Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
Batismo
do Senhor
Is
42, 1-4.6-7 At 10,
34-38 Lc 3,
15-16.21-22
ESCUTAR
“Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu
eleito – nele se compraz minha alma” (Is 42, 1).
“Deus não faz distinção entre as pessoas.
Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a
nação a que pertença” (At 10, 34).
Enquanto rezava, o céu se abriu e o
Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba (Lc 3, 21-22).
MEDITAR
Quando dispomos da missão de Deus, como se
fosse nossa, consumimos inutilmente a graça, ignoramos o amor que existe na
vontade divina e nos atiramos no abismo do nosso próprio eu. Quanto mais esta
autonomia adota uma atitude piedosa, tanto mais se distancia do Espírito Santo.
(Hans Urs von Balthasar, 1905-1988, Suíça).
(Hans Urs von Balthasar, 1905-1988, Suíça).
ORAR
No
meio desse bando de pecadores, que vão ver João para lhe confessar seus pecados
e aceitar o sinal escatológico do batismo, há Jesus, plenamente solidário aos
pecadores e confundido inteiramente entre eles. É a primeira imagem pública de
Jesus que nos relatam os quatro evangelhos: Jesus iniciou seu ministério em
meio a este abismo do aniquilamento e da humilhação (cf. Fl 2, 6-8), o que foi
julgado escandaloso a tal ponto que certos cristãos de gerações mais antigas,
não podendo ignorar esse acontecimento, trataram de edulcorá-lo ou minimizá-lo.
É inteiramente estranho que Jesus, aquele que está “sem pecado” e vem de Deus,
se apresente no meio de pecadores e tome lugar entre eles para ir receber uma
imersão em vista da remissão dos pecados. Todavia, é bem assim que as coisas se
passaram na história! E justamente, no momento em que Jesus ressurge dessa água
carregada de pecados da humanidade, “ele vê o Espírito de Deus descer sobre ele
sob a forma de pomba. E eis que veio do céu uma voz que dizia: ‘Tu és o meu Filho
amado, em ti ponho o meu bem querer”. Assim, enquanto Jesus está em oração,
como diz Lucas, enquanto ele escuta a voz de seu Pai, as Escrituras se cumprem
em toda profundidade (cf. Sl 22, 7; Gn 22, 1; Is 42, 1) como se Deus dissesse a
Jesus: “Eu te amo de um amor eterno porque, desde já, tu revelas o meu
verdadeiro rosto, minha misericórdia para com os pecadores!”. Era dificilmente
concebível que Deus amasse os pecadores mas, a fim de que não pairasse mais
dúvidas, Jesus nos mostrou isso por meio do primeiro gesto que realizou na vida
pública! Este acontecimento, a imersão de Jesus, antecipa mesmo todo o sentido
de sua vida, de sua missão e de sua pregação, até a sua morte. Com efeito,
encontramos sempre Jesus em meio aos pecadores, infundindo-lhes o amor e a
comunhão de Deus, e sobre a cruz “dois malfeitores, um à direita e outro à
esquerda” (Lc 23, 33), serão crucificados a seu lado.
(Enzo Bianchi, 1943-, Itália)
CONTEMPLAR
Crianças
banhando-se na água...,
2016, Nova Delhi, Índia, Roberto Schmidt (1966-), AFP/Getty Images,
Colômbia/Alemanha.
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