O Caminho da Beleza 04
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
IV
Domingo do Advento 21.12.2014
2 Sm 7,
1-5.8-12.14.16 Rm 16, 25-27 Lc 1, 26-38
ESCUTAR
Assim fala o Senhor: “Porventura és tu que me
construirás uma casa para eu habitar?” (2 Sm 7, 5).
Glória seja dada àquele que tem o poder de vos
confirmar na fidelidade ao meu evangelho e à pregação de Jesus Cristo, de
acordo com a revelação do mistério mantido em sigilo desde sempre (Rm 16, 25).
Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim
segundo a tua palavra (Lc 1, 37).
MEDITAR
Eu não
quero orar para estar protegido dos perigos, mas para poder enfrentá-los
(Rabindranath Tagore).
Diz-se que é bendito o homem, é bendito o pão, é
bendita a mulher, é bendita a terra e as outras criaturas que pareçam dignas de
serem benditas; mas de modo especial é bendito
o fruto do teu ventre, porque sobre todas as coisas ele é Deus bendito por
todos os séculos. Portanto, bendito é o
fruto do teu ventre. Bendito por seu perfume, bendito por seu sabor,
bendito por sua beleza (São Bernardo de Claraval).
ORAR
Os
textos deste último domingo de advento desvelam duas maneiras de acolher o
Amado. A primeira, a de Davi, preocupado em construir um espaço externo para
Deus: um templo mais monumental do que os santuários pagãos. A segunda, a de
Maria, disponível para oferecer a Deus o espaço interior das suas entranhas de
escuta e acolhida. O Senhor não está de acordo com os sonhos de grandeza do rei
Davi, ainda que generosos. Deus não quer habitar uma casa de pedras, mas fazer
de um povo a sua própria habitação e caminhar com ele, pois prefere as pedras
vivas aos monumentos. Deus privilegia como seu Templo a comunidade humana:
“Ele, que é Senhor do céu e da terra, não habita em templos construídos por
homens, nem pede que o sirvam mãos humanas, como se precisasse de algo” (At 17,
24-25). Nestes dias que antecedem a chegada do Menino, estamos ansiosos e mais
envolvidos com a lista de presentes, com a receita das comidas, com as
vestimentas para a noite de festa e com o esplendor da árvore natalina. Tudo
está pronto como o programado. Nada falta do que pensamos, mas falta Alguém.
Ainda bem que existe Maria para conduzir-nos na simplicidade ao essencial e
Deus tem necessidade dela. Tem necessidade de poder dispor de uma criatura que
não coloque resistência à sua ação; uma criatura não encouraçada pelas coisas e
nem por si mesma. Uma criatura que não diga: “Eis o que decidi e preparei”, mas
apenas pronuncie: “Eis-me aqui!”. Maria de Nazaré oferece ao seu Senhor o único
espaço que Ele necessitava: o seu corpo, a sua pessoa e todo o seu ser. Para o
Senhor, o templo-monumento é estreito demais porque somente um templo de carne
pode conter a sua glória. Só as pequenas entranhas de uma jovem conseguem
abraçar a grandeza divina e nelas Deus finalmente encontrou uma casa. Nestes
dias que faltam para o Natal, devemos deixar de imitar Davi com seus
preparativos suntuosos e nos identificarmos com Maria na calma, na paz e na
oração. O Emmanuel não reconhece seu espaço nas coisas, nos shoppings, nos salões, nos frenesis das
compras e desvarios dos presentes. O Emmanuel se encontra no humilde e
sussurrante Sim de quem,
silenciosamente, O acolhe nas entranhas do seu ser e O embala nas vísceras de
ternura do seu corpo, adormecendo-O com o ritmo do seu coração. O Natal é,
antes de mais nada, um convite para redescobrir a nossa humanidade, a nossa
interioridade e o nosso peregrinar para as Bodas nupciais do Cordeiro, que já
está no meio de nós.
CONTEMPLAR
A Anunciação (Cestello Annunciation), c. 1489-90, Sandro Botticelli (c. 1445-1510), têmpera sobre painel de
madeira, 150 cm x 156 cm, Galeria Uffizi, Florença, Itália.
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