Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
V Domingo do Tempo Comum
Is 58, 7-10 1
Cor 2, 1-5 Mt 5, 13-16
ESCUTAR
“Reparte o
pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um
nu, cobre-o e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora
e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e
a glória do Senhor te seguirá” (Is 58, 7-8).
“Eu estive
junto de vós com fraqueza e receio, e muito tremor” (1 Cor 2, 3).
“Assim também
brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5, 16).
MEDITAR
Um irmão não possuía absolutamente nada além de um
Evangelho. Vendeu-o e gastou o dinheiro com alimentos para os famintos,
acrescentando este dito memorável: “O que vendi foi o próprio livro que me diz:
“Vende o que tem e dá aos pobres.
(Evágrio Pôntico, Tratado Prático, 97)
Um ser
espiritual irradia o amor em que vive e não busca doutrinar, convencer. Não é
nada mais que um outro. Faz o que tem de fazer. É ele mesmo quase sem se dar
conta [...] Pode-se falar dele, de seu comportamento, mas o que emana de sua pessoa
é inexplicável, pertence ao que há de mais vivo, de mais estimulante. Ele é
surpreendente, até mesmo ‘chocante’, mas esse choque é revelador de uma outra
coisa que não pode ser explicada – ele está com Deus
(Françoise Dolto)
ORAR
Somos chamados a praticar boas obras e nos abstermos de atitudes
ameaçadoras e da maledicência. Nossa oração só alcançará Deus quando o amor
fraterno alcançar o próximo. Deus nos diz, “Estou aqui”, unicamente ao que responde,
“Eis-me aqui”, quando alguém bate em sua porta. Basta de andarmos como cegos de
um lado para o outro e irmos longe para acender uma luz e deixarmos os mais
próximos às escuras. A Luz se oferece aos outros com modéstia e delicadeza e o
Cristo sobre a cruz se manifesta na sua fraqueza para que aprendamos a falar da
Cruz do Cristo em tom humilde e palavras sinceras. O evangelista revela que
para sermos luz do mundo não devemos ter a pretensão de brilhar. Devemos
esquecer a ilusão de dar a luz aos outros e desterrar a obscuridade e o caos
que nos rodeiam com um pouco da loucura de Deus. O homo sapiens produziu e continua a produzir catástrofes em todos os
níveis. É a hora de nos convertemos em homo
demens e caminharmos no caminho do risco, do excesso e da provocação. O
papa Francisco nos assegura: “No governo, a prudência é uma virtude, mas a audácia
também é”. E o Papa exorta a sermos uma igreja que tropeça porque caminha em
frente do que uma igreja que se acomoda e se resguarda de tudo e de todos. Pés
parados não topam com nenhuma pedra. O mundo de hoje não necessita da beatice
de olhos mortiços e pescoços pendidos, nem de intelectuais refinados, nem de
doutores que prescrevem receitas, nem de lideranças vanguardistas. O mundo de
hoje precisa de loucos, de artistas e de poetas. De homens e mulheres entusiasmados,
cheios de Deus, capazes de realizar gestos insólitos e surpreendentes na sua
fantasia; provocadores em sua liberdade para quem as bem-aventuranças são uma
desconcertante sinfonia em que tudo será um milagre porque tudo será virado
pelo avesso. Neste mundo de pactos medíocres, em que grassa uma subcultura
política, social e religiosa, devemos fazer eco ao grito do escritor russo
Dostoievski: “A beleza salvará o mundo!”. Sigamos os passos de São Francisco
que se autonomeava o louco e o idiota de Deus e dessa maneira levava alegria a
todos: de homo demens converteu-se em
homo ludens. Na iconografia católica,
o Menino Jesus no colo de Maria segura em suas mãos frágeis uma bola que é o
mundo com o qual brinca o Menino. O nosso cristianismo está enfermo da sisudez
e do escrúpulo; aprisionado a uma religiosidade supersticiosa pendurada em
fetiches que materializam a nossa debilidade espiritual e a nossa fé
infantilizada. Sem alegria, somos como “cegos conduzindo outros cegos” e
cairemos todos num buraco (Mt 15, 14). Sem o sal que nos queima, perderemos o
sabor e a chama amorosa da ternura que nos deve consumir, pois “todos vão ser
salgados com o fogo” (Mc 9, 49). Se não nos tornarmos crianças lúdicas, se não
nos convertermos em loucos, poetas, artistas e se não mantivermos em nós o sal
e o fogo, jamais conheceremos o gozo que invade todo o anúncio de Cristo. Está
mais do que na hora de nos deixarmos seduzir pela loucura, pela alegria e pela
ternura de Deus para que salgados pelo fogo do seu amor e da sua misericórdia
não apodreçamos justapostos e isolados nas nossas falsas seguranças. Não
podemos continuar cristãos decorativos, pois Deus não nos seduz quando nos é
imposto nos nossos cérebros, mas quando possui os nossos loucos corações.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
S. Título, autoria desconhecida, acessado
em Pinterest, 04.01.2017.
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