quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O Caminho da Beleza 08 - Batismo do Senhor


Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

(Carlos Drummond de Andrade)


Batismo do Senhor                   
Is 42, 1-4.6-7                      At 10, 34-38                       Lc 3, 15-16.21-22


ESCUTAR

“Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minha alma” (Is 42, 1).

“Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10, 34).

Enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba (Lc 3, 21-22).


MEDITAR

Quando dispomos da missão de Deus, como se fosse nossa, consumimos inutilmente a graça, ignoramos o amor que existe na vontade divina e nos atiramos no abismo do nosso próprio eu. Quanto mais esta autonomia adota uma atitude piedosa, tanto mais se distancia do Espírito Santo. 

(Hans Urs von Balthasar, 1905-1988, Suíça).


ORAR

            No meio desse bando de pecadores, que vão ver João para lhe confessar seus pecados e aceitar o sinal escatológico do batismo, há Jesus, plenamente solidário aos pecadores e confundido inteiramente entre eles. É a primeira imagem pública de Jesus que nos relatam os quatro evangelhos: Jesus iniciou seu ministério em meio a este abismo do aniquilamento e da humilhação (cf. Fl 2, 6-8), o que foi julgado escandaloso a tal ponto que certos cristãos de gerações mais antigas, não podendo ignorar esse acontecimento, trataram de edulcorá-lo ou minimizá-lo. É inteiramente estranho que Jesus, aquele que está “sem pecado” e vem de Deus, se apresente no meio de pecadores e tome lugar entre eles para ir receber uma imersão em vista da remissão dos pecados. Todavia, é bem assim que as coisas se passaram na história! E justamente, no momento em que Jesus ressurge dessa água carregada de pecados da humanidade, “ele vê o Espírito de Deus descer sobre ele sob a forma de pomba. E eis que veio do céu uma voz que dizia: ‘Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem querer”. Assim, enquanto Jesus está em oração, como diz Lucas, enquanto ele escuta a voz de seu Pai, as Escrituras se cumprem em toda profundidade (cf. Sl 22, 7; Gn 22, 1; Is 42, 1) como se Deus dissesse a Jesus: “Eu te amo de um amor eterno porque, desde já, tu revelas o meu verdadeiro rosto, minha misericórdia para com os pecadores!”. Era dificilmente concebível que Deus amasse os pecadores mas, a fim de que não pairasse mais dúvidas, Jesus nos mostrou isso por meio do primeiro gesto que realizou na vida pública! Este acontecimento, a imersão de Jesus, antecipa mesmo todo o sentido de sua vida, de sua missão e de sua pregação, até a sua morte. Com efeito, encontramos sempre Jesus em meio aos pecadores, infundindo-lhes o amor e a comunhão de Deus, e sobre a cruz “dois malfeitores, um à direita e outro à esquerda” (Lc 23, 33), serão crucificados a seu lado.

(Enzo Bianchi, 1943-, Itália)

           
CONTEMPLAR

Crianças banhando-se na água..., 2016, Nova Delhi, Índia, Roberto Schmidt (1966-), AFP/Getty Images, Colômbia/Alemanha.






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