segunda-feira, 26 de junho de 2017

O Caminho da Beleza 32 - São Pedro e São Paulo

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

São Pedro e São Paulo             02.07.2017
At 12, 1-11                2 Tm 4, 6-8.17-18            Mt 16, 13-19


ESCUTAR

“Levanta-te depressa!” (At 12, 7).

Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé (2 Tm 4, 7).

“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).


MEDITAR

Daí, de haver-te alguém querido um dia,
sei que também temos o direito de querer-te.
Mesmo que toda profundeza rejeitássemos:
se uma montanha tem ouro,
e ninguém mais quer explorá-lo,
um dia há de trazê-lo à tona o rio
que em pesado silêncio vai trabalhando
as pedras.

Ainda que não queiramos:
Deus amadurece.

(Rainer Maria Rilke)


ORAR

Pedro é o rude pescador da Galileia e Paulo o brilhante aluno de Gamaliel. Existem carne e sangue nestes homens o que torna mais surpreendente neles a obra do Espírito. Pedro é o primeiro a se lançar no mar, o primeiro a responder a Cristo, mas ainda tem um coração incircunciso que só sabe opor à violência a sua própria violência. Pedro é fogoso e tem um coração capaz de extremas generosidades, mas ignora a virulenta presença dos seus conflitos e contradições. Pedro é de um ardor febril, mas Jesus toca a fonte do ardor de Pedro na qual se origina a sua energia perversa, desce ao inferno dele e o cura. A febre de Pedro se torna fogo e um fogo que deve apascentar as ovelhas ainda que possa lhe custar a própria vida. Pedro e Paulo são contrastantes. Paulo abre os caminhos e Pedro confirma a Igreja. Pedro usa de evasivas e subterfúgios, Paulo resmunga e o Evangelho progride. Paulo é sutil como afirma Pedro: “Pensai que a paciência de Deus para convosco é para a vossa salvação, como vos escreveu vosso querido irmão Paulo, com a sabedoria que lhe foi concedida (2 Pd 3, 15). Pedro é versátil, tem uma tendência a mudar de temperamento, e Paulo o repreende e censura na presença de todos: “Se tu, que és judeu, vives de modo pagão, como obrigas os pagãos a viver como judeus?” (Gl 2, 14). Esta censura era pela incoerência de Pedro que, antes da chegada dos discípulos de Tiago, costumava comer com os pagãos e quando chegaram “ele se retraía e se afastava por medo dos judeus” (Gl 2, 12). Sua atitude lembra a todos os cristãos que também a nossa lealdade ao Evangelho será acompanhada de incompreensões e infidelidades. Apesar de tudo, a universalidade da salvação une os dois apóstolos: “O Senhor não quer que ninguém se perca” (2 Pd 3, 9) e “sejam salvos” (1 Tm 2, 4).


CONTEMPLAR

Bucur Obor, 2013, Centro Comercial em Bucareste, Romênia, Thomas Leuthard (1971-), Zug, Suíça.


segunda-feira, 19 de junho de 2017

O Caminho da Beleza 31 - XII Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XII Domingo do Tempo Comum                 25.06.2017
Jr 20, 10-13                        Rm 5, 12-15                        Mt 10, 26-33


ESCUTAR

“Todos os amigos observavam minhas falhas” (Jr 20, 10).

O dom da graça de Deus não é comparável à falta de Adão (Rm 5, 15).

“Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não Tenhais medo!” (Mt 10, 30).


MEDITAR

O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo.

(João Guimarães Rosa)


ORAR

Não há motivo para temer a Deus como se fosse um carrasco pronto a nos arremessar nas profundezas do inferno. Como temer se Jesus nos exorta: “Não tenhais medo”? As igrejas nos catequizaram pelo medo do inferno e submeteram nossas consciências ao terror e à angustia. Somos uma geração cristã do medo de ser e do horror de existir. Somos chamados a nos arriscarmos no amor, mas o amor não pode recorrer à força para se fazer valer e nem à lei para fazer valer os seus direitos. A única razão do amor é o amor. Se nos inteiramos de que alguém nos quer, não por nós, mas para obedecer a Deus, isto prejudica o carinho autêntico. O amor é verdadeiro quando se expressa como amabilidade, como forma de vida que atrai, que seduz e que torna agradável a convivência. Sempre usamos Deus como escudo, para-raio, refúgio blindado e um tipo de edredon religioso para cobrirmos as nossas cabeças até que o medo passe. No entanto, o Deus de Jesus – o Pai – está conosco para que enfrentemos a vida em todas as suas circunstâncias. A fé nos expõe e não tem nenhuma função impermeável. Nada acontece fora de Deus e de sua presença silenciosa. Paulo nos afirma que “não há proporção entre a culpa e o dom”. A cruz representa o ponto máximo da culpa que ali termina e o amor que dali transborda sobre todos. Este é o paradoxo cristão: o Amor, ainda que derrotado, segue se doando inteiro e sempre. Jesus se empenha em libertar do medo quando em nossos corações cresce a desconfiança, a insegurança e a falta de liberdade interior. Onde cresce o medo, perde-se Deus ao se afogar a bondade existente nos corações. A comunidade cristã deve ser um lugar onde as pessoas se libertam das suas angústias e aprendem a confiar em Deus. Uma comunidade em que se respira uma paz e uma alegria contagiosas e se vive uma profunda amizade entranhada de liberdade em que ecoa a voz do Cristo: “Não tenhais medo!”.


CONTEMPLAR

Uma Vida na Morte, março 2013, Nancy Borowick (1985-), World Press Photo, Associated Press Photo, Chappaqua, Nova Iorque, Estados Unidos.





terça-feira, 13 de junho de 2017

O Caminho da Beleza 30 - XI Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XI Domingo do Tempo Comum                   18.06.2017
Ex 19, 2-6                Rm 5, 6-11              Mt 9, 36-10,8


ESCUTAR

“Sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos, porque minha é toda a terra” (Ex 19, 5).

Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho (Rm 5, 10).

Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas que não têm pastor (Mt 9, 36).


MEDITAR

Não basta lamentar e denunciar as feiuras do nosso mundo. Não basta para a nossa época desencantada, nem falar de justiça, de deveres, de bem comum, de progressos pastorais e de exigências evangélicas. É necessário falar com um coração carregado de amor compassivo, fazendo experiência daquela caridade que dá com alegria e suscita entusiasmo: necessita-se irradiar a beleza do que é verdade e justo na vida, porque somente esta beleza rapta verdadeiramente os corações e os encaminha para Deus. A beleza que salvará o mundo é o amor que partilha a dor.

(Cardeal Martini, Catolicismo)


ORAR

Deus quer um povo, ou seja, um organismo vivo, sujeito responsável de uma história, protagonista e interlocutor. Jesus se encontra diante de uma multidão amorfa, anônima e impessoal. Números mais do que rostos. Quantidade mais do que pessoas. Objeto manipulável, instrumentalizável, suscetível de ser enganado. Estas pessoas estão extenuadas porque vivem na dispersão e no abandono, não são reconhecidas e são exploradas, descaradamente, pelos mais diversos interesses. Na multidão, cada um leva escondido o seu próprio mistério e as próprias dores. Jesus envia seus discípulos para transformar as multidões no novo Povo de Deus. A missão dos discípulos é fazer com que as pessoas estejam conscientes desta nova realidade: somos chamados a ser povo ao reconhecermos que podemos realizar o mesmo desígnio divino. Somos portadores de um amor e não de uma doutrina. O Vaticano II afirma: “Povo de Deus é aquele que pratica a justiça” (Lumen Gentium 9). Tenhamos em mente o discurso de Pedro: “Agora eu sei que, de fato, Deus trata a todos de modo igual, pois aceita a todos, os que O temem e fazem o que é direito, seja qual for a sua raça” (At 10, 34-35). O olhar de Jesus não era como o dos fariseus radicais que só viam a impiedade, a ignorância da lei e a indiferença religiosa. Nem o olhar de João Batista que via no povo o pecado e a perversão diante da chegada eminente de Deus. O olhar de Jesus estava pleno de carinho, respeito e amor: “vendo a multidão se compadeceu dela porque estava maltratada e abatida, como ovelhas sem pastor”. Para Jesus, as pessoas são mais vítimas do que culpadas. As igrejas se converterão ao Evangelho quando olharem as pessoas com o olhar de Jesus: mais como vítimas do que culpadas; quando se fixarem mais em seus sofrimentos do que em seus pecados; quando olharem a todos com menos medo e mais compreensão. Não recebemos de Jesus a autoridade para condenar, mas para curar e consolar. Jesus quis discípulos que olhassem o mundo com ternura. Discípulos dedicados a aliviar a angústia, o sofrimento e a devolver a esperança aos desesperançados. Esta é a nossa herança e nenhuma outra.


CONTEMPLAR

O menino com uma flor, GianStefano Fontana Vaprio (1971-), acessado em Pinterest, Caravaggio, Itália.





segunda-feira, 5 de junho de 2017

O Caminho da Beleza 29 - Santíssima Trindade

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

Santíssima Trindade                11.06.2017
Ex 34, 4-6.8-9                   2 Cor 13, 11-13                   Jo 3, 16-18


ESCUTAR

“Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel” (Ex 34, 6).

Alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco (2 Cor 13, 11).

Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele (Jo 3, 17).


MEDITAR

Meu coração está aberto a todas as formas:
é uma pastagem para as gazelas,
e um claustro para os monges cristãos,
um tempo para os ídolos,
A Caaba do peregrino,
As Tábuas da Torá,
e o livro do Corão.
Professo a religião do amor,
em qualquer direção que avancem Seus camelos;
a religião do Amor
será minha religião e minha fé.

(Ibn Arabi, 1165-1240, Islã).


É Deus que torna juntas as coisas dispersas e que dispersa as coisas unificadas.

(Provérbio Bashi, República do Congo)


ORAR

Devemos lamentar que durante muito tempo no Ocidente o mistério trinitário ficou hipotecado nas especulações abstratas dos teólogos, confinado nas metafísicas e sepultado nos pós das bibliotecas. No entanto, a Igreja do Oriente nunca cessou de apresentar a Igreja como um “ícone da Trindade”, pois a vida comunitária sempre foi considerada como um dinamismo vital do mistério trinitário. Nas igrejas ocidentais se tivéssemos tido a coragem de libertar a Trindade do intelectualismo metafísico teríamos evitado a preponderância do aspecto burocrático-administrativo e institucional: a tônica exasperada no elemento jurídico, os aparatos centralizadores, a hipertrofia das estruturas e a obsessão aos dogmatismos doutrinais. Devemos colocar juntos na vida das igrejas o absoluto da pessoa e o absoluto da comunhão que nos faz superar os autoritarismos e sectarismos. A referência trinitária nos faz descobrir e viver a unidade na diversidade, na comunidade eclesial e no mundo, e nos faz estar a serviço da circulação da vida e do amor. A comunidade eclesial é o lugar privilegiado da visibilidade em que cada um reconhece, reciprocamente, o  direito de se expressar livremente e a coragem para fazê-lo. A comunidade não pode se contentar em ser somente uma justaposição de indivíduos, mas deve atingir o ser-em-comunhão.  A comunidade avança quanto mais avança a fraternidade como sinal do amor do Pai, revelado pelo Filho e infuso em nossos corações no Espírito. A comunidade deve proclamar o nome de Deus revelado a Moisés: “Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel”. É o amor recíproco vivido na comunidade que evangeliza. O mistério é subversivo porque amar é subversivo. Somente na ternura humana encontramos a Trindade. Para Jesus, Deus é uma experiência vital. Ele se sabe um Filho amado por um Pai generoso que entra no mundo para humanizar a vida com seu Espírito. Meditemos as palavras de Francisco: “A ternura de Deus não ama de palavra; Ele se avizinha e neste seu estar vizinho dá o seu amor com toda a ternura possível. Vizinhança e ternura são as duas maneiras do amor do Senhor. Um Deus que não salva mediante um decreto, uma lei, mas que salva com e pela ternura” (Santa Marta, 22.10.2013).


CONTEMPLAR

S. Título, 1977, affiche do London Contemporary Dance Theater,  Thèâtre de la Ville, Paris, França.