Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
II Domigo da Quaresma
Gn 12, 1-4 2 Tm 1, 8-10 Mt 17, 1-9
ESCUTAR
“Sai da tua
terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou
mostrar. Farei de ti um grande povo e te abençoarei: engrandecerei o teu nome,
de modo que ele se torne uma benção. Abençoarei os que te abençoarem e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão abençoadas todas as famílias
da terra!” (Gn 2, 1-3).
“Esta graça
foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele não
só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio
do Evangelho” (2 Tm, 10).
“Jesus tomou
consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão e os levou a um lugar à parte, sobre uma
alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol
e as suas roupas ficaram brancas como a luz” (Mt 17, 1-2).
MEDITAR
Todos nós
seríamos transformados se tivéssemos a coragem de ser o que somos.
(Marguerite
Yourcenar)
ORAR
Após a prova do deserto, o episódio da
Transfiguração é a iluminação que desperta a esperança. O relato faz brilhar,
por antecipação, a glória de Deus na paixão do Cristo. A nuvem luminosa que
cobre a todos é a mesma que criou o mundo no primeiro dia do Gênesis e a que
envolveu Maria na Anunciação. É o mesmo Espírito que consagra o pão e o vinho
em Corpo e Sangue de Cristo para a vida do mundo. A Transfiguração é uma resposta
à indignação de Pedro uns dias antes ao ouvir de Jesus o anúncio de sua Paixão:
“Deus te livre, Senhor! Tal coisa não te acontecerá” (Mt 16, 22). Jesus recebe
no monte Tabor a sustentação psicológica e espiritual mais significativa no
decorrer do seu ministério. Jesus tem a garantia de que o doloroso caminho que
vai percorrer O conduzirá à glória. A Transfiguração é a antítese do Calvário.
Nela, Jesus, glorificado, está entre as duas mais ilustres personagens da
história de Israel: Moisés que recebera a revelação de Deus e as tábuas da lei
na sarça ardente; e Elias que a recebera na brisa leve e ligeira que o fazia
vivenciar o Deus da Ternura. Apesar desta visão gloriosa, o chefe dos apóstolos
e seus companheiros terão que pregar o Cristo Crucificado entre dois ladrões.
Nesta antítese se edifica a solidez de uma fé na qual repousa toda a fé da
Igreja de Jesus. Os apóstolos testemunharam a ressurreição da filha de Jairo e
a transfiguração de Jesus para que proclamassem a ligação íntima entre Ressurreição
e Transfiguração. Apesar de tudo, toda vocação autêntica é uma missão a serviço
dos outros, anunciada e testemunhada em nossas vidas pela exclamação do
salmista: “A terra está plena do seu amor e transborda em toda a terra a sua
graça” (Sl 119, 64). Neste mundo e nestas igrejas comprometidas com uma moral
do espetáculo, que estimula o ardor religioso individual sem nenhum compromisso
comunitário, um Jesus Morto é
absolutamente comum e sem atrativos de sedução. Para nós, além do Jesus da
História, devemos estar intimamente ligados ao Cristo da Fé e Neste o que conta
não é o fenômeno sobrenatural, mas a humanidade de Jesus que durante a sua
travessia testemunhou e praticou para todos e com todos, sem exceção ou
discriminação, suas entranhas de misericórdia.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
O Cristo (detalhe da pintura Peregrinos de Emaús), 2014,
Jean-Marie Pirot (Arcabas, 1926-2018), Saint-Hugues de Chartreuse, França.
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