terça-feira, 6 de abril de 2021

O Caminho da Beleza 21 - II Domingo da Páscoa

Os transbordamentos de amor acontecem sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa Francisco).

II Domingo da Páscoa              11.04.2021

At 4, 32-35              1 Jo 5, 1-6                Jo 20, 19-31

 

ESCUTAR

Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum (At 4, 32).

O Espírito é que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade (1 Jo 5, 6).

Soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22).

 

MEDITAR

A concepção absurda da Providência como intervenção pessoal e particular de Deus para fins particulares é incompatível com a verdadeira fé. Os mistérios autênticos da fé são também absurdos, mas de um absurdo que ilumina o pensamento e o faz produzir em abundância verdades evidentes à inteligência.

(Simone Weil, 1909-1943, França)

 

ORAR

       Vejamos Tomé. Tomé que não estava lá com o grupo dos discípulos. Este grupo nos indica onde está a fé da Igreja: medo, temor, trancamento. Podemos também nos trancar em nosso saber: possuir a verdade. Quando se trata de se deixar guiar para a verdade absoluta: uma beatitude genuína, uma aventura. Crer hoje é ir de descoberta em descoberta.  A Igreja é, portanto, esse lugar onde Jesus vem abrir o caminho da fé. Crer é escutar o que diz o Espírito: é Ele que se faz compreender, que atualiza o que Jesus disse, fez. É o Espírito que faz compreender melhor o Evangelho. Jesus vem em socorro da Igreja para libertar sua fé. Após o Pai Nosso, antes do beijo da paz, é a ele que nos dirigimos: “Senhor Jesus, não olheis os nossos pecados, mas a fé de tua Igreja”. A fé da Igreja é Jesus Ressuscitado, que a cria entregando o Espírito, o Sopro que nos dá acesso à vida: a vida em seu nome é uma vida que não se deixa aprisionar. Jesus jamais se fechou sobre si, nem mesmo quando do abandono, quando todos o deixaram: não, eu não estou só, o Pai está comigo (Jo 16, 32). Jesus jamais se deixou aprisionar por um título, por um papel, por uma ideologia religiosa ou política, por um partido. Eu sou o caminho (Jo 14, 6). Jesus jamais se trancou em uma casa. Ele permanecia ali pela amizade, para comer e beber, para conversar. E Maria Madalena podia entrar. Depois ele parte. Eu sou o pastor (Jo 10, 11). Eu sou a porta (Jo 10, 9). Jesus pregado na cruz não foi fixado, imobilizado: ele se ergueu dentre os mortos. Eu sou a Ressurreição e a Vida. Crês nisto? (Jo 11, 25-26): Jesus ressuscitado, Jesus livre. Jesus aberto, soprando sobre nosso mundo aprisionado, sobre nossos infernos: sua liberdade de Filho... Jesus Ressuscitado indica o fim e o lugar da fé: o fim é o Amor. Esse amor louco. Esse amor crucificado. Esse amor vencedor. O lugar da fé é o próprio Jesus conduzido à consumação por seus sofrimentos. É a sua obediência em nós continuada até o extremo. Crer é o impossível. Jesus sopra sobre nós, Ele faz todo homem participar de sua fé. São numerosos os que sem vê-lo, sem mesmo conhecer o seu Nome, avançam com ele, engajando-se em sua aventura, em sua loucura: os que lavam sua roupa em seu sangue, amando como Ele. Irmãos e irmãs, não tenhais medo, avancemos, pois, com plena segurança no Mistério da Fé. Jesus nos precede. Jesus nos atrai. Jesus tem sede de nossa fé, sede de a oferecer como presente de amor a seu Pai, a nosso Pai.

(Christophe Lebreton, 1950-1996, França)

 

CONTEMPLAR

Padre Júlio Lancelotti, 2021, Henrique de Campos, Foto: Reprodução/Twitter.




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