segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O Caminho da Beleza 12 - V Domingo do Tempo Comum


Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

(Carlos Drummond de Andrade)


V Domingo do Tempo Comum                     10.02.2019
Is 6, 1-8                    1 Cor 15, 1-11                     Lc 5, 1-11


ESCUTAR

Ouvi a voz do Senhor que dizia: “Quem enviarei? Quem irá por nós?”. Eu respondi: “Aqui estou! Envia-me” (Is 6, 8).

Eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus (1 Cor 15, 9).

“Avança para águas mais profundas e lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5, 4).


MEDITAR

Ó Deus... não admita que a sede do ganho e a procura da glória me influenciem no exercício de minha arte, porque os inimigos da verdade e do amor dos homens poderiam facilmente me enganar e me afastar do nobre dever de fazer o bem a teus filhos [...] Sustenta a força de meu coração para que ele esteja sempre pronto a servir ao pobre e ao rico, ao amigo e ao inimigo, ao bom e ao mau. Faça que veja apenas o homem naquele que sofre.

(Frei Luc, 1914-1996, monge-médico trapista, assassinado na Argélia e beatificado por Francisco, em 2018)


ORAR

“Ele subiu numa das barcas, que era de Simão e pediu-lhe que se afastasse um pouco da margem. Depois, assentando-se, ensinava, da barca às multidões” (v. 3). À primeira vista, Jesus só pede a Pedro um pequeno incômodo: pôr sua barca flutuando, para que ele possa falar mais à vontade. A barca do pescador serve, assim, de cadeira ao pregador: daí, sobre a água em que Simão pensava ter acabado sua tarefa, a sua noite de trabalho, ele continua a pregar... Pobre Simão! Ele acreditava sem dúvida que a conversa tinha acabado, e que ia poder voltar para casa. Cumprira a sua missão profissional; além disto, tinha escutado Jesus, pondo prazerosamente a barca à disposição do pregador, e assim fora fiel a seus deveres para com Deus. E eis que a coisa na verdade não tinha acabado! Ei-lo embarcado de surpresa numa aventura dirigida por aquele que ele recebera a bordo. “Avança para as águas profundas”, deixa a segurança da margem, renuncia ao repouso bem merecido, afronta de novo o mar largo. “Senhor, nós penamos a noite inteira sem nada pescar”. A resposta de Simão é a de um profissional, cheia de bom senso, a mesma de qualquer um de nós no fim de um trabalho muitas vezes estéril. Fizemos o que era preciso, no momento mais propício, e penamos sem resultado. Já nos resignávamos ao malogro, e eis que Jesus nos manda recomeçar aquilo que um realismo elementar nos manda recusar... A Palavra de Deus, anunciada por Jesus, não nos consola por nossos dissabores, não compensa os nossos malogros, não melhora magicamente a nossa situação. Ela nos convida a arriscar uma vez mais e logo um gesto que estimamos vão. Ela nos liberta tanto da repetição maquinal como de cruzarmos os braços. Ela nos dá a coragem dos recomeços perseverantes. Crer na palavra de Jesus não consiste em esperar que ele aja em nosso lugar; é lançar nossas redes, como diz Simão, no mar das nossas evidências estéreis e de nossas esperanças decepcionadas, e descobrir que esse mar é maravilhosamente fecundo.

(Revue Bible et Vie Chrétienne, Abbaye de Saint-Benoît de Maredsous, Bélgica)


CONTEMPLAR   
 
Ilha Mexiana, Pescadores, 1943, Chaves, Pará, Marcel Gautherot (1910-1996), França-Brasil, acervo Instituto Moreira Salles.




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