Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
V Domingo do Tempo Comum 10.02.2019
Is 6, 1-8 1 Cor 15, 1-11 Lc
5, 1-11
ESCUTAR
Ouvi a voz do Senhor que dizia: “Quem
enviarei? Quem irá por nós?”. Eu respondi: “Aqui estou! Envia-me” (Is 6, 8).
Eu sou o menor dos apóstolos, nem
mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus (1 Cor 15, 9).
“Avança para águas mais profundas e
lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5, 4).
MEDITAR
Ó Deus... não admita que a sede do
ganho e a procura da glória me influenciem no exercício de minha arte, porque
os inimigos da verdade e do amor dos homens poderiam facilmente me enganar e me
afastar do nobre dever de fazer o bem a teus filhos [...] Sustenta a força de
meu coração para que ele esteja sempre pronto a servir ao pobre e ao rico, ao
amigo e ao inimigo, ao bom e ao mau. Faça que veja apenas o homem naquele que
sofre.
(Frei Luc, 1914-1996, monge-médico
trapista, assassinado na Argélia e beatificado por Francisco, em 2018)
ORAR
“Ele subiu numa das
barcas, que era de Simão e pediu-lhe que se afastasse um pouco da margem.
Depois, assentando-se, ensinava, da barca às multidões” (v. 3). À primeira
vista, Jesus só pede a Pedro um pequeno incômodo: pôr sua barca flutuando, para
que ele possa falar mais à vontade. A barca do pescador serve, assim, de
cadeira ao pregador: daí, sobre a água em que Simão pensava ter acabado sua
tarefa, a sua noite de trabalho, ele continua a pregar... Pobre Simão! Ele
acreditava sem dúvida que a conversa tinha acabado, e que ia poder voltar para
casa. Cumprira a sua missão profissional; além disto, tinha escutado Jesus,
pondo prazerosamente a barca à disposição do pregador, e assim fora fiel a seus
deveres para com Deus. E eis que a coisa na verdade não tinha acabado! Ei-lo
embarcado de surpresa numa aventura dirigida por aquele que ele recebera a
bordo. “Avança para as águas profundas”, deixa a segurança da margem, renuncia
ao repouso bem merecido, afronta de novo o mar largo. “Senhor, nós penamos a
noite inteira sem nada pescar”. A resposta de Simão é a de um profissional,
cheia de bom senso, a mesma de qualquer um de nós no fim de um trabalho muitas
vezes estéril. Fizemos o que era preciso, no momento mais propício, e penamos sem resultado. Já nos
resignávamos ao malogro, e eis que Jesus nos manda recomeçar aquilo que um
realismo elementar nos manda recusar... A Palavra
de Deus, anunciada por Jesus, não nos consola por nossos dissabores, não
compensa os nossos malogros, não melhora magicamente a nossa situação. Ela nos
convida a arriscar uma vez mais e logo um gesto que estimamos vão. Ela nos
liberta tanto da repetição maquinal como de cruzarmos os braços. Ela nos dá a
coragem dos recomeços perseverantes. Crer
na palavra de Jesus não consiste em esperar que ele aja em nosso lugar; é lançar nossas redes, como diz Simão, no
mar das nossas evidências estéreis e de nossas esperanças decepcionadas, e
descobrir que esse mar é maravilhosamente fecundo.
(Revue Bible
et Vie Chrétienne, Abbaye de Saint-Benoît de Maredsous, Bélgica)
CONTEMPLAR
Ilha Mexiana, Pescadores, 1943, Chaves, Pará, Marcel Gautherot (1910-1996), França-Brasil,
acervo Instituto Moreira Salles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário