Sagrada Família 27.12.2015
Eclo 3, 3-7.14-17 Cl 3, 12-21 Lc 2, 41-52
ESCUTAR
Quem
respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua
mãe (Eclo 3, 7).
Vós
sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de
sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos
uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro
(Cl 3, 12-13).
Jesus
respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu
Pai”. Eles, porém, não compreenderam as palavras que lhes dissera (Lc 2, 49-50).
MEDITAR
Jesus
afirma que, a partir de agora, a regra de vida de seus discípulos deverá ser
aquela que prevê o primado da misericórdia, como Ele mesmo dá testemunho
partilhando a refeição com os pecadores... Jesus vai além da lei, a sua
partilha da mesa com aqueles que a lei considerava pecadores permite
compreender até aonde chega a sua misericórdia (Francisco, Misericordiae Vultus).
ORAR
Na tradição do Antigo Testamento a família era
constituída para procriação e repousava sobre uma estrutura patriarcal de
parentesco cujo principal cuidado era a perpetuação de uma linhagem. A família de Jesus é uma reviravolta
nesta tradição. Maria, como rezava a tradição, havia sido “prometida a um homem
chamado José, da família de Davi” (Lc 1, 27), mas o Arcanjo Gabriel lhe anuncia
algo absolutamente revolucionário: a nova
família será constituída a partir de afinidades eletivas e escolhas
amorosas. Ouvir a palavra, responder com um sim
incondicional e estar absolutamente disponível são os novos pilares desta
nova estrutura familiar na qual o amor recíproco e o crer sustentam a
comunidade cristã e cada família nas
suas plurais formas de existir. José e Maria ensinam – ele em estado de sono e
ela em estado vigília – que devemos estar sempre, consciente ou inconscientemente,
disponíveis para escutar e acolher a palavra de Deus. Não podemos nos
confundir: existe um abismo entre sermos pais e genitores. Um homem e uma
mulher precisam de alguns segundos para se tornar genitores e são estes que vêm
seus filhos como propriedade particular, preocupados em fazer crescer o
patrimônio familiar e em continuar o sobrenome da família. Na família de Deus,
gerada a partir de Maria, José e Jesus, ser pai, mãe e filho é uma aventura de
outra natureza. É uma escolha amorosa, uma afinidade eletiva e um compromisso
de entrega para educar e conduzir os seus filhos e filhas para opções de
liberdade que poderão gerar mais vida e mais desejos. Para a mentalidade
retrógada dos que se reduziram à família nuclear burguesa tudo escandaliza
nesta Santa Família. A família de Deus se concretiza de uma forma
extraordinária aos padrões convencionais sacralizados: José, um homem sem
mulher; Maria, uma virgem sem esposo e Jesus, uma criança sem pai. Deus revela,
para todo o sempre, que o mais importante é a adoção pelo coração, o centro da
vida. A revelação perturbadora é a de que só existem pais adotivos que superam
a sua condição de genitores biológicos quando há a atitude radical da
disponibilidade de dar a sua vida pelos que amam. Esta, segundo Jesus, é a
maior prova de amor. A Sagrada Família nos ensina que devemos viver e preparar
os nossos filhos para a imprevisibilidade de Deus. Somente o exercício da
oração e do silêncio poderá trazer, como trouxe aos pais de Jesus, a
inteligência da carne, do coração e do espírito. E, neste silêncio, poderemos
descobrir, como afirma Paulo, que “somos cidadãos do céu” (Fl 3, 20). A família
de Deus é cósmica e nela se cumpre a Sua promessa: “Eis que farei novas todas
as coisas e renovarei o universo!” (Ap 21, 5).
CONTEMPLAR
Mãe
nutrindo bebê enquanto escutava discurso político, 1936,
David Seymour (1911-1956), Guerra Civil Espanhola, Badajoz, Estremadura,
Espanha.
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