quarta-feira, 8 de março de 2023

O Caminho da Beleza 16 - III Domingo da Quaresma

Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).

III Domingo da Quaresma

Ex 17, 3-7                     Rm 5, 1-2.5-8                   Jo 4, 5-42

 

ESCUTAR

“Então o povo começou a disputar com Moisés, dizendo: ‘Dá-nos água para beber!’. Moisés respondeu-lhes: ‘Porque disputais comigo? Por que tentais o Senhor’. Mas o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés e dizia: ‘Por que nos fizestes sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado’” (Ex 17, 2-3).

“E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5, 5-8).

“Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna... Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (Jo 4, 14.23).

 

MEDITAR

Morrer ou amar Deus: não tenho outro desejo. A morte ou o amor: pois viver sem amor é pior que a morte e isto me seria mais insuportável do que a vida presente.

 (Pe. Pio)

 

ORAR

   Esta é a primeira cena de intimidade de Jesus com uma mulher; a outra é com Maria Madalena no jardim da Ressurreição. Jesus está só com estas mulheres e para elas revela o seu ser mais profundo. O evangelho acentua a insistência de Jesus sobre o dom, pois com o Deus de Amor tudo é entrega e compaixão. A samaritana simplesmente acolhe o dom e o perdão. Jesus ao falar da fonte transbordante quer dizer que a água que jorra dos corações, doravante, saciará a todos. A samaritana, ao declarar que encontrou o Messias, revela ao mundo que o Messias esperado é aquele que é capaz, sem nenhuma discriminação, do dom e do perdão. Jesus escolhe este momento de fragilidade para declarar o seu verdadeiro título e revelar a sua missão. Do presépio à cruz, passando por um pedaço de pão ázimo, Jesus desconcerta sempre e o ponto culminante disto é quando reconhece sua proclamação como rei, quando interrogado no cárcere: “És tu o rei dos judeus?” e Jesus declara: “Tu o dizes” (Mt 27, 11). Jesus desvela para esta mulher a chave do mistério da existência: “Se tu conhecesses o dom de Deus”. Ele é o depositário do segredo que os homens não conhecem. Ele, fatigado, sedento, que solicita um pouco de água para se refrescar, é o mesmo que oferece a água viva. O detalhe sutil sobre as bodas e o esposo pode nos passar desapercebido. Jesus pede que a samaritana chame o seu marido, pois um homem não podia prolongar uma conversa com uma mulher fora da presença do seu esposo. O evangelista acentua o significado profundo desta ausência do marido. Jesus, em Caná, assumiu o papel do esposo ao proporcionar aos convidados o vinho que faltara; João, o Batista, lhe confere o título de esposo e se auto-intitula “o amigo do Esposo”. Os tempos messiânicos são os tempos da renovação da Aliança esponsal de Deus com o seu povo. Jesus, na sua liberdade ousada, propõe uma Nova Aliança e a oferece a todos, sem discriminação: aos pecadores, aos excluídos da Sinagoga, aos proscritos da sociedade, aos não-judeus e aos samaritanos. A Samaria, que fora desligada da Aliança, vai, neste momento, realizá-la graças a esta mulher que anunciará a toda cidade que encontrara o “Salvador do Mundo”. É pela Samaria que se iniciará a evangelização fora da Palestina e será um sucesso (cf. At 8, 5). O evangelista encerra o seu relato evocando o título que os primeiros samaritanos convertidos dão a Jesus: Salvador do Mundo. Mais uma vez são os proscritos que nos revelam e anunciam a universalidade da salvação. A Igreja de Jesus deve saber que somente o transbordamento do amor – o servir a todos sem discriminação – rompe o círculo de uma comunidade limítrofe, medíocre e isolada que bebe de qualquer coisa para iludir a sua sede. Paulo nos reitera que “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Nesta quaresma, somos chamados a manter viva a nossa esperança e a nossa sede de viver para proclamar como o poeta: “Cheio de Deus não temo o que virá, pois venha o que vier nunca será maior do que a minha alma” (Fernando Pessoa).

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Cristo e a Mulher da Samaria, 1828, George Richmond (1809-1896), têmpera e ouro sobre mogno, 410 x 498 mm, Tate Gallery, Reino Unido.




 

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