Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
I Domingo da Quaresma
Gn 2, 7-9 Rm 5, 12.17-19 Mt 4, 1-11
ESCUTAR
“O Senhor Deus formou o
homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem
tornou-se um ser vivente. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao
oriente, e ali pôs o homem que havia formado” (Gn 2, 7-8).
“Por um só homem, pela falta
de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela
mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante
da justiça” (Rm 5, 17).
“O Espírito conduziu Jesus
ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e
quarenta noites, e, depois disso, teve fome... Então o diabo o deixou. E os
anjos se aproximaram e serviram Jesus” (Mt 4, 1-2.11).
MEDITAR
É melhor mal amar, amar a
torto e a direito do que nunca amar, pois o que ama mal pode sempre aprender e
descobrir como amar melhor, mas aquele que não ama está perdido.
(Jean-Guy Saint-Arnaud)
A alma que fica na
superfície de si mesma, que não se habita a si mesma, torna-se estrangeira de
si própria. A interioridade nos faz descobrir verdadeiramente a nós mesmos,
Deus e os outros.
(Mestre Eckhart)
ORAR
Somos um misto frágil de pó da terra e de
sopro divino. Por esta razão sempre sofremos a tentação de sucumbirmos ao
pecado da vaidade. Jesus se retira sob o sol de Satanás e sofrerá um batismo de
fogo após o seu batismo de água no Jordão. A sua tentação é proporcional à sua
missão e como a nossa é expressa humanamente: a de ter seus desejos
imediatamente satisfeitos e assegurar a sua sobrevivência; a de experimentar a
sua onipotência e se tornar igual a Deus e, finalmente, a de dominar os homens
e reinar sobre a Terra. O mesmo Espírito que conduz Jesus ao deserto permite
reconhecer em nossos desertos a presença de Deus agindo do nosso lado nas
provas e tentações cotidianas. A tentação não é um mistério de vitrine, mas um
mistério de vertigem que cada um carrega em si, no seu próprio precipício
possível. Na sua agonia, Jesus é abandonado pelos seus, na sua tentação é
abandonado a si mesmo e se reencontra só com todos os possíveis da sua
humanidade. O Enganador se engana: se somos filhos de Deus, é inútil
transformar pedras em pão, pois o Pai dá naturalmente o pão a seus filhos (Mt
6, 11); se somos filhos de Deus é impossível se lançar abaixo, porque seguros
nas mãos do Pai não teremos vertigens e se somos seus filhos será em vão fazer
vilezas e vulgaridades para se ganhar todos os reinos do mundo, porque já somos
herdeiros com o Filho do Reino do Pai (Rm 8, 17). Este período de quaresma nos
permite uma profunda revisão no nosso deserto interior para que possamos, como
Jesus, permanecer nos desígnios do Pai. A nossa vitória está na conquista da
lucidez de sermos filhos e filhas bem-amados. O evangelista nos remete à
experiência humana mais profunda que acarreta apreensão e angústia por desfilar
diante dos olhos as imagens mais sedutoras. Há um debate interior que une, na
vida de Jesus, dois momentos cruciais: a solidão do deserto e a solidão do
Jardim das Oliveiras. Jesus não escolhe os bens terrestres, mas a pobreza; não
escolhe o prestígio, mas a humildade e as humilhações; não sucumbe à idolatria
do poder político, mas prefere ser condenado injustamente como “rei dos
judeus”. A tentação do deserto desvela a união diabólica e a natureza maléfica
do poder político e da elite religiosa. A liderança política e religiosa é a
forma institucional visível de uma realidade interna que resiste aos propósitos
de Deus e se empenha em cumprir a sua agenda por meio da injustiça e do poder
opressor. A Igreja de Jesus deve aprender com Ele a não sucumbir à tentação
maior que é a de agir em benefício próprio. Como diz Paulo: “Conheceis a
generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por vós se tornou
pobre para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8, 9).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
A Solidão do Papa,
s.d., fonte: La Stampa, Itália.
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