O Caminho da Beleza 07
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
Epifania
do Senhor 04.01.2015
Is 60,
1-6 Ef 3, 2-3a.5-6 Mt 2, 1-12
ESCUTAR
Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque
chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor (Is 60, 1).
Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros
do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do
Evangelho (Ef 3, 6).
Avisados em sonho para não voltarem a Herodes,
retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho (Mt 2, 12).
MEDITAR
É por meio da prática daquilo
que é bom nas suas próprias tradições religiosas, e seguindo os ditames da sua
consciência, que os membros das outras religiões respondem afirmativamente ao
convite de Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo, mesmo se não o reconhecem
como o seu Salvador (cf AG 3, 9, 11) (Diálogo e Anúncio, Pontifício Conselho para o Diálogo
Inter-Religioso).
O que
se espera do missionário (...) não é que pregue sobre a Igreja e a torne atraente
por uma exaltação humana de seu poder, de seu prestígio, de sua prudência, de
sua ciência, de todas as suas riquezas, enfim. A Igreja deve desaparecer diante
de Jesus para quem aponta, como João Batista (Bernardo Catão).
ORAR
Os
textos deste domingo revelam que o poder de Deus é o da inclusão sem discriminação: “Os pagãos são admitidos à mesma
herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus
Cristo por meio do evangelho”. Os
magos, desconhecidos e pagãos, representam todos os não-judeus que pela
graça de Deus têm o mesmo direito à herança de Israel. Herodes exerce um poder
de exclusão. Os magos procuram o rei dos judeus e suscitam, por esta busca, um
conflito mortal e impiedoso com o rei Herodes que se apresentava como o rei do
povo consagrado a Deus e o rei herdeiro de Davi. Herodes é um usurpador,
assassino e mentiroso, e o seu poder real é mantido pelo massacre e pelo
derramamento de sangue dos seus opositores. O reino de Herodes representa todos
os reinos deste mundo mantidos pelos assassinatos, pela barbárie e pela
dissimulação: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino.
E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”. O reino do Cristo não significa que o
Menino, um dia, sucederá a Herodes, como ele temia, e nós, muitas vezes
desejamos. Jesus, o Cristo, não vem limitar para nós a compreensão de
Deus, mas alargá-la ao infinito. O combate que O conduz à morte na Cruz é um
maravilhoso combate pela liberdade
humana: “O sábado foi feito para
o homem, não o homem para o sábado” (Mc 2, 27). O sinal de uma igreja
autêntica é o testemunho de que a única maneira de ser cristão, no Espírito de
Jesus, é não ter fronteiras. O encontro com a manifestação de Deus
nas outras religiões é um convite para iluminar a nossa ignorância, corrigir os
nossos defeitos e descobrir as novas riquezas da Epifania de Deus que a
estreiteza das burocracias religiosas não permite vislumbrar. É hora da
acolhida e da expansão e precisamos romper, definitivamente, as certezas
defendidas por cada tradição religiosa de que a sua religião está no centro do mundo e que as outras gravitam em sua periferia. Jesus revela que nos
espíritos medíocres, e por isto mesmo autoritários, a pretensa universalidade só se efetiva com a
exclusão dos diferentes de nós.
O diálogo supõe um mistério de unidade:
uma única família humana, um desígnio divino de salvação e a presença ativa do
Espírito Santo na vida religiosa da humanidade. Jesus, o Cristo, testemunha que o Pai que se revela a nós, no
Espírito, não é e não será jamais alvo de nossa tentativa de posse e, muito
menos, um meio de salvação exclusivo,
pois o seu amor e salvação são destinados a todos. Não podemos
nos tornar os Herodes de nossos irmãos e nos apresentarmos diante de
Deus com as nossas mãos sujas do sangue de inocentes. Neste domingo, conduzidos
pelo Espírito de Jesus, sejamos como os magos que viram a estrela; uma estrela
que brilhou nos seus corações e que os conduziu ao encontro inefável com o
Coração Divino que os esperava. Um coração que sempre nos fará trilhar caminhos
de liberdade e de amor e nos afastará dos caminhos enganosos dos poderosos que
se mantêm pelo medo, pelo terror e pela barbárie: “Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua
terra, seguindo outro caminho”.
CONTEMPLAR
A Noite Estrelada, 1889,
Vincent van Gogh (1853-1890), óleo sobre tela, 73 cm x 92 cm, Museu de Arte
Moderna, Nova York, Estados Unidos.
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