segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O Caminho da Beleza 09 - II Domingo do Tempo Comum


Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

(Carlos Drummond de Andrade)


II Domingo do Tempo Comum                     20.01.2019
Is 62, 1-5                 1 Cor 12, 4-11                     Jo 2, 1-11

ESCUTAR

Não me calarei, por amor de Jerusalém, não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça e não se acender nela, como uma tocha, a salvação (Is 62, 1).

A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum (1 Cor 12, 4-11).

“Tu guardaste o vinho melhor até agora!” (Jo 2, 10).


MEDITAR

Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a Terra, deveis embriagar-vos sem tréguas. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de ternura, à vossa escolha. Mas embriagai-vos. E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais já diminuída ou desaparecida a embriaguez, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a Deus, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio e Deus vos responderão: "São horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de ternura, à vossa escolha.

(Charles Baudelaire, 1821-1867, França)

ORAR

            Jesus mostra-se nas bodas de Caná construtor de uma outra casa, de uma morada espiritual. Além do mais, foi aí que ele experimentou uma transformação revolucionária. Para todos os participantes, quaisquer que sejam seu sexo e idade, os jovens esposos, nesse dia de suas núpcias, encarnam a imagem realizada ou futura de seus sonhos e destinos. Então, que jorre em abundância o líquido mágico e luminoso da vinha! Por quê? Porque a embriaguez vivida em comum é uma possibilidade de sair em comum da realidade e ter alegria juntos. Esta alegria é também o que redime a embriaguez. Junta-se a isso, o fato do inconsciente liberar-se... in vino veritas! Aquele que bebe sozinho se fecha. Ele teme sair da realidade tangível com os outros. Só pode haver troca, se ele estiver sóbrio, assim sendo ele só pode comunicar o que for racional, judicioso, sensato, razoável. Fora dessa categoria, só existe para ele o deserto. Em Caná, dá-se o contrário... A água clara que os servidores trazem em jarras transforma-se em bebida fermentada, fonte de risos, de esquecimento dos males e preocupações cotidianas. É o leite da alegria que na alma dos convivas faz recomeçar a festa, florir os sorrisos e que despoja o cacho maduro das fantasias suaves de sabor embriagante. Bebido em comum, esse líquido excitante da vinha libera as línguas e os corações. Sim, na véspera de sua morte, na refeição de seu adeus, será o vinho que Jesus consagrará como a realidade viva de seu sangue, esse sangue da nova aliança. Em Caná, pelo dom de um sangue vegetal para bodas carnais, para uma aliança humana, ele começa sua vida pública. Em Jerusalém, ele terminará sua vida com o dom de seu sangue carnal para bodas espirituais, nova aliança entre os homens e Deus.

(Françoise Dolto, 1908-1988, França)


CONTEMPLAR

Um caminho para o céu, Stéphane Berla (1975-), Lyon, França, acessada em http://stephaneberla.com, em 14/01/2019.




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