terça-feira, 4 de novembro de 2025

O Caminho da Beleza 51 - Dedicação da Basílica de Latrão

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


Dedicação da Basílica de Latrão    

Ez 47, 1-2.8-9.12              1 Cor 3, 9-11.16-17                       Jo 2, 13-22

 

ESCUTAR

“Suas folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário” (Ez 47, 12).

“Vós sois lavoura de Deus, construção de Deus” (1 Cor 3, 9).

“Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio” (Jo 2, 16).

 

MEDITAR

Por que... nos acostumamos a ver como se destrói o trabalho digno, se despeja a tantas famílias, se expulsa os camponeses, se faz a guerra e se abusa da natureza? Porque neste sistema se retirou o homem, a pessoa humana, do centro, substituindo-o por outra coisa. Porque se rende um culto idolátrico ao dinheiro. Porque se globalizou a indiferença.

(Papa Francisco)

Uma má religião torna-nos insensíveis, incapazes de vida corporal. O culto do verdadeiro Deus faz-nos corporalmente vivos, apalpando, saboreando, cheirando, vendo e ouvindo. A realização plena de nosso ser, dom de Deus, significa aspirar à vitalidade em todos os nossos sentidos.

(Timothy Radcliffe)

 

ORAR

    A Basílica de Latrão, catedral da Igreja de Roma, é considerada a mãe de todas as igrejas. O palácio de Latrão, propriedade da família imperial, tornou-se, no século IV, a habitação particular do Papa. Constantino doou ao papa Melquiades (310-314) o palácio onde se encontrava a “Casa de Fausta”, a residência da mulher do Imperador na qual o Papa celebrou um Concílio. Foi a sede oficial do bispo de Roma do século IV ao XIV e por isso representa o ideal institucional da Igreja Romana que, saída da fase de perseguição e de martírio, fez sua entrada triunfal na sociedade imperial romana. Durante séculos, ela foi o emblema da liturgia pontifical que moldou o estilo de celebração de todas as igrejas do Ocidente. O Evangelho mostra Jesus enxotando os mercadores do Templo porque enganam os mais simples para acumular dinheiro e bens. Uma Igreja oficializada por um imperador, na Casa de Fausta, só poderia ter no seu DNA o germe e a voracidade de tudo o que é fausto e ostensivo. Jesus nos revela que o novo templo é o seu Corpo Ressuscitado, pois, com sua morte e ressurreição, destruiu todo o limite local e geográfico para a sua presença espiritual. Paulo clama em Atenas: “Deus não habita em templos feitos pelas mãos dos homens” (At 17, 24). Devemos estar atentos ao calor que conferimos aos templos, aos ritos e aos objetos sacros. Não podemos idolatrá-los e nem lhes conferir um valor mágico, pois o cristianismo é uma prática que brota do nosso encontro pessoal com Jesus, com a nossa consciência e com o Espírito que nos ilumina e conduz aos outros. Nossos templos não podem se tornar fetiches e nem marcos idolátricos para os cultos burocráticos em que os altos funcionários eclesiásticos oferecem os lugares de honra para os mais ricos e poderosos da sociedade. Nossos pastores parecem desdenhar do veredicto de Jesus: “Eu vos asseguro: um rico dificilmente entrará no reino de Deus. Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus” (Mt 19, 24). É chegado o momento em que a Casa de Fausta deve ser abandonada como o símbolo de uma época histórica em que Igreja e Império celebraram um casamento espúrio e perverso. É chegada a hora em que a Igreja de Jesus deve estar próxima dos mais necessitados, praticando-se como uma Igreja pobre entre os pobres. Tendo, com Ele, o “mesmo sentir e pensar” e oferecendo o testemunho da sua identidade com Cristo Jesus que “despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se igual ao ser humano e aparecendo como qualquer homem, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2, 7-8). É chegado o momento, e já quase passou, de cumprir o que proclamou o Papa João XXIII na abertura do Vaticano II: “Está na hora de abrir as janelas para limpar a poeira de Constantino grudada na cadeira de Pedro”.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Cristo purificando o Templo, c. 1655, Bernardino Mei (1612-1676), óleo sobre tela,  104,1 x 141 cm, Siena, Itália.




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