Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
Páscoa da Ressurreição 04.04.2021
At 10, 34.37-43 Cl 3, 1-4 Jo 20, 1-9
ESCUTAR
Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele (At 10, 38).
Vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus (Cl 3, 3).
Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou (Jo 20, 8).
MEDITAR
Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
(Antoine de Saint-Exupéry, 1900-1944, França)
ORAR
Aquele que João nomeia o discípulo
que Jesus amava pode ter sido invisível para a tradição sinótica uma vez que
ele não tinha um nome conhecido ou um papel importante, ao passo que sua
presença podia ser reconhecida por aqueles cujos critérios eram outros. Para
esses, ele ocupava um papel de primeiríssimo plano porque Jesus o amava. João
20, 2 o denomina de duas maneiras: “o outro discípulo” ou “o discípulo que
Jesus amava”. A primeira pode corresponder ao que pensavam dele os outros
cristãos (que o negligenciavam); a segunda corresponde ao que sabiam dele os
que preservaram sua memória na tradição joanina. João retrata com arte a
relação entre esse discípulo e o famigerado Pedro (com quem já se achou duas
vezes em situações difíceis, 13, 23-24; 18, 15-16, e a quem verá mais duas
vezes, 21, 7.20-22). O fato de que esse discípulo tenha alcançado primeiro o
túmulo, mas não tenha entrado nele, esperando que Pedro o alcançasse e entrasse
nele antes, deu lugar a muitas especulações sobre este cuja dignidade eclesiástica
preponderava. De fato, há no trecho uma disposição mais literária do que
teológica: o ápice do episódio seria então a reação do discípulo que entrou por
último. De toda maneira, nem a chegada nem a entrada no túmulo são os pontos
importantes do contraste que João desenha entre os dois personagens. O que
importa para o evangelista é que eles reagiram diferentemente ao que haviam
visto no sepulcro: as faixas e o pano branco que tinha coberto a cabeça, mas
não o corpo. O discípulo que chegou primeiro acreditou, mas nada é dito que nos
permita pensar que Pedro acreditou. Na lista que Paulo faz daqueles a quem
Jesus ressuscitado apareceu, o nome de Cefas (Pedro) vem antes de todos os
outros (1 Cor 15, 5). Mas João conheceu alguém que teve fé no Senhor ressuscitado
sem ter necessidade de uma aparição, com a perspicácia que só o amor dá. João
enfatiza a extraordinária sensibilidade desse outro discípulo, que o amor de
Jesus lhe dá e que o torna capaz de acreditar.
(Raymond E. Brown, 1928-1988, Estados Unidos)
CONTEMPLAR
S. Título, 2020, Jessica Roybal, amostra de fotografia “Social Distance”, Albuquerque, Novo México, Estados Unidos.
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