Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
IV Domingo do Tempo Comum 03.02.2019
Jr 1, 4-5.17-19 1 Cor 12, 31-13,13 Lc 4, 21-30
ESCUTAR
“Antes de formar-te no ventre
materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e
te fiz profeta das nações” (Jr 1, 5).
Se eu tivesse o dom da profecia, se
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto
de transportar montanhas, mas se não tivesse amor, eu não seria nada (1 Cor 12,
2).
“Em verdade eu vos digo que nenhum
profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4, 24).
MEDITAR
Não é essencial para o cristão estar
presente nos lugares de sofrimento, nos lugares de desamparo, de abandono? O
que seria da Igreja de Jesus Cristo, ela mesma corpo do Cristo, se não
estivesse aí desde o início? A Igreja se engana e ela engana o mundo quando se
apresenta como um poder entre outros, como uma organização mesmo humanitária ou
como um movimento evangélico de grande espetáculo. Ela pode brilhar, mas ela
não brilha do fogo do amor de Deus “forte como a morte”, como diz o Cântico dos
Cânticos.
(Dom Pierre Claverie, beato,
1938-1996, Algéria)
ORAR
Esta página de São Lucas é como um
resumo dramático de toda a vida de Jesus. O fim do relato deixa pressentir a
rejeição final de Jesus pelas autoridades religiosas. A razão dessa rejeição
nos é também dada: Jesus testemunha um Deus sem fronteiras que acolhe os
pagãos. Ao longo de toda sua vida, Jesus irá revelar o verdadeiro Deus, seu
Pai, como aquele que está sempre pronto a acolher todo o mundo e, em primeiro,
os doentes, os pobres, aqueles que estão dilacerados pela infelicidade e pelo
desprezo dos outros. Jesus se deixa aproximar pelos leprosos, os intocáveis.
Ele come com os publicanos e os pecadores, sem se preocupar com as reprovações
que lhe poderiam ser feitas. Mas ele acolherá da mesma forma os Doutores da
lei, o oficial romano ou o chefe da sinagoga. Ele revela um Deus aberto a
todos. Seu primeiro cuidado não é fazer respeitar os regulamentos e a Lei, mas
o de salvar os homens. Jesus é um apaixonado. Apaixonado por Deus seu Pai, ele
não podia suportar todas as mesquinharias em que nos revestimos. Apaixonado por
todos os que são rejeitados pelos que falam em nome de Deus, os pecadores e
infelizes, ele não podia suportar a estreiteza de espírito dos fariseus que
dividiam o mundo em bons e maus. Jesus sabia que era mau visto pelos
responsáveis religiosos, os especialistas da moral e dos regulamentos; mas ele
queria muito romper a carapaça de orgulho dos que se diziam bem pensantes, os bons
praticantes, as pessoas regradas; ele desejava muito liberá-las de sua boa
consciência. Ele sabe que arrisca sua vida, mas ele não recuará diante de nada
para revelar seu Pai, Deus de coração sem fronteiras, Deus Amor. Ele não pode
suportar esta prática religiosa sem amor que constata um pouco por todo lado. “Estou muito bem de acordo com todas as
observâncias religiosas, mas se me falta o amor, eu não sou nada, de nada me
servem”, adverte-nos São Paulo a toda hora. Somos apaixonados pelo
verdadeiro Deus revelado por Jesus? Estamos suficientemente atentos para
colocar o amor em primeiro lugar em toda nossa vida? Temos ainda a tendência de
aprisionar Deus em uma Igreja muito rígida e fechada, quando ele é o Pai de
todos os povos do mundo, o Deus escondido no coração de todo homem? Quando
lemos o Evangelho, aceitamos colocar em questão nossos julgamentos e nossas
mentalidades, para sair de nossas estreitezas de espírito e fazer nosso coração
sem fronteiras, à imagem do coração de Deus?
(Bernard Prévost, 1913-, França)
CONTEMPLAR
Bombeiro retoma as buscas por
sobreviventes..., Brumadinho-MG, 2019, (publicada no Estadão, em 26/01/2019),
Fernando Moreno, Futura Press, Brasil.
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