II
Domingo da Quaresma 21.02.2016
Gn
15, 5-12.17-18 Fl 3, 17- 4,1 Lc 9, 28-36
ESCUTAR
“Olha para o céu e conta as estrelas se fores capaz!” E
acrescentou: “Assim será a tua descendência” (Gn 15, 5).
Há muitos por aí que
se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus
deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso e só pensam nas
coisas terrenas (Fl 3, 18-19).
Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa
ficou muito branca e brilhante (Lc 9, 29).
MEDITAR
A fragilidade dos tempos em que vivemos é também esta:
acreditar que não existe a possibilidade de redenção, alguém que nos dá a mão
que nos levanta, um abraço que nos salva, perdoa, anima, que nos inunda de um
amor infinito, paciente, indulgente; que nos coloca de novo nos trilhos (Francisco,
O nome de Deus é misericórdia, 2016).
ORAR
A liturgia da Palavra nos faz
uma tríplice revelação. A primeira, a de que Deus é um Deus fiel que mantém as
suas promessas. A segunda, a da divindade de Jesus e do seu mistério Pascal: o Cristo
transfigurado será, brevemente, um Cristo desfigurado. A terceira, a revelação
do mistério do homem peregrino, cidadão do céu que vive na precariedade do
corpo à espera da sua transfiguração num corpo glorioso. A dinâmica da vida
cristã se apresenta numa dupla dimensão: provisoriedade e tensão até a morada
definitiva. Abrão caminha às escuras e se contenta em olhar um céu estrelado.
Para ele, a terra é somente uma promessa garantida pela Palavra de Deus. Desta
futura realidade, Abrão não possui sequer uma pequena antecipação para
sustentar a sua fé. Suas mãos seguem vazias como vazio está o ventre de Sara. A
fé, quando autêntica, atravessa o áspero terreno da prova. Na transfiguração de
Cristo, é reafirmado que o discípulo não pode inventar um caminho privado para
evitar o confronto do Calvário. A transfiguração passa pela prova de um rosto
desfigurado pela angústia e pelo terror, pelo suor e pelo sangue, pelos golpes
e pelas cusparadas. A glória passa pela prova do rebaixamento, da perseguição,
da condenação, das ofensas e da morte atroz. Quando queremos evitar as exigências
ásperas do Cristo, refugiamo-nos num legalismo exacerbado como solução de
facilidade. Tornamo-nos guardiões da intolerância em nome Daquele que é
Misericórdia. Muitas vezes, evadimo-nos num ascetismo individual de
mortificação, muito mais fácil do que a prática do amor e do perdão. Viver em
estado de espera é ser nômade como Abrão. Os céus novos que esperamos passam,
necessariamente, pela construção de uma terra nova. Os evangelhos não são
livros didáticos de uma doutrina acadêmica asséptica e descompromissada sobre
Jesus. Os evangelhos são relatos de conversão que nos convidam a mudanças
radicais para o seguimento de Jesus.
CONTEMPLAR
Sem Título, 2013, Jerry Uelsmann (1934-), Estados Unidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário