Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
I Domingo da Quaresma 05.03.2017
Gn 2, 7-9; 3, 1-7 Rm 5, 12-19 Mt 4, 1-11
ESCUTAR
Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo
que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira (Gn 3, 7).
O
dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em
abundância sobre todos (Rm 5, 15).
“Não
tentarás o Senhor teu Deus!” (Mt 4, 7).
MEDITAR
A fala
é divinamente exata,
Convém
ser exato para com ela.
A
língua que falsifica a palavra
Vicia o
sangue daquele que mente.
(Provérbio
do ritual Komo, da tradição Bambara, do Mali, África).
ORAR
As tentações do deserto propõem caminhos
alternativos reduzidos a um messianismo triunfalista e terreno. A primeira, é reduzir
o homem ao seu estômago; a segunda, é lhe conferir o poder de impressionar para
a publicidade, a teatralidade e a ostentação. É a tentação da imagem exacerbada
de um milagrismo tosco, de mal gosto,
que longe de ser uma expressão de fé é uma caricatura da verdadeira relação com
Deus. A terceira, é conferir toda a força e poder às relações políticas e
religiosas. O primeiro caminho é o da facilidade; o segundo, o da superficialidade
e o terceiro, o da contaminação pelas idolatrias e falsas seguranças. É diabólico
organizar a religião para nos acomodar. Não se constrói um mundo mais humano
refugiando-se cada um na sua própria religião. A tentação é colocar-se à prova,
mas também uma armadilha para nos aprisionar. O deserto (eremos) é o lugar de refúgio e solidão para Jesus e é o Espírito
que o conduz para ser tentado. É no deserto que Jesus se derrama em abundância
sobre todos. Na tentação do deserto, Satã se apresenta como exegeta para Jesus.
Ele interpreta as Escrituras para que Ele se acomode, mas o Espírito sopra uma
outra exegese: a Palavra não é dada para se exigir milagres, mas para revelar
aos homens o milagre que ele é. Ainda procuramos não tanto Deus quanto os
milagres. “Esta geração adultera e perversa procura um sinal, mas nenhum sinal
lhe será dado” (Mt 16, 4). As tentações do Cujo representam entediantes
variações sobre pouquíssimos temas muito velhos e aborrecidos. Desde o Gênesis,
os homens se omitem em comer o fruto da árvore da Vida que simboliza a
aspiração à Vida Eterna. Seu pecado é o da omissão de viver e correr riscos
livremente. “Existem três forças, as únicas três forças na terra capaz de
vencer e cativar para sempre a consciência desses rebeldes fracos para sua
própria felicidade: essas forças são o milagre, o mistério e a autoridade” (Lenda
do Grande Inquisidor, Dostoiévski). Entregamos a nossa liberdade a qualquer
instituição que nos ofereça segurança e proteção e, como a serpente, decida por
nós. E nos tornamos “doidos sem cura” (Guimarães Rosa), mas o Cristo nos
liberta desta loucura mundana que nos despersonaliza, pois “o demônio não
existe real. Deus é que deixa afinar à vontade o instrumento, até que chegue a
hora de se dançar” (Grande Sertão, Veredas).
CONTEMPLAR
Poste de Cerca, 2014,
Matt Black (1970-), Magnum Photos, Allensworth, Califórnia, Estados Unidos.
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