segunda-feira, 25 de junho de 2018

O Caminho da Beleza 32 - São Pedro e São Paulo


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

São Pedro e São Paulo             01.07.2018
At 12, 1-11                2 Tm 4, 6-8.17-18            Mt 16, 13-19


ESCUTAR

O rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja para torturá-l0s. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João (At 12, 2).

Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida (2 Tm 4, 6).

“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16, 15).


MEDITAR

O fato de ser justamente Pedro, a Rocha da Igreja, a tornar-se culpado, logo após sua confissão de Jesus como o Cristo e de sua instalação, revela que, logo de início, a Igreja se escandalizou com o Cristo sofredor. Ela não quer semelhante Senhor e, como Igreja de Cristo, não quer permitir que ele lhe imponha a lei do sofrimento. O protesto de Pedro exprime sua relutância em se dispor a sofrer. Deste modo é que Satanás entrou na Igreja, pretendendo arrancá-la à cruz de seu Senhor.

(Dietrich Bonhoeffer, 1906-1945, pastor luterano, morto pelos nazistas, Alemanha)


ORAR

            Não é fácil tentar responder com sinceridade a pergunta de Jesus: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Na verdade, quem é Jesus para nós? Sua pessoa nos chega através de vinte séculos de imagens, fórmulas, devoções, experiências, interpretações culturais... que vão desvelando e velando ao mesmo tempo sua riqueza insondável. Mas, além disso, vamos revestindo Jesus do que somos cada um de nós. E projetamos nele nossos desejos, aspirações, interesses e limitações. E, quase sem dar-nos conta, o diminuímos e desfiguramos, inclusive quando tratamos de exaltá-lo. Mas Jesus continua vivo. Nós cristãos não pudemos dissecá-lo com nossa mediocridade. Ele não permite que o disfarcemos. Não se deixa etiquetar nem se reduzir a uns ritos, fórmulas ou costumes. Jesus sempre desconcerta quem se aproxima dele com postura aberta e sincera. Sempre é diferente do que esperávamos. Sempre abre novas brechas em nossa vida, rompe nossos esquemas e nos atrai para uma vida nova. Quanto mais o conhecemos, mais sabemos que ainda estamos começando a descobri-lo. Jesus é perigoso. Percebemos nele uma entrega aos seres humanos que desmascara nosso egoísmo. Uma paixão pela justiça que sacode nossas seguranças, privilégios e egoísmos. Uma ternura que deixa a descoberto nossa mesquinhez. Uma liberdade que rompe nossas mil escravidões e sujeições. E, sobretudo, intuímos nele um mistério de abertura e de proximidade a Deus que nos atrai e convida a também abrir nossa existência ao Pai. Vamos conhecendo a Jesus, na medida em que nos entregamos a Ele. Só há um caminho para aprofundar-nos em seu mistério: segui-lo.

(José Antonio Pagola, 1937, Espanha).


CONTEMPLAR

Esperando para registrar, 2015, campo de refugiados de Presevo, Sérvia, Matic Zorman (1986-), World Press Photo, Eslovênia.




terça-feira, 19 de junho de 2018

O Caminho da Beleza 31 - Natividade de São João Batista


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Natividade de São João Batista                   24.06.2018
Is 49, 1-6                 At 13, 22-26                       Lc 1, 57-66.80


ESCUTAR

O Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome; fez de minha palavra uma espada afiada (Is 49, 1-2).

“Eu não sou aquele que pensais que eu seja! Mas vede, depois de mim vem aquele do qual nem mereço desamarrar as sandálias” (At 13, 25).

“O que virá a ser este menino?” (Lc 1, 66).


MEDITAR

Seria de volta na Galileia, entre seu próprio povo, que Jesus vestiria totalmente o manto de João e começaria a pregar sobre o Reino de Deus e o julgamento que estava por vir. No entanto, Jesus não simplesmente imitava João. Sua mensagem seria muito mais revolucionária, sua concepção do reino de Deus muito mais radical, e seu senso sobre a própria identidade e missão muito mais perigoso do que qualquer coisa que João Batista pudesse ter concebido. João pode ter batizado com água. Mas Jesus batizaria com o Espírito Santo. O Espírito Santo e o fogo.

(Reza Azlan, 1972-, Irã)


ORAR

            A velha Isabel colocou no mundo o último dos profetas e Maria, uma jovem filha, o Senhor dos anjos. A filha de Aarão colocou no mundo a voz no deserto e a filha do rei Davi a Palavra do Rei celeste. A esposa do sacerdote colocou no mundo o anjo da face de Deus (cf. Is 63, 9) e a filha de Davi o Deus forte da terra. A estéril colocou no mundo aquele que perdoa os pecados e a virgem aquele que os porta (cf. Jo 1, 29). Isabel colocou no mundo aquele que reconcilia os homens pela penitência e Maria aquele que purifica a terra de sua corrupção. A primogênita acendeu um candeeiro na casa de Jacó seu pai, porque este candeeiro é João (cf. Jo 5, 35); a caçula acendeu o sol da justiça para todas as nações (cf. Ml 3,20). Aquele que batiza na água anuncia aquele que batizará no fogo e no Espírito Santo (cf. Mt 3, 11). A luz brilhante anuncia o sol da justiça, aquele que é cheio do Espírito anuncia aquele que dá o Espírito, aquele que viu a pomba e aquele sobre o qual a pomba pousou. A voz anuncia a Palavra.

(Efrém da Síria, 306-373)


CONTEMPLAR


S. Título, s. autoria, acessado em pinterest.com, 2016.






segunda-feira, 11 de junho de 2018

O Caminho da Beleza 30 - XI Domingo do Tempo Comum


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).




XI Domingo do Tempo Comum                   17.06.2018
Ez 17, 22-24                       2 Cor 5, 6-10                      Mc 4, 26-34


ESCUTAR

“Eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço” (Ez 17, 24).

Caminhamos na fé e não na visão clara (2 Cor 5, 7).

O reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4, 26-34).


MEDITAR

É a chuva que cai pouco a pouco que enche o rio.

(Provérbio ancestral do povo Malinke, Senegal)


ORAR

            Falando à multidão por parábolas, Jesus dizia: “o reino de Deus é como um semeador que lança o grão em seu campo”. O cultivador lançou sua semente na terra. Depois é o fim, sua tarefa está cumprida. Ele não pensa mais em sua terra, ele se dedica a suas tarefas diárias. O trigo cresce sem que ele tenha que intervir, sem que ele cuide dele, sem que ele o perceba. A terra frutifica por ela mesma. Nesta despreocupação do camponês se esconde a lição. O Reino cresce semelhante à colheita periódica. A esperança do camponês jamais é frustrada. Assim a esperança do Reino conduzirá a humanidade até a colheita. Jesus revela a certeza que enche sua alma e que o assegura do sucesso de sua mensagem. Não é preciso apressar a hora decisiva. Tão seguramente ela virá, como livremente, inelutavelmente, Deus a prepara no segredo do seu agir. Jesus poderia repetir sua parábola a seus discípulos Tiago e João, quando eles propuseram fazer descer o fogo do céu sobre os samaritanos não hospitaleiros. Os atos de força não convêm ao estabelecimento do Reino De Deus.

(Lucien Cerfaux, 1883-1968, Bélgica)


CONTEMPLAR

Em algum lugar do norte, Sebastião Salgado (1944-), Magnum Photos, foto do livro Gênesis, Taschen, 2013.




terça-feira, 5 de junho de 2018

O Caminho da Beleza 29 - X Domingo Tempo Comum


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).




X Domingo do Tempo Comum                     10.06.2018
Gn 3, 9-15               2 Cor 4, 13-5, 1                 Mc 3, 20-35


ESCUTAR

O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; e me escondi” (Gn 3, 9-10).

Voltamos nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno (2 Cor 4, 18).

Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si (Mc 3, 21).


MEDITAR

O trágico paradoxo do cristianismo está no fato de que saiu vitorioso da época das perseguições para terminar preso dos pequenos burgueses e reduzir-se quase unicamente à falsidade e à hipocrisia.

(Tatiana Goricheva, 1947-, São Petersburgo, Rússia)


ORAR

            Jesus “estava fora de si”. Em certo sentido, eles têm razão. É o Espírito que, uma vez mais, colocou-o “para fora”, tornou-o “desequilibrado”. Não sei se hoje há muitos cristãos que, imitando o modelo de Cristo, mereçam o qualificativo de “loucos” e despertem preocupação nos notáveis. Muitos cristãos, pelo contrário, não estão dispostos de nenhuma maneira a permanecer “fora”. Fora das modas, das ideologias, da competição louca, das operações mais vantajosas, da mentalidade corrente, da vaidade, do protagonismo, das medidas de bom senso. Aceitar o espírito de Cristo significa, necessariamente, estar “fora de si”, fora dos cálculos, das prudências, dos medos, das diplomacias, das hipocrisias, das táticas humanas. A blasfêmia contra o Espírito, um pecado que “nunca será perdoado”, me parece que é precisamente, além da recusa consciente da luz, a recusa da loucura, que é um componente essencial da santidade a que todos somos chamados. A blasfêmia contra o Espírito Santo é a pretensão de seguir a Cristo sem “perder a cabeça” (Cura D’Ars). Blasfêmia contra o Espírito é a presunção de mudar o mundo, de se meter a influir na realidade, com “racionalidade”, sem ser sinal de contradição, sem aparecer (ao menos um pouco) louco. A loucura deveria ser um carisma essencial em uma Igreja que pretenda ser fiel mais ao paradoxo evangélico do que ao tratado de “boas maneiras”. Sem loucura o cristianismo se reduz à ética, ou pior, ao moralismo, a rubricas litúrgicas ou pietistas, a compromissos sociais integrados à cultura dominante. Não foram os grandes pecadores que crucificaram a Cristo, mas sim homens medíocres, burocratas cobertos de oficialidade, funcionários diligentes do aparato, guardiões solícitos e míopes da ortodoxia, que não podiam tolerar que ele permanecesse “fora” da família, “fora” das tradições consolidadas, “fora” das relações de força. Devemos nos convencer que só os loucos nos salvarão. Ou seja, aqueles que destruam as falsas harmonias, que não aceitem as acomodações bem montadas e as partilhas vantajosas, que arrebentem os parâmetros mundanos. O louco por Cristo não está isolado, ele se mescla com as pessoas, frequenta o mercado, se mete por todos os lados. Mas, ao mesmo tempo, resulta inatingível, imprevisível, incontrolável, insólito (e insolente), não programável.

(Alessandro Pronzato, 1932-, Itália)


CONTEMPLAR

S. Título, 1980, hospital psiquiátrico em San Clemente, Itália, Raymond Depardon (1942-), do livro “Manicomio”, Magnum Photos, França.