quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O Caminho da Beleza 06 - Santa Mãe de Deus, Maria

Santa Mãe de Deus, Maria                01.01.2017
Nm 6, 22-27                       Gl 4, 4-7                   Lc 2, 16-21

ESCUTAR

“O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti!” (Nm 6, 25).

Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (Gl 4, 4).

“Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2, 19).


MEDITAR

O amor se avizinhou e é como o sangue que escorre em minhas veias e em minha pele. Ele esvaziou-me e preencheu-me do Bem-Amado.

O Bem-Amado penetrou todas as parcelas de meu corpo. De mim não resta mais que um nome, todo o resto é Ele.

Assente-se com o amor, que é a essência de tua alma, busque aquele que eternamente está a seu lado.

O Bem-Amado é assim tão próximo de mim, mais próximo que eu mesmo de minha própria alma. De Deus não me recordo jamais, pois a memória existe para quem está ausente.

(Rûmî, Islã)


ORAR

O ano civil se abre com a festa da Mãe de Deus. Maria, com seu consentimento ilimitado, revela uma fecundidade aberta ao Infinito e a resposta de Deus é uma maternidade cuja expansão é imprevisível. Cada afirmação dada ao Senhor é sempre restituída com o imprevisível do seu dom. Hoje comemoramos a jornada mundial da Paz e devemos estar lúcidos de que a paz só poderá ser construída quando os homens disserem um Sim, uns aos outros, como uma acolhida recíproca de cada um como irmão. O Evangelho chama de bem aventurados os construtores da paz, uma paz que nunca será construída pelos poderosos da terra, que lucram com as guerras e que se imobilizam reciprocamente por meio dos arsenais nucleares e dos mísseis que desfilam diante das crianças nas festas da Pátria. Que se vingue a profecia de D. Hélder Câmara: “que se acabe, mas que se acabe mesmo, a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é a paz!”. O campo de guerra dos cristãos é um campo aberto cujas armas são o perdão, a tolerância, a compreensão, o respeito e a confiança. É necessário ensinar as crianças, por meio dos seus jogos virtuais, que há sempre um irmão para amar e não um inimigo a ser eliminado. Agindo desta forma, seremos merecedores do bendizer de Deus sobre nós para que sejamos transformados pela sua Palavra. Pedir a bênção de Deus é nos oferecermos, incondicionalmente, a Ele para que exerça em nós a Sua ação transformadora e nos vire do avesso. A bênção maior é o dom do Seu Filho por meio do qual volta para nós o Seu rosto e faz brilhar sobre nós a Sua face. Tudo é expressão de humildade: os pastores eram pessoas pouco recomendadas e o seu trabalho os impedia de frequentar as sinagogas e respeitar o sábado; tudo se passa em Belém, a casa do pão, e o Menino está deitado numa manjedoura que se torna uma bela imagem para Aquele que vem para ser alimento da humanidade. A Igreja de Jesus não deve procurar a companhia dos grandes, mas compadecer-se na amizade dos que são, falsamente, chamados de pobre gente. Meditemos as palavras do Cardeal Gianfranco Ravasi: “A Igreja, como Maria, deve viver a sua santidade e a sua fidelidade na existência ordinária dos homens sem procurar se distinguir ou se fazer notar e separar-se deles. A Igreja deve viver no meio deles nas circunstâncias ordinárias da vida”.


CONTEMPLAR

Sombra se aproximando, 1954, Fan Ho (1931-2016), Hong Kong.





segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O Caminho da Beleza 05 - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo                      25.12.2016
Is 52, 7-10               Hb 1, 1-6                  Jo 1, 1-18


ESCUTAR

O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão de ver a salvação que vem do nosso Deus (Is 52, 10).

Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser (Hb 1, 3).

E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).

MEDITAR

Onde houver uma criança
ou um coração de criança,
aí será o meu Natal.
Estarei por toda parte:
nas penas dos que trabalham,
nas portas das que se vendem,
nas lágrimas dos que choram,
nos corações dos que cantam,
nos olhares dos dementes.


Nos beliches e nas redes,
nas esteiras e nas camas,
sob os tetos, sob as pontes,
sob as pedras, sob as luas,
nos seios das que amamentam,
nos ventres das que me esperam,
na angústia das que me abortam,
no esquife das que morreram,
onde houver uma criança
ou um coração de criança,
aí será o meu Natal.

(Paulo Gomide)


ORAR

Maria e José não sabiam o que era o Natal. Nem os pastores e muito menos Herodes. Não foram eles que decidiram o que era o Natal e como haveriam de vivê-lo. Outro o havia decidido. Nós, desgraçadamente, já sabemos de antemão e evitamos que o Outro nos surpreenda. Nosso natal é um natal decidido, programado e pré-fabricado por nós mesmos. Nas festas engolimos as frustrações e continuamos existencialmente isolados do mundo real que nos cerca. Não olhamos mais nos olhos uns dos outros e desaprendemos o diálogo que nos humaniza. Temos apenas, em comum, os celulares que sobre a mesa e as poltronas trocam ansiosas mensagens tantas vezes fúteis e monossilábicas. É um natal decrépito, marcado pela mesmice mais do que celebrado e vivido como a irrupção do Eterno no meio de nós. Neste dia de Natal, devemos nos perguntar o que colocamos no lugar do Menino, porque Deus fica excluído quando fingimos acolhê-Lo e se torna um estranho quando criamos a ilusão de tê-Lo em casa. Se Deus se apresentasse, de verdade, à nossa porta, disfarçado não de Papai Noel, mas de um imigrante, de um refugiado, de um morador de asilo, de um dependente químico, com certeza Ele seria como um espinho atravessado em nossa garganta. Este Inesperado visitante não estava no programa, uma vez que o deixamos abandonado e confinado em seu devido lugar atendido pelos nossos serviços sociais civis e religiosos. Apesar de tudo, o Natal é o nascimento de um Menino proscrito, que vem à luz numa terra estrangeira e que não corresponde ao nosso sentimentalismo devocional. Um Menino que nos incomoda e não nos tranquiliza de maneira alguma. Este Menino nasce para que aprendamos o sacramento do irmão em que se revela plenamente Deus: o Lava Pés. Este, que seria o oitavo sacramento, sem o qual os outros perdem a razão de ser, foi reduzido a uma mera encenação litúrgica uma vez ao ano. O Natal é o momento sagrado em que precisamos estar a descoberto na pobreza do nosso ser, na nossa inevitável finitude. Neste dia de Natal, deixemo-nos surpreender por este Menino, que é o mais secreto de nossas vidas, que veio para invadir o mais íntimo de nosso ser e transformar as nossas almas. A grande preocupação de Jesus não era se as pessoas pecavam mais ou menos, mas se tinham fome ou estavam doentes. Sigamos as orientações do Papa Francisco para que o Menino nasça em uma nova manjedoura: rebelemo-nos contra a tirania do dinheiro que explora nossos medos; sejamos solidários para aniquilar a atrofia moral e ética; refundemos e revitalizemos a democracia e, finalmente, sejamos austeros e fujamos da corrupção. Sem medo dos imprevistos, façamos suceder algo novo, um milagre que vira tudo do avesso porque Deus armou a sua tenda entre nós para nos revelar que “o sentido para nossa vida somos nós que escrevemos e cada um tem a sua própria caligrafia” (Nelson Padrella).


CONTEMPLAR
Vídeo de Natal de 2016, com a música "Emmanuel" do compositor francês Michel Colombier (1939-2004), interpretada por Milton Nascimento e Flávio Venturini, letra adaptada de Murilo Antunes. As imagens são de fotografias que veiculamos em nosso blog durante esse ano.



segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

O Caminho da Beleza 04 - IV Domingo do Advento

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?

(Ml 2, 10)

IV Domingo do Advento                      18.12.2016
Is 7, 10-14               Rm 1, 1-7                 Mt 1, 18-24

ESCUTAR

“O próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz a um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7, 14).

É por ele que recebemos a graça da vocação para o apostolado (Rm 1, 5).

“José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo” (Mt, 1 20).

MEDITAR

O Amor é um oceano infinito, cujos céus são apenas um floco de espuma.
Saiba que as ondas do Amor é que fazem girar a roda dos céus, pois sem o Amor o mundo seria sem vida.
Como se transformaria em árvore uma coisa inanimada?
Os vegetais não se sacrificariam para conseguir seu espírito?
Como se sacrificaria o espírito pelo Sopro cujo perfume engravidou Maria?
Cada átomo é seduzido por esta Perfeição e corre para ela.
Sua pressa diz implicitamente: Obrigado, ó Deus.
(Rûmî)

ORAR

O tema da liturgia de hoje é o da fé que amadurece pela coragem do risco. Para a fé vacilante do rei Acaz, Deus lança o desafio impossível: uma virgem conceberá um filho. Maria e José nos ensinam que uma fé se cumpre na obediência e no risco e sem nenhuma pressa, pois para Deus o tempo não existe: tudo acontece na eternidade. Sem pressa, Abraão e Sara são agraciados na velhice com Isaac, a gargalhada de Deus; sem pressa, Zacarias e Isabel se tornaram fecundos ao gerar João, o Batista; sem pressa, Maria aceitou acolher, em seu ventre, o silencioso mistério que se revelava fecundo entre ela e a sombra do Espírito que pousara sobre seu corpo de mulher. Sem pressa, José assumiu a paternidade de uma criança que não era de sua semente e o fez antes mesmo que o Anjo lhe confirmasse que a criança no ventre de Maria era a da divina Promessa, o rebento de Davi esperado em Israel. Paulo nos exorta: “Ninguém vive nem morre só para si... mas, quer por nossa vida quer por nossa morte, pertencemos a Cristo” (Rm 14, 7-8). O evangelho revela que o desígnio de Deus se realiza além da linhagem carnal. É por meio de Jesus, de Nazaré, que Deus se faz Emmanuel, mas para que isto se realizasse foi necessário que tanto José quanto Maria abrissem mão do seu projeto pessoal, do seu futuro familiar, para acolher, sem reservas, as promessas de Deus.

CONTEMPLAR


Pai e filho na província de Helmand, Afeganistão, 1980, Steve McCurry (1950), Estados Unidos.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O Caminho da Beleza 03 - III Domingo do Advento

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)


III Domingo do Avento                        11.12.2016
Is 35, 1-6.10                       Tg 5, 7-10                Mt 11, 1-11

ESCUTAR

Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados (Is 35, 3).

Também vós, ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima (Tg 5, 7-10).

“O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?” (Mt 11, 7).


MEDITAR

Creio no Sol, mesmo quando não brilha.
Creio no amor, mesmo quando não o sinto.
Creio em Deus, mesmo quando se cala.
(Oração judaica)


ORAR

Somos chamados à paciência: fortalecer as mãos enfraquecidas, firmar os joelhos debilitados, exorcizar os medos e a reanimar o coração. A paciência é uma virtude ativa e nada tem a ver com a inércia, a indiferença e a postura derrotista. A paciência nos coloca de pé e nos faz defender os ideais mais queridos. O homem de paciência não se rende, não se dá por vencido mesmo na derrota. Quando tudo parece perdido, não perde a paciência. O caminho da paciência é custoso e largo. O homem da paciência aceita os retrocessos, a espessa obscuridade, as contradições e as recusas, mas não os considera como a última palavra de uma sentença inapelável. Pelo contrário, encara-os pela ótica da provisoriedade. Para se ter paciência é necessário, paradoxalmente, ser consumido por um fogo interior. Não uma chama que dura um instante, mas uma chama robusta, resistente, tenaz e que dura muito. O deserto floresce na paciência e somos frutos da paciência de Deus. O natal significa que Deus decidiu viver a paciência um pouco mais próximo e um pouco mais impacientemente. Deus deseja ser nosso companheiro de travessia. Este domingo é o domingo da alegria: os tempos futuros estão acontecendo agora no presente. Aquele que devia vir já veio; o objeto da espera se tornou recordação e a recordação gera e alimenta uma nova espera. A verdadeira presença do Cristo que esperamos está além das celebrações convencionais de natal que repetimos todos os anos. Ela se dá na misericórdia e no serviço aos pobres, pois o cristão não fala de amor, mas de obras de amor. O amor cristão pelo que sofre não é um amor exibido, explicado, cantado e exaltado, mas é um amor que liberta, feito de presença e de atos.


CONTEMPLAR


Os desalojados, 2016, Ben C. Solomon (1987-), Estados Unidos.



segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O Caminho da Beleza 02 - II Domingo do Advento

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?

(Ml 2, 10)



II Domingo do Advento                       04.12.2016
Is 11, 1-10                Rm 15, 4-9              Mt 3, 1-12


ESCUTAR

Naqueles dias, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor (Is 11, 1).

Acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu, para a glória de Deus (Rm 15, 7).

“A palha ele a queimará no fogo que não se apaga” (Mt 3, 12).


 MEDITAR

Sê constante na procura do Bem-Amado...

Para colheres o seu agrado no amor,
Não hesites em deitar a face
Sobre a soleira de sua porta
E aceita as provações que Ele te impôs.

Só triunfa pela união com o Bem-Amado
Aqueles cujos rins suportaram
O pesado fardo do desejo 
E do êxtase...

Levanta-te, pois!
Mostra que és um homem
Tomando a iniciativa da busca do amor,
Para obteres um encontro que já é teu.

(Paciência, texto islâmico anônimo)


ORAR

Deus garante a legitimidade dos sonhos mais audazes, a factibilidade do impossível e a força aos projetos mais loucos. Deus nos entrega sonhos ainda que tenhamos medo de sonhar coisas estupendas, grandes e novas. Esperança significa a possibilidade de projetar e de sonhar um futuro distinto e surpreendente. O profeta nos alerta para a imagem do tronco cortado, seco, de cujas raízes desponta, inesperadamente, um broto. Deus para realizar seus desígnios não recorre aos frondosos e imponentes cedros do Líbano, mas parte de uma árvore truncada: o tronco de Jessé. A estirpe de Davi tem uma origem humilde e insignificante. E o tronco produz um sinal inequívoco de vida: um broto inesperado e improvável. Existe um novo jardim: uma sociedade construída sobre a justiça e a paz universal. A gratuidade de Deus é a maior ameaça ao poder. É paradoxal conciliar o Deus da esperança, da paciência e da consolação apresentado por Paulo, com o Messias juiz severo, que esmaga o grão, desmascara as hipocrisias humanas, corta e atira ao fogo as árvores que não produzem frutos. João, o Batista, fustiga a falsa segurança que é o oposto da esperança. Não se pode separar a Palavra de Deus que nos faz sonhar, consola e tranquiliza da que nos faz tremer e temer. É necessário, ao mesmo tempo, sonhar, sentirmos-nos confortados e sermos sacudidos sem concessões. Jesus atuou de forma surpreendente e até escandalosa: fez-se amigo dos pecadores, não usou o tema do pecado nem como argumento de poder para submeter as pessoas, nem como discurso do medo para manipular as consciências e as práticas. Jesus testemunhou que este mundo virado se endireita não o limpando dos pecados prescritos pelas instituições de poder, mas reconhecendo a dignidade, os direitos à felicidade de todos os homens e mulheres, cristãos ou não. Deus é Mais!


CONTEMPLAR

Aos pés das dunas de Sossusvlei, Namíbia, Olivier Föllmi (1958-), França.




segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O Caminho da Beleza 01 - I Domingo do Advento

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)


Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)


I Domingo do Advento             27.11 2016
Is 2, 1-5                    Rm 13, 11-14                      Mt 24, 37-44

ESCUTAR

“Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos” (Is 2, 3).

A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz (Rm 13, 12).

“E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24, 39).

MEDITAR

Volte para Mim teu coração,
apreende-me com toda a tua vontade,
repousa em mim o teu espírito
e encontra em mim a tua felicidade.

Quem a tudo renuncia por amor
está perto da meta final.

Quem não quer mal a ser algum
e, liberto do ódio e do egoísmo,
é bom para com todas as criaturas...
está perto da meta final.

Quem permanece fiel a si mesmo,
no prazer e no sofrimento,
sempre sereno e paciente...
esse é querido por mim.

Aquele cuja vida é amor,
a esse amo acima de tudo
e o alimento com o meu amor.

(Krishna, Bhagavad Gita)

ORAR

Nestes tempos de Advento, a comunidade cristã se faz voz desta espera e repete com força a antiga invocação dos cristãos: Marana thà, Vinde Senhor! O cristão é aquele que fica vigilante cada dia e cada hora, sabendo que o Senhor vem. Não podemos reduzir o Advento a uma devoção ingênua e regressiva que empobrece a esperança cristã. Devemos saber procurar Deus no nosso futuro como sentinelas impacientes desde a aurora e tendo no coração a urgência da vinda do Cristo. Aguardar não significa pôr-se a esperar, mas a capacidade e o desejo de se despertar e pôr-se a caminho. É preciso sair deste modorrento repouso que nos ata os pés e nos dificulta o andar. O sono pode entorpecer os sonhos e devemos acordar para torná-los realidade. O sintoma inequívoco da enfermidade do sono é o entorpecimento de não compreender o significado do tempo presente. Dormir pode ser também uma atividade frenética, em busca de uma eficácia empreendedora na qual se entrelaçam negócios e apostolados; poder e religião; atrás do sucesso pela difusão religiosa. Tudo isto revela que estamos ausentes e alienados do mundo real e do evangelho. Manipulações, litígios internos, invejas, brigas mesquinhas, competições emburrecidas e conclusões enfezadas são formas de sono que nos alienam dos verdadeiros desafios. Este é o momento de nos dar conta que o tempo de Deus entrou no tempo dos homens e que este instante é um instante eterno. O que importa e o que é decisivo é o aqui e o agora: “Escutai hoje a sua voz e não vosso coração” (Sl 95, 7-8). Nestes tempos de Advento, atenção para a vista que se nubla quando é capturada pela superficialidade e pelo efêmero; para as mãos que estão vazias quando se empenham em contar e acumular; para o coração que se faz pesado quando está repleto de futilidades e vulgaridades. O cristão deve ser um sonhador como José (Gn 37, 19), pois quando Deus está no meio o sonho se torna uma possibilidade concreta. Jesus pede que não durmamos diante dos que sofrem pela injustiça, pois esta atenção ao sofrimento alheio é o que importa de verdade na vida. O Evangelho nunca é uma ameaça, mas também nunca será um convite para uma vida fútil. Jesus é sempre acolhida, façamos o que façamos, mas ele também nos instiga para que sempre nos superemos. Mantenhamos em nossos corações, neste tempo de Advento, o questionamento do teólogo e cientista: “Cristãos, encarregados de guardar sempre viva sobre a terra a chama do desejo; o que temos feito da espera do Senhor? (Theillard de Chardin).

CONTEMPLAR

S. Título, Nepal, 1968, Michael Wolgensinger (1913-1990), Zurique, Suíça.




segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O Caminho da Beleza 53 - Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo                 20.11.2016
2 Sm 5, 1-3              Col 1, 12-20            Lc 23, 35-43

ESCUTAR

“Tu apascentarás o meu povo Israel e serás o seu chefe” (2 Sm 5, 2). 

Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado (Cl 1, 13).

“Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu reinado” (Lc 23, 42).


MEDITAR

Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre (Francisco, Misericordiae Vultus 2).


ORAR

Esta festa solene de Cristo, Rei do Universo tem como cenário o Calvário e no centro não se destaca um trono majestoso, mas uma Cruz, o patíbulo dos escravos. O povo adota uma posição neutra e oportunista frente ao Condenado; os soldados escarnecem Dele e a própria inscrição colocada sobre sua cabeça é um escárnio. Somente um delinquente O reconhece como rei, ainda que apareça, na Cruz, como perdedor. Os que usam a linguagem do poder desafiam o Cristo para que entre no jogo da força, mas a sua linguagem é a do amor, do perdão e da misericórdia. No Calvário, Cristo coroa sua obra de misericórdia, de reconciliação e de paz. Nos seus últimos instantes, Jesus se encontra próximo dos marginalizados, companheiros de suplício. O “bom ladrão” não obtém de Cristo a salvação física, como queria o outro, mas a salvação total.     Jesus decide em favor do homem e, ao mesmo tempo, é o Servidor “humilhado e obediente até a morte, morte de Cruz” (Fl 2, 8). Desta forma, revela-se como Rei e Servidor, como Cordeiro e Pastor: “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29) e o “verdadeiro Pastor” que dá “a vida em superabundância” (Jo 10, 10-11). A Igreja, comunidade de crentes e de perdoados, é o sinal vivo de que o alto e o baixo coincidem; que o Único e o Mesmo são o Crucificado e o Ressuscitado e que a soberania e a compaixão se identificam em Deus. O nosso Rei é o Crucificado que reúne todo o universo e nos revela, para todo o sempre, que a felicidade em Deus é o dom de si mesmo até o esvaziamento pleno que nos transfigura em homens e mulheres, amados e amantes.


CONTEMPLAR

S. Título, s. autoria, acessado em Pinterest, 2016.





O Caminho da Beleza 53 - Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo                 20.11.2016
2 Sm 5, 1-3              Col 1, 12-20            Lc 23, 35-43

ESCUTAR

“Tu apascentará o meu povo Israel e será o seu chefe” (2 Sm 5, 2). 

Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado (Cl 1, 13).

“Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu reinado” (Lc 23, 42).


MEDITAR

Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre (Francisco, Misericordiae Vultus 2).


ORAR

Esta festa solene de Cristo, Rei do Universo tem como cenário o Calvário e no centro não se destaca um trono majestoso, mas uma Cruz, o patíbulo dos escravos. O povo adota uma posição neutra e oportunista frente ao Condenado; os soldados escarnecem Dele e a própria inscrição colocada sobre sua cabeça é um escárnio. Somente um delinquente O reconhece como rei, ainda que apareça, na Cruz, como perdedor. Os que usam a linguagem do poder desafiam o Cristo para que entre no jogo da força, mas a sua linguagem é a do amor, do perdão e da misericórdia. No Calvário, Cristo coroa sua obra de misericórdia, de reconciliação e de paz. Nos seus últimos instantes, Jesus se encontra próximo dos marginalizados, companheiros de suplício. O “bom ladrão” não obtém de Cristo a salvação física, como queria o outro, mas a salvação total.     Jesus decide em favor do homem e, ao mesmo tempo, é o Servidor “humilhado e obediente até a morte, morte de Cruz” (Fl 2, 8). Desta forma, revela-se como Rei e Servidor, como Cordeiro e Pastor: “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29) e o “verdadeiro Pastor” que dá “a vida em superabundância” (Jo 10, 10-11). A Igreja, comunidade de crentes e de perdoados, é o sinal vivo de que o alto e o baixo coincidem; que o Único e o Mesmo são o Crucificado e o Ressuscitado e que a soberania e a compaixão se identificam em Deus. O nosso Rei é o Crucificado que reúne todo o universo e nos revela, para todo o sempre, que a felicidade em Deus é o dom de si mesmo até o esvaziamento pleno que nos transfigura em homens e mulheres, amados e amantes.


CONTEMPLAR

S. Título, s. autoria, acessado em Pinterest, 2016.





segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O Caminho da Beleza 52 - XXXIII Domingo do Tempo Comum

XXXIII  Domingo do Tempo Comum                    13.11.2016
Ml 3, 19-20                         2 Ts 3, 7-12                                     Lc 21, 5-19


ESCUTAR

Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha (Ml 3, 19).

Ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada (2 Ts 3, 11).

“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’!” (Lc 21, 8).


MEDITAR

A esperança cristã não é um “consolo espiritual”, uma distração das tarefas sérias que exigem nossa atenção. É uma dinâmica que nos torna livres de todo determinismo e de todos os obstáculos para construir um mundo de liberdade, para libertar essa história das correntes do egoísmo, da inércia e da injustiça nas quais se tende a cair com tanta facilidade (Francisco, Educar: exigência e paixão).


ORAR

Paulo ganhou o seu salário como construtor de tendas. Mais do que o Templo, do qual não “restará pedra sobre pedra”, emerge a tenda. A tenda é um sinal provisório de uma travessia até uma meta definitiva. É preciso, mais do que nunca, construir tendas para congregar os que se amam. Seremos julgados pela nossa omissão de não as termos feito, “ocupados em não fazer nada”. A vida é feita de condições turbulentas e as igrejas verdadeiras nada têm de brilhante triunfalismo, que sempre será um sinal de decadência. “Nisto é que está o mistério da Igreja: uma realidade humana feita de homens pobres e limitados (...) Mas a Igreja de hoje ainda não é aquilo que está chamada a ser. É importante ter isto em conta para se evitar uma falsa visão triunfalista” (Puebla, 230-31). Isto desconcerta muitos cristãos que acabam presos por uma angústia, um pânico, uma desesperança e uma desconfiança em relação à Igreja. Sua fé em Deus é uma fé vacilante. Jesus nos previne, cruelmente, sobre estas coisas para que tenhamos uma atitude oposta ao desânimo, ao medo e à infidelidade: “Vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”, pois “estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20). A perseverança cristã consiste em saber recomeçar a cada dia. Continuaremos a perguntar: “O fim do mundo é para amanhã?”. E devemos responder: “Não, o fim anunciado é hoje!”. Por esta razão é necessário construir tendas na travessia, pois elas são as palavras do verbo recomeçar.


CONTEMPLAR

Um bebê sírio é passado por um buraco na barreira de arame farpado, entre a fronteira da Sérvia e Hungria, 2015, Warren Richardson (1968-), Austrália, World Press Photo.






segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O Caminho da Beleza 51 - Todos os Santos e Santas

Todos os Santos e Santas                    06.11.2016
Ap 7,2-4.9-14                     1 Jo 3, 1-3                Mt 5, 1-12

ESCUTAR

Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar (Ap 7, 9).

Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! (1 Jo 3, 1).

“Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 12). 


MEDITAR

Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, não se ouve a voz de Deus, não se goza da doce alegria do seu amor nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem (Francisco, Evangelii Gaudium 1).


ORAR

Esta é a festa da santidade anônima e nela celebramos a imprevisibilidade do Espírito. Hoje, podemos apenas imaginar e suspeitar a poesia dos rostos e a música dos nomes. O excesso dilatado até o infinito é a única medida que adota Seu amor que é fonte da santidade: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!”. O evangelista revela o derradeiro segredo da santidade: a alegria. O santo é um candidato à alegria e nela se exercita cada dia, incansavelmente, para não chegar desprevenido ao gozo eterno. Se não formos capazes de nos alegrar em qualquer circunstância da vida não somos talhados à santidade. Temos medo da santidade porque temos horror à alegria. Somos incapazes do desprendimento mais necessário: romper com nossas melancolias, tormentos existenciais, seriedade, tensões, inquietudes, complicações excessivas, remorsos exasperados, dolorismo e um vitimar-se sem fim e sem tréguas. Somos mergulhados na retórica dolorida da cruz que é oposta à loucura da Cruz. Os santos e santas levaram uma existência ordinária como a nossa, com as nossas dificuldades, cansaços e preocupações. Tropeçaram em seus caminhos como nós. Hoje é a festa da santidade comum, humana e anônima, dos que amaram e viveram conforme a alegria e a ternura da Boa Nova de Jesus, o Cristo.


CONTEMPLAR

New York, Anos Cinquenta, 1955, Garry Winogrand (1928-1984), New York, Estados Unidos.