O Caminho da Beleza 05
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
Natal
de Nosso Senhor Jesus Cristo 25.12.2014
Is 52,
7-10 Hb 1, 1-6 Jo 1, 1-18
ESCUTAR
Como são belos, andando sobre os montes, os pés
de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação (Is 9,
7).
Muitas vezes e de muitos modos falou Deus
outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele
nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas
e pelo qual também ele criou o universo (Hb 1, 1-2)
E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo
1, 14).
MEDITAR
O homem
é uma criatura que recebeu a ordem de se tornar Deus (São Basílio).
O
sagrado no Cristo não é qualquer coisa que existe sob os ferrolhos ou que é
colocada atrás das grades ou ainda sob véus impenetráveis. O sagrado em Jesus é
o homem, é o próprio homem. São as nossas mãos, o trabalho de nossas mãos; são
os nossos olhos e a luz que os preenche; são os nossos corações e esta
maravilhosa capacidade de amar. Isto tudo é o que constitui o sagrado que
perpetua a Encarnação e que não cessa de tornar presente o Cristo entre nós
(Maurice Zundel).
ORAR
Natal
significa que “um Menino nos nasceu” e este é o sinal para a Humanidade. Nada
de grandioso ou espetacular, pois Deus para nos encontrar escolhe o caminho da
modéstia e da pequenez. O Natal significa que o sorriso divino pousou sobre as
nossas misérias, devolveu a esperança e nos abriu todas as possibilidades
futuras. Este rosto do Menino não é mais o de um Deus distante, carrasco; nem o
de um Deus desiludido e traído. Este rosto terno e carinhoso revela a única
condição para conquistarmos a vida eterna: deixarmo-nos amar. O natal não é
apenas uma data inventada, mas o início da Boa Nova que nos faz saber que um escapou do censo ordenado por Cesar
Augusto e que, portanto, não foi incluído como um dado estatístico. Não
comemoramos uma data que colocou tudo
em ordem, mas um início de um tempo
em que a justiça de Deus se manifesta em toda a sua plenitude. A solidão acabou
porque os homens e mulheres têm a mão que os guia, que os salva e os consola. O
evangelista revela que o Verbo não somente entra no mundo, mas se torna um
membro da humanidade e declara que a presença de Deus (Shekinah), até então na tenda da Aliança, está agora plenamente
realizada na tenda de carne do Emmanuel. A divindade não se sobressai como um
árbitro destacado e eterno do contexto terrestre, mas está implicada na
complexidade da realidade humana. O evento decisivo da nossa existência e o
artigo de fé fundamental do cristianismo é a encarnação do Verbo. No Natal, é
desvelado que o Cristo é a Palavra que exige escuta; é a Vida que exige adesão
do coração; é a Luz que exige a luta contra a cegueira para que possamos todos
juntos, peregrinos, construir a cada nova geração um mundo de justiça e paz. No
entanto, alguns natais são anunciados
sem nenhum engajamento de fé. Um natal folclórico, mercantilizado, ruidoso e de
um ritualismo consumista; um natal emotivo, marcado pelo infantilismo e que,
apesar dos sentimentos, sabe calcular os impulsos de generosidade; um feriado
natalino para ser aproveitado em viagens esnobes, que nos levem o mais distante
possível de todos. Finalmente, um natal dos que foram um dia batizados e que,
ao menos uma vez por ano, vestem o disfarce de cristãos para poder passar pelo
umbral das igrejas mais próximas que lhes ofereça um horário de celebração mais
cômodo para não atrapalhar a ceia natalina e a troca de presentes. Outros
natais são possíveis de ser acrescentados à lista uma vez que são apenas
pretextos para qualquer coisa. Que neste dia de Natal sejamos capazes de
colocar nas nossas vidas um pouco menos de qualquer
coisa, como os restos de nossas ceias. Que sejamos capazes de conseguir um
pouco menos de alienada religiosidade e um pouco mais de fé comprometida com
Aquele cujo nome é “Conselheiro Admirável, Deus Guerreiro, Pai dos Tempos
Futuros e Príncipe da Paz” (Is 9, 5).
CONTEMPLAR
A Natividade, 1950,
Marc Chagall (1887-1995), guache, aquarela, nanquim e lápis de cera lavável
sobre papel crayon, 38,1 cm x 55,9
cm, Galeria Ferrero, Genebra, Suíça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário