Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
II Domingo do Tempo Comum 20.01.2019
Is 62, 1-5 1 Cor 12, 4-11 Jo
2, 1-11
ESCUTAR
Não me calarei, por amor de
Jerusalém, não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a
justiça e não se acender nela, como uma tocha, a salvação (Is 62, 1).
A cada um é dada a manifestação do
Espírito em vista do bem comum (1 Cor 12, 4-11).
“Tu guardaste o vinho melhor até
agora!” (Jo 2, 10).
MEDITAR
Deve-se estar sempre embriagado. Nada
mais conta. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos
ombros e vos faz pender para a Terra, deveis embriagar-vos sem tréguas. Mas de
quê? De vinho, de poesia ou de ternura, à vossa escolha. Mas embriagai-vos. E
se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na
solidão baça do vosso quarto, acordais já diminuída ou desaparecida a
embriaguez, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a Deus, a
tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a
tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave,
o relógio e Deus vos responderão: "São horas de vos embriagardes! Para não
serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho,
de poesia ou de ternura, à vossa escolha.
(Charles Baudelaire, 1821-1867,
França)
ORAR
Jesus
mostra-se nas bodas de Caná construtor de uma outra casa, de uma morada
espiritual. Além do mais, foi aí que ele experimentou uma transformação
revolucionária. Para todos os participantes, quaisquer que sejam seu sexo e
idade, os jovens esposos, nesse dia de suas núpcias, encarnam a imagem
realizada ou futura de seus sonhos e destinos. Então, que jorre em abundância o
líquido mágico e luminoso da vinha! Por quê? Porque a embriaguez vivida em
comum é uma possibilidade de sair em comum da realidade e ter alegria juntos.
Esta alegria é também o que redime a embriaguez. Junta-se a isso, o fato do
inconsciente liberar-se... in vino
veritas! Aquele que bebe sozinho se fecha. Ele teme sair da realidade
tangível com os outros. Só pode haver troca, se ele estiver sóbrio, assim sendo
ele só pode comunicar o que for racional, judicioso, sensato, razoável. Fora
dessa categoria, só existe para ele o deserto. Em Caná, dá-se o contrário... A
água clara que os servidores trazem em jarras transforma-se em bebida
fermentada, fonte de risos, de esquecimento dos males e preocupações
cotidianas. É o leite da alegria que na alma dos convivas faz recomeçar a
festa, florir os sorrisos e que despoja o cacho maduro das fantasias suaves de
sabor embriagante. Bebido em comum, esse líquido excitante da vinha libera as
línguas e os corações. Sim, na véspera de sua morte, na refeição de seu adeus,
será o vinho que Jesus consagrará como a realidade viva de seu sangue, esse
sangue da nova aliança. Em Caná, pelo dom de um sangue vegetal para bodas
carnais, para uma aliança humana, ele começa sua vida pública. Em Jerusalém,
ele terminará sua vida com o dom de seu sangue carnal para bodas espirituais,
nova aliança entre os homens e Deus.
(Françoise Dolto, 1908-1988, França)
CONTEMPLAR
Um caminho para o céu, Stéphane Berla (1975-), Lyon, França, acessada em http://stephaneberla.com,
em 14/01/2019.
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