IV
Domingo da Quaresma 06.03.2016
Js
5, 9-12 2 Cor 5, 17-21 Lc 15, 1-3.11-32
ESCUTAR
“Hoje tirei de cima de vós o opróbio do Egito” (Js 5, 9).
Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo
velho desapareceu. Tudo agora é novo (2 Cor 5, 17).
“‘Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu
irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’” (Lc 15,
32).
MEDITAR
Somente graças a esse encontro – ou reencontro – com o amor
de Deus, que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa
consciência isolada e da autoreferencialidade. Chegamos a ser plenamente
humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos
conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser verdadeiro
(Francisco, Evangelii Gaudium).
ORAR
A conversão não se reduz a um
pequeno ajuste, a um retoque de fachada, a uma minúscula mudança que não
incomoda demais, a uma modificação insignificante. A conversão implica uma
transformação radical nos pensamentos, palavras, mas, sobretudo, nos atos. O
tema da novidade radical, representada pela conversão, é destacada por Paulo:
“Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo
agora é novo”. Na parábola, o filho mais novo é um abusado e o mais velho, um
insuportável possuidor de direitos, enjaulado nas leis e na estrita
observância. Não cometeu faltas graves, mas vive sem amor e sua justiça o
amargou. Necessita proteção e se sente seguro ao cumprir os seus deveres sem
jamais se arriscar. Tornou-se um calculista, um burocrata da virtude sem nenhum
brilho de vida, de alegria ou espontaneidade. Há um abismo entre ele e o irmão
mais novo, mas um abismo ainda maior entre ele e seu pai. Ele fala de novilhos,
cabras, bois, justo e injusto; o pai fala de gente encontrada e ressuscitada.
Ele fala a língua da lei, da intolerância e do castigo e o pai se exprime na
língua do perdão, da ternura e da misericórdia. O pai se coloca numa dimensão
de gratuidade e o filho mais velho permanece na trincheira de uma mentalidade
de justiça distributiva. O filho mais velho, ao se julgar justo, se coloca
distante do amor do pai a quem serve com um espírito de escravo e não com a
gratidão e alegria de filho amado: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é
meu é teu”. Jesus narra esta parábola para os justos fariseus e não para os
pecadores. Não há final feliz nela. Este final feliz só acontecerá quando o
justo não excluir o irmão que mostre algum sinal de conversão. Quando o justo
descobrir que a fidelidade não é simplesmente um permanecer irredutível, mas
aceitar cotidianamente as novidades, a lógica paradoxal e as iniciativas
desconcertantes de Deus. Como declara o Cristo: “Haverá mais alegria no céu por
um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam
de arrependimento” (Lc 15, 7).
CONTEMPLAR
Rue Marcelin
Berthelin Berthelot, Choisy-Le-Roi, maio 1946, Robert
Doisneau (1912-1994), Val-de-Marne, Île-de-France, França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário