quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Caminho da Beleza 42 - XXIII Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 42
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXIII Domingo do Tempo Comum            08.09.2013
Sb 9, 13-19              Fm 9-10.12-17                   Lc 14, 25-33


ESCUTAR

“Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Ou quem pode imaginar o desígnio do Senhor” (Sb 9, 13).

“Caríssimo, eu, Paulo, velho como estou e agora também prisioneiro de Cristo Jesus, faço-te um pedido em favor do meu filho que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo” (Fm 9-10).

“Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 26).


MEDITAR

“Deus é amor. Mas o amor pode também ser odiado, quando exige do homem que saia de si próprio para ir além de si mesmo. O amor não é um romântico sentimento de bem-estar. Redenção não é wellness, bem-estar, um mergulho na autocompacência, mas uma libertação do auto-fechamento no próprio eu.” (Bento XVI).

“Deixamos pouco espaço para que esse poema que é Jesus Cristo se organize em nós e se torne verdadeiramente o canto de nossa vida” (Maurice Zundel).

ORAR


As igrejas se exaurem cada vez mais pela quantidade de pessoas que alardeiam, com uma segurança assombrosa, conhecer a “vontade de Deus”. E a “vontade de Deus” sempre está de acordo com seus interesses, caprichos e atos duvidosos. Os dogmatismos mais vergonhosos celebram triunfos inenarráveis pelas suas intolerâncias e discriminações. Urge suplicar ao Senhor que nos envie um suplemento de sabedoria. Jesus ensina no seu evangelho uma sabedoria que vai contra a corrente. Nenhuma decisão pode ser tomada às pressas e, num momento de euforia, é preciso ter uma disposição para o cansaço, uma aceitação da cruz e uma determinação de ir até as últimas consequências. Jesus não legitima nenhuma comodidade. Ele propõe uma reviravolta na escala de valores: a renúncia de todos os bens, a disponibilidade para entrar na lógica louca do amor, da doação, no abandono dos cálculos egoístas e das reservas ditadas pelo desejo de “administrar” prudentemente a própria vida. A decisão fundamental de seguir a Cristo exclui as meias medidas, as cômodas desculpas e os caprichos pessoais. Jesus testemunha que a única eleição equivocada é a neutralidade, o único compromisso imperdoável é não se comprometer e a única posição intolerável é a indiferença.

CONTEMPLAR

Jesus carregando sua cruz, Michel Ciry, 2006(?), óleo sobre tela, Museu Michel Ciry, Varengeville-sur-Mer, Normandia, França.

O Caminho da Beleza 41 - XXII Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 41
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXII Domingo do Tempo Comum              01.09.2013
Eclo 3, 19-21.30-31                     Hb 12, 18-19.22-24              Lc 14, 1.7-14

ESCUTAR


“Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. À medida que fores grande, deverás praticar a humildade e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios” (Eclo 3, 19-20).

“Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém” (Hb 12, 22).

“Porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado” (Lc 14, 11).

MEDITAR

 “O Deus, que transforma minha vida, insufle uma esperança própria para me fazer considerar a minha vida e aquela que me cerca com um olhar diferente, e me faça participar do Reino pela justiça, na condição dos humildes e pobres” (Cardeal Martini).

"O mal do nosso tempo é a superioridade. Há mais santos do que nichos." (Honoré de Balzac).

ORAR

A humildade ainda não foi apagada da lista das virtudes. Quem faz coisas verdadeiramente importantes não precisa inflacioná-las, amplificá-las para chamar a atenção e a admiração do público. O sábio não é o que exerce a prática do ensino, mas a reflexão: “medita sobre os enigmas” e o sinal da sabedoria é “o ouvido atento”. O sábio é definido pelo seu desejo de entender e pela capacidade de escutar. A humildade serve para tornar um pouco menos insuportável a convivência conosco mesmo. O “inferno não são os outros”, como afirmava Sartre, mas nós mesmos. São João da Cruz pregava: “Deus nos livre de nós mesmos”. Jesus condena todo carreirismo, a atitude arrivista desenfreada, a vaidade escancarada, a ostentação vergonhosa e as torpes auto-promoções. No banquete do Reino será considerada a pequenez e a humildade será a titulação mais valorizada, pois o pouco com Deus é muito. Jesus anuncia que na mesa do Reino as precedências serão invertidas: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz, porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. A hospitalidade oferecida aos segregados deve representar a abolição concreta da exclusão e constitui uma espécie de garantia para não sermos excluídos do Reino. Os pequenos nos revelam o segredo da grandeza; os excluídos nos outorgam a permissão para entrar e os solitários nos asseguram a comunhão. O encontro com Deus pelo Ressuscitado acontece num clima de festa e de convívio e não mais de fenômenos grandiosos. Surge o rosto humano de Jesus e os únicos sinais serão os nossos nomes escritos nos céus.


CONTEMPLAR

O orgulho, Arcabas (Jean-Marie Pirot), 1985, acetato de polivinil, areia de silício, carborundum, ouro batido 23 k, Igreja de Saint-Hugues-de-Chartreuse, Isère, Grenoble, França.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O Caminho da Beleza 40 - XXI Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 40
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).

XXI Domingo do Tempo Comum                25.08.2013
Is 66, 18-21             Hb 12, 5-7.11-13                Lc 13, 22-30

ESCUTAR


“Eu, que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas ; eles virão e verão minha glória” (Is 66, 18).


“Pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho” (Hb 12, 6).

“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13, 24).


MEDITAR


“Uma religiosidade que conceba Deus como o defensor dos próprios privilégios e da própria riqueza, não merece o nome de religiosidade senão o de superstição ou idolatria, por mais que esta superstição se queira corrigir depois com outras exigências morais” (A. Pieris).

“Julgamento – isto, é o que a gente tem de sempre pedir! Para que? Para não se ter medo! É o que comigo é (...) Se a condena for às ásperas, com a minha coragem me amparo. Agora, se eu receber sentença salva, com minha coragem vos agradeço. Perdão, pedir, não peço: que eu acho que quem pede, para escapar com vida, merece é meia-vida e dobro de morte” (João Guimarães Rosa, Grande Sertão:Veredas).


ORAR


Devemos aprender a viver na imprevisibilidade: não querer saber nem “o dia e nem a hora”; nem se são “poucos os que se salvam” e nem assegurar os “primeiros lugares” (Mt 18, 1). Jesus se recusa a satisfazer este tipo de curiosidade e para isto introduz, nas nossas vidas, o elemento surpresa. A surpresa está não só na proveniência insólita e para muitos suspeita dos que serão admitidos ao banquete, mas também no tipo de categoria dos excluídos: “Nós comemos e bebemos diante de ti e tu ensinaste em nossas praças”. Corremos o perigo dos que se consideram privilegiados e se dão conta de que a ordem das precedências foi invertida: “Há últimos que serão os primeiros e primeiros que serão os últimos”. A salvação é universal, mas não deve ser confundida com facilidade. Se o horizonte é sem medidas, o evangelho nos surpreende com a imprevisibilidade de uma porta estreita e ninguém está autorizado a alargá-la, nem muito menos eliminá-la. Precisamos nos desapegar de tudo o que pode criar obstáculos pela estreiteza da porta de entrada. Uma porta construída exclusivamente com material evangélico: amor e justiça alicerçados na humildade e no serviço. Tudo está colocado à luz do amor, tanto o horizonte imenso como a porta estreita; tanto o banquete universal quanto a dura exclusão dos que forçam a entrada por meio de suas pretensões farisaicas de uma fidelidade puramente exterior. O Senhor nos faz saber que, paradoxalmente, só passaremos pela porta estreita ampliando os horizontes e dilatando o coração.


CONTEMPLAR

A Vitória, René Magritte, 1939, guache, 45 x 35 cm, Galeria Isy Brachot, Bruxelas, Bélgica.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O Caminho da Beleza 39 - Assunção de Nossa Senhora


O Caminho da Beleza 39
Leituras para a travessia da vida

A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Assunção de Nossa Senhora             18.08.2013
Ap 11,19; 1.3-6.10            1 Cor 15, 20-27                  Lc 1, 39-56


ESCUTAR

“Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas” (Ap 12, 1).

“O último inimigo a ser destruído é a morte. Com efeito, Deus pôs tudo debaixo de seus pés” (1 Cor 15, 26-27).

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1, 42).


MEDITAR

“Que fazer para socorrer os pobres? Despe o altar da Virgem e vende os seus adornos se não tiver outra saída. Acreditem: ela ficará muito mais feliz que o Evangelho do seu Filho seja observado despindo os altares do que conservar os adornos e as riquezas do altar desprezando nos pobres o seu próprio Filho!” (São Francisco de Assis a Pietro Cattani, Fontes Franciscanas).

“Diz-se que é bendito o homem, é bendito o pão, é bendita a mulher, é bendita a terra e as outras criaturas que pareçam dignas de serem benditas; mas de modo especial é bendito o fruto do teu ventre, porque sobre todas as coisas ele é Deus bendito por todos os séculos. Portanto, bendito é o fruto do teu ventre. Bendito por seu perfume, bendito por seu sabor, bendito por sua beleza” (São Bernardo de Claraval, Sermão para a Festa de Nossa Senhora).


ORAR

Não podemos profanar a beleza de Maria pela nossa falta de pudor, pela perda do senso de proporção, pela falta de respeito e pelo abandono da justa medida. Um devocionismo exarcebado, ainda que seja rotulado como religiosidade popular, pode estar desconectado de um profundo contato com a Escritura e longe de ser uma expressão de fé denuncia, sem piedade, um vazio de fé. Nossa fé não pode se enganar e querer se alimentar de milagres que, muitas vezes, representam a derrota da fé cristã. A Constituição Conciliar Lumen Gentium é clara: “Exortam-se os teólogos e pregadores a evitar os excessos, bem assim como uma demasiada estreiteza mental ao considerar a especial dignidade da mãe de Deus [...] Lembrem-se de que a verdadeira devoção dos fiéis não pode ser confundida com um sentimento estéril e passageiro, nem com uma pura credulidade”(67). O Evangelho apresenta Maria de Nazaré como uma criatura do silêncio e sua presença é velada pela discrição. A mãe desaparece totalmente no Filho. Um Deus que se faz homem, que se manifesta visivelmente em nossa carne, encontra uma mãe que se atribui a parte da não visibilidade. Diante desta obra de arte de Deus que é a Virgem – “uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas” – a justa posição se define pela contemplação e pelo silêncio. A mulher de hoje foge ao deserto precisamente porque está ameaçada por um dragão que, com a intenção de lhe prestar honras e louvores, termina por desnaturalizar a sua vocação. O papa João XXIII advertia: “Com a Virgem é necessário ir muito lentamente”, ou seja, evitar as instrumentalizações, a retórica e os sentimentalismos. A devoção à Virgem é autêntica se nos faz frequentar o terreno profundo da interioridade, da meditação, da contemplação, do compromisso concreto, do mistério cotidiano que se alimenta da fé e não de superstição. A devoção à Virgem é verdadeira quando se opõe à nossa civilização ruidosa e se constitui um antídoto à superficialidade do espetáculo. Maria nos ensina que Deus emerge no silêncio e somente na imersão do silêncio é que podemos perceber a sua voz. Maria prepara o berço da Igreja como preparou o berço de Jesus e continua a embalar com o seu cântico a Igreja de Jesus para que ela jamais se afaste da sua missão profética de cumprir os desígnios de justiça do Senhor: “Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias”.


CONTEMPLAR

As Grandes Portas de Bronze da Catedral de Nossa Senhora dos Anjos (detalhe da estátua de Maria), Robert Graham, 2002, bronze fundido, folha de ouro, 30 x 30 pés, 25 ton., entrada principal da Catedral Nossa Senhora dos Anjos, Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O Caminho da Beleza 38 - XIX Domingo do Tempo Comum


O Caminho da Beleza 38
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XIX Domingo do Tempo Comum                11.08.2013
Sb 18, 6-9                Hb 11, 1-2.8-19                  Lc 12, 32-48


ESCUTAR

“A noite da libertação fora predita a nossos pais para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se conservassem intrépidos” (Sb 18, 6).

“A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem” (Hb 11, 1).

“Porque onde está o vosso tesouro aí estará também o vosso coração” (Lc 12, 34).


MEDITAR

“Somente na ação é que se encontra a liberdade. Abandona o vacilar medroso e enfrenta a tempestade dos acontecimentos, sustentado somente pelo mandamento de Deus e por tua fé, e a liberdade envolverá jubilosa o teu espírito” (Dietrich Bonhoeffer).

“Os nossos sonhos são demasiado pequenos e, se Deus os desfaz, é para que nos possamos aventurar no espaço mais vasto da sua Vida. Deus liberta-nos de pequenas ambições para que possamos aprender a ter uma esperança mais extravagante” (Timothy Radcliffe).



ORAR

Nossos hinos de louvor a Deus não podem ser confundidos com os Te Deum entoados com excessiva frequência pelos tiranos nos seus regimes autoritários e nem deveríamos celebrar a missa em praça pública no aniversário das cidades destruídas pela corrupção dos seus governantes. Perdemos a denúncia profética e não temos autoridade religiosa para denunciar, como o papa Francisco, “os que exploram a pobreza dos outros, e para quem a pobreza dos outros é uma fonte de lucro” (Homilia em Lampedusa, 08.07.2013). A luz da páscoa e a sua alegria brilham somente quando nenhum homem é pisoteado em sua dignidade e em sua liberdade. A vigilância, especialmente quando a noite parece que nunca vai terminar, se sustém pela esperança e exige uma mentalidade de peregrinos, com nossos rins cingidos e lâmpadas acesas; a lucidez ante os perigos que nos ameaçam; uma fidelidade constante e uma grande sabedoria para aprender a ler os sinais, interpretar a mudança dos ventos e a coragem de responder aos novos desafios. O passado passou ainda que seja importante para nos fazer avançar cada vez mais. Recebemos em abundância para sermos ousados e não paralisados pelo medo. A fé é viver como se víssemos o invisível; como se possuíssemos o que não temos; como se apostássemos sobre o impossível. A fé não se encontra segura nos templos, nos palácios do governo, nas universidades, como um selo de garantia. A fé está em casa quando está em tendas cuja dinâmica é marcada pelo provisório e pelo transitório que respondem por uma peregrinação constante. Como afirma o cardeal Walter Kasper: “Deus se revela como Deus do caminho e como guia no percurso de uma história que não pode ser consolidada na partida, mas na qual Ele estará sempre presente de uma maneira imprevisível e na qual é sempre novamente o futuro de seu povo”. Os cristãos, ao invés de ficarem instalados, preferem a espera de contínuas e incômodas saídas para desafiadoras viagens. Os cristãos não se consideram depositários e guardiões dos pensamentos de Deus ou de uma doutrina sobre Deus, mas se sentem tocados por suas promessas. Por isso, debaixo de suas tendas não se preocupam em doutrinar-se, mas em contar estórias e causos de suas travessias. Peçamos também nós o perdão, como o papa Francisco, “por termos nos acomodado, nos fechado em nosso próprio bem-estar que leva à anestesia do coração”.

CONTEMPLAR

Francisco renuncia aos bens paternos, Giotto (?), c. 1290, afresco, 230 x 270 cm, Basílica Superior de São Francisco, Assis, Itália.