o episódio da cura do cego na maior festa judaica, a festa das Tendas, impregnada de uma espera impaciente e fervorosa do Messias. Os filhos das trevas não abrem nenhuma exceção, mas fazem todas as concessões uma vez que se consideram seus próprios salvadores. No entanto, o Cristo exige exceções para que possamos amar os outros. Jesus abre uma exceção na regra intransigente do sábado para curar o cego. Não concede uma polegada aos defensores aguerridos da Lei e testemunha que só os que decidem praticar o amor abrem e fazem exceções. O Evangelho de Jesus encontra o tom da verdade nos humilhados, nos machucados e nos que são considerados um nada por aqueles que só sabem calcular seus “custos e benefícios” e investem as suas vidas para “agregar valor” aos sistemas políticos e religiosos da exclusão. Curar um cego é um ato de Deus e esta crença está na raiz do mundo judaico que a sabia de cor! No livro do Êxodo, quando Moisés se inquieta com a missão que Deus lhe confiava, disse: “Perdão, meu Senhor. Eu não tenho facilidade de falar, nem antes nem agora que falastes ao teu servo; tenho boca e língua travados. O Senhor replicou: ‘Quem dá a boca ao homem? Quem o torna mudo ou surdo, o que vê ou o cego? Não sou eu, o Senhor?” (Ex 4, 10-11). O evangelista é incisivo: “Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos”. A cura da cegueira coincide com o nascimento da fé: “Eu creio, Senhor”, afirma o que agora vê. O que era cego sai, pouco a pouco, da sua noite, enquanto os fariseus chafurdam nas trevas da inveja, da mentira, da contradição e fazem de Jesus, apesar das evidências, um possuído que não respeita o sábado e dissipa o mal pelo mal. Paulo reconhece esta cisão e exclama: “Somos o aroma de Cristo oferecido a Deus para os que se salvam e para os que se perdem. Para estes, cheiro de morte que mata; para aqueles, fragrância de vida que vivifica” (2 C0r 2, 15). A declaração pública de Jesus: “Eu sou a Luz do Mundo” (Jo 8, 12) é uma declaração afrontosa aos filhos das trevas espalhados em todas as instituições políticas, sociais e religiosas que só se preocupam com o poder para serem servidos e dele se servir. Jesus veio para remover a cegueira dos homens e, sobretudo, a pior cegueira, a soberba, que é a do cego que quer ver. Os corações interesseiros são e serão sempre movidos pelo veneno da ingratidão e, revestidos da hipocrisia das belas almas, “participam nas obras estéreis das trevas”. Somos nós que nos julgamos diante da Palavra da Verdade: uns se enclausuram na revolta e na mentira e outros se abrem cada vez mais à vida, à verdade e à liberdade de amar. A Igreja de Jesus deve ser humilde para reconhecer, muitas vezes, a sua cegueira no meio do Povo de Deus que se sente perdido com tanta pompa e com tanta circunstância. Que o Santo Espírito nos alinhe entre os cegos, os surdos e os paralíticos, pois é a única condição para que sejamos renovados pela Páscoa do Senhor e, admiravelmente, recriados para a vida eterna.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Cura do homem cego, c. 1950, Edy-Legrand (1892-1970), obra a carvão em Bíblia editada por François Amiot e Robert Tamisier, França, 1950.




quarta-feira, 8 de março de 2023

O Caminho da Beleza 16 - III Domingo da Quaresma

Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).

III Domingo da Quaresma

Ex 17, 3-7                     Rm 5, 1-2.5-8                   Jo 4, 5-42

 

ESCUTAR

“Então o povo começou a disputar com Moisés, dizendo: ‘Dá-nos água para beber!’. Moisés respondeu-lhes: ‘Porque disputais comigo? Por que tentais o Senhor’. Mas o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés e dizia: ‘Por que nos fizestes sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado’” (Ex 17, 2-3).

“E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5, 5-8).

“Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna... Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (Jo 4, 14.23).

 

MEDITAR

Morrer ou amar Deus: não tenho outro desejo. A morte ou o amor: pois viver sem amor é pior que a morte e isto me seria mais insuportável do que a vida presente.

 (Pe. Pio)

 

ORAR

   Esta é a primeira cena de intimidade de Jesus com uma mulher; a outra é com Maria Madalena no jardim da Ressurreição. Jesus está só com estas mulheres e para elas revela o seu ser mais profundo. O evangelho acentua a insistência de Jesus sobre o dom, pois com o Deus de Amor tudo é entrega e compaixão. A samaritana simplesmente acolhe o dom e o perdão. Jesus ao falar da fonte transbordante quer dizer que a água que jorra dos corações, doravante, saciará a todos. A samaritana, ao declarar que encontrou o Messias, revela ao mundo que o Messias esperado é aquele que é capaz, sem nenhuma discriminação, do dom e do perdão. Jesus escolhe este momento de fragilidade para declarar o seu verdadeiro título e revelar a sua missão. Do presépio à cruz, passando por um pedaço de pão ázimo, Jesus desconcerta sempre e o ponto culminante disto é quando reconhece sua proclamação como rei, quando interrogado no cárcere: “És tu o rei dos judeus?” e Jesus declara: “Tu o dizes” (Mt 27, 11). Jesus desvela para esta mulher a chave do mistério da existência: “Se tu conhecesses o dom de Deus”. Ele é o depositário do segredo que os homens não conhecem. Ele, fatigado, sedento, que solicita um pouco de água para se refrescar, é o mesmo que oferece a água viva. O detalhe sutil sobre as bodas e o esposo pode nos passar desapercebido. Jesus pede que a samaritana chame o seu marido, pois um homem não podia prolongar uma conversa com uma mulher fora da presença do seu esposo. O evangelista acentua o significado profundo desta ausência do marido. Jesus, em Caná, assumiu o papel do esposo ao proporcionar aos convidados o vinho que faltara; João, o Batista, lhe confere o título de esposo e se auto-intitula “o amigo do Esposo”. Os tempos messiânicos são os tempos da renovação da Aliança esponsal de Deus com o seu povo. Jesus, na sua liberdade ousada, propõe uma Nova Aliança e a oferece a todos, sem discriminação: aos pecadores, aos excluídos da Sinagoga, aos proscritos da sociedade, aos não-judeus e aos samaritanos. A Samaria, que fora desligada da Aliança, vai, neste momento, realizá-la graças a esta mulher que anunciará a toda cidade que encontrara o “Salvador do Mundo”. É pela Samaria que se iniciará a evangelização fora da Palestina e será um sucesso (cf. At 8, 5). O evangelista encerra o seu relato evocando o título que os primeiros samaritanos convertidos dão a Jesus: Salvador do Mundo. Mais uma vez são os proscritos que nos revelam e anunciam a universalidade da salvação. A Igreja de Jesus deve saber que somente o transbordamento do amor – o servir a todos sem discriminação – rompe o círculo de uma comunidade limítrofe, medíocre e isolada que bebe de qualquer coisa para iludir a sua sede. Paulo nos reitera que “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Nesta quaresma, somos chamados a manter viva a nossa esperança e a nossa sede de viver para proclamar como o poeta: “Cheio de Deus não temo o que virá, pois venha o que vier nunca será maior do que a minha alma” (Fernando Pessoa).

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Cristo e a Mulher da Samaria, 1828, George Richmond (1809-1896), têmpera e ouro sobre mogno, 410 x 498 mm, Tate Gallery, Reino Unido.