O Caminho da Beleza 02
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
II
Domingo do Advento 07.12.2014
Is 40,
1-5.9-11 2 Pd 3, 8-14 Mc 1, 1-8
ESCUTAR
Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta
voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida; ela
recebeu das mãos do Senhor o dobro por todos os seus pecados (Is 40, 2).
O que nós esperamos, de acordo com a sua
promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça (2 Pd 3,
13).
Esta é a voz daquele que grita no deserto: “Preparai
o caminho do Senhor, endireitais as suas veredas” (Mc 1, 3).
MEDITAR
Tomar
consciência dos nossos medos nos permite superá-los e nos abrir a um mundo de
possibilidades. Ao cessar de duvidar de nós mesmos encontramos ao mesmo tempo a
coragem de assumir nossos erros (François Gervais).
Pelo
amor de Deus, eu vos suplico: não tenhais medo de Deus, pois Ele não vos deseja
nenhum mal. Ao contrário, amai-O com todas as vossas forças, porque Ele vos ama
infinitamente (Padre Pio).
ORAR
João, o Batista não é
certamente um tipo fascinante para angariar simpatias e alcançar popularidade.
No deserto, a palavra provoca o silêncio e não os aplausos. João, para
proclamar o único necessário, despoja-se de todas as vaidades e usa a linguagem
da simplicidade e não a do espalhafatoso. João não precisa falar de si mesmo,
pois sua austeridade de vida e a seriedade de sua existência o tornam digno de
confiança. João fala no deserto porque o deserto é a sua grande e incrível
possibilidade: no deserto se realiza o encontro decisivo e pelo deserto passa o
caminho do Senhor. João semeia a interrogação e as inquietudes, acende um
desejo, suscita uma espera e solicita uma busca. Não tem a pretensão de entregar o Cristo, pois não O possui. É
Judas quem O entregará. João dirá simplesmente que é o “amigo do Esposo” (Jo 3,
29). Temos que fazer alguma coisa para não perder o encontro. Os vales, abismos
de insignificância, deverão ser preenchidos; montes e colinas de presunção
devem ser rebaixados; terrenos acidentados deverão ser aplainados. Tudo isto
nos prepara para o encontro e para que possamos antecipar os “novos céus e uma
nova terra onde habita a justiça”. O Senhor, diz Pedro, está “usando de
paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca”. Para nós,
sempre apressados, a paciência tem limites. No entanto, a paciência de Deus não
os conhece e se esgota unicamente no exato instante em que aceitamos ser
perdoados. O apelo de João para o batismo de conversão é o apelo para rejeitar
uma vida de aparência, a fim de se colocar em busca do que é essencial e
verdadeiro; de ousar pensar aquilo que jamais ousamos pensar. Somos muito mais
ricos do que pensamos ser. Nossa alma é infinitamente mais bela do que
imaginamos e nossa vida é plena de possibilidades. No meio do deserto, numa
sede insaciável de Deus, João nos chama a sermos artesãos de nossas existências
e nos oferece a sensatez do provérbio: “Beba abundantemente da água que brota
do teu poço” (Pr 5, 15). E assim, convertidos à verdadeira essência que nos
habita e consome, preparamos o caminho no deserto para o Menino que será um
mistério entre os que O conhecerão, pois “Nele existia uma vontade mais
profunda de estar à disposição dos homens com toda a sua humanidade divina” (Urs
von Balthasar). Jesus vem para testemunhar que diante do que é humano temos
somente duas atitudes: servir-me dele para dominá-lo ou servindo-o, despertá-lo
para a sua mais ampla humanidade, que é divina.
CONTEMPLAR
Madona e Criança e o Jovem São João Batista, c. 1490-95, Sandro Boticelli
(1445-1510), têmpera sobre tela, 134 cm x 92 cm, Palácio Pitti, Florença,
Itália.
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