Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
Sagrada Família de Jesus, Maria e
José 30.12.2018
Eclo 3, 3-7.14-17 Cl 3, 12-21 Lc 2, 41-52
ESCUTAR
Quem honra o seu pai alcança o perdão
dos pecados (Eclo 3, 4).
Amai-vos uns aos outros, pois o amor
é o vínculo da perfeição (Cl 3, 14).
Todos os que ouviam o menino estavam
maravilhados com sua inteligência e suas respostas (Lc 2, 47).
MEDITAR
Nasci no plano do eterno,
Nasci de mil vidas superpostas,
Nasci de mil ternuras desdobradas.
Vim para conhecer o mal e o bem
E para separar o mal do bem.
Vim para amar e ser desamado.
Vim para ignorar os grandes e
consolar os pequenos.
Não vim para construir minha própria
riqueza
Nem para destruir a riqueza dos
outros.
Vim para reprimir o choro formidável
Que as gerações anteriores me
transmitiram.
Vim para experimentar dúvidas e
contradições.
Vim para sofrer as influências do
tempo
E para afirmar o princípio eterno de
onde vim...
Vim para conhecer Deus meu criador,
pouco a pouco,
Pois se O visse de repente, sem
preparo, morreria.
(Murilo Mendes, 1901-1975, Brasil)
ORAR
Nós falamos muito
frequentemente da evasão de Jesus ao Templo e de maneira incorreta. Porque esse
título sugere a ideia de uma fuga, insinua que Jesus, durante três dias, teria
se subtraído voluntariamente à autoridade de seus pais. Entretanto, nós
raciocinamos aqui segundo os nossos hábitos ocidentais que fazem da família uma
célula fechada e da maioridade civil uma coisa tardia. Em Israel, ao contrário,
a idade de doze anos é a da maioridade religiosa e civil, em que rapazes e
meninas tornam-se responsáveis por seus atos e ditos. O Evangelho deste domingo
não narra, portanto, nem evasão e nem fuga, mas simplesmente o primeiro gesto e a primeira palavra de
Jesus. Qual é esse primeiro gesto, senão o de habitar no Templo de Jerusalém,
na casa de Deus, para ensinar e dialogar com os doutores da Lei? Jesus o atestará
durante a semana santa, mas desta vez em face a uma oposição crescente. Qual é
esta primeira palavra, senão para manifestar a Maria e José, tentados a fechar
seu Segredo sob o nome que lhe deram: “meu filho” (v. 48), qual é o seu verdadeiro Pai e qual o destino lhe foi
entregue: “estar na casa – ou nas coisas – de meu Pai” (v. 49)? Essa maneira
única de chamar a Deus seu próprio Pai, Jesus a retomará em sua última oração
na Cruz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (23, 46). Desde então, seu
primeiro gesto corresponde a seu último gesto, sua primeira palavra remete à
sua última palavra; Jesus mostra que toda a sua vida pública está colocada sob
o nome de um Pai do qual deve revelar a face de ternura situada sob a livre
necessidade de fazer a sua vontade, marcada pela presença íntima Daquele que
habita “nele”, como ele mesmo habita “em seu Pai” (Jo 14, 10). Do começo até o
fim do caminho que ele traça entre nós e de nós em direção ao Pai “maior”,
Jesus é o filho bem amado. Ele é
somente e plenamente Filho.
(Michel Corbin, 1936-, França)
CONTEMPLAR
Infância nua,
2015, Nikki Boon, Marlborough, Nova Zelândia.
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