Is 52, 7-10 Hb 1, 1-6 Jo 1, 1-18
ESCUTAR
O Senhor
desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da
terra hão de ver a salvação que vem do nosso Deus (Is 52, 10).
Este é o esplendor
da glória do Pai, a expressão do seu ser (Hb 1, 3).
E a Palavra
se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).
MEDITAR
Onde houver uma criança
ou um coração de criança,aí será o meu Natal.
Estarei por toda parte:
nas penas dos que trabalham,
nas portas das que se vendem,
nas lágrimas dos que choram,
nos corações dos que cantam,
nos olhares dos dementes.
Nos beliches e nas redes,
sob os tetos, sob as pontes,
sob as pedras, sob as luas,
nos seios das que amamentam,
nos ventres das que me esperam,
na angústia das que me abortam,
no esquife das que morreram,
onde houver uma criança
ou um coração de criança,
aí será o meu Natal.
(Paulo Gomide)
ORAR
Maria e José não sabiam o que era o Natal. Nem os pastores
e muito menos Herodes. Não foram eles que decidiram o que era o Natal e como
haveriam de vivê-lo. Outro o havia decidido. Nós, desgraçadamente, já sabemos
de antemão e evitamos que o Outro nos surpreenda. Nosso natal é um natal
decidido, programado e pré-fabricado por nós mesmos. Nas festas engolimos as
frustrações e continuamos existencialmente isolados do mundo real que nos
cerca. Não olhamos mais nos olhos uns dos outros e desaprendemos o diálogo que
nos humaniza. Temos apenas, em comum, os celulares que sobre a mesa e as poltronas trocam ansiosas mensagens tantas
vezes fúteis e monossilábicas. É um natal decrépito, marcado pela mesmice mais
do que celebrado e vivido como a irrupção do Eterno no meio de nós. Neste dia
de Natal, devemos nos perguntar o que colocamos no lugar do Menino, porque Deus
fica excluído quando fingimos acolhê-Lo e se torna um estranho quando criamos a
ilusão de tê-Lo em casa. Se Deus se apresentasse, de verdade, à nossa porta,
disfarçado não de Papai Noel, mas de um imigrante, de um refugiado, de um
morador de asilo, de um dependente químico, com certeza Ele seria como um
espinho atravessado em nossa garganta. Este Inesperado visitante não estava no
programa, uma vez que o deixamos abandonado e confinado em seu devido lugar
atendido pelos nossos serviços sociais civis e religiosos. Apesar de tudo, o
Natal é o nascimento de um Menino proscrito, que vem à luz numa terra
estrangeira e que não corresponde ao nosso sentimentalismo devocional. Um
Menino que nos incomoda e não nos tranquiliza de maneira alguma. Este Menino
nasce para que aprendamos o sacramento do irmão em que se revela plenamente
Deus: o Lava Pés. Este, que seria o oitavo sacramento, sem o qual os outros
perdem a razão de ser, foi reduzido a uma mera encenação litúrgica uma vez ao
ano. O Natal é o momento sagrado em que precisamos estar a descoberto na
pobreza do nosso ser, na nossa inevitável finitude. Neste dia de Natal,
deixemo-nos surpreender por este Menino, que é o mais secreto de nossas vidas,
que veio para invadir o mais íntimo de nosso ser e transformar as nossas almas.
A grande preocupação de Jesus não era se as pessoas pecavam mais ou menos, mas
se tinham fome ou estavam doentes. Sigamos as orientações do Papa Francisco
para que o Menino nasça em uma nova manjedoura: rebelemo-nos contra a tirania
do dinheiro que explora nossos medos; sejamos solidários para aniquilar a
atrofia moral e ética; refundemos e revitalizemos a democracia e, finalmente,
sejamos austeros e fujamos da corrupção. Sem medo dos imprevistos, façamos
suceder algo novo, um milagre que vira tudo do avesso porque Deus armou a sua
tenda entre nós para nos revelar que “o sentido para nossa vida somos nós que
escrevemos e cada um tem a sua própria caligrafia” (Nelson Padrella).
CONTEMPLAR
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