Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
II Domingo da Páscoa 11.04.2021
At 4, 32-35 1 Jo 5, 1-6 Jo 20, 19-31
ESCUTAR
Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum (At 4, 32).
O Espírito é que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade (1 Jo 5, 6).
Soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22).
MEDITAR
A concepção absurda da Providência como intervenção pessoal e particular de Deus para fins particulares é incompatível com a verdadeira fé. Os mistérios autênticos da fé são também absurdos, mas de um absurdo que ilumina o pensamento e o faz produzir em abundância verdades evidentes à inteligência.
(Simone Weil, 1909-1943, França)
ORAR
Vejamos Tomé. Tomé que não estava lá
com o grupo dos discípulos. Este grupo nos indica onde está a fé da Igreja:
medo, temor, trancamento. Podemos também nos trancar em nosso saber: possuir a
verdade. Quando se trata de se deixar guiar para a verdade absoluta: uma beatitude
genuína, uma aventura. Crer hoje é ir de descoberta em descoberta. A Igreja é, portanto, esse lugar onde Jesus
vem abrir o caminho da fé. Crer é escutar o que diz o Espírito: é Ele que se
faz compreender, que atualiza o que Jesus disse, fez. É o Espírito que faz
compreender melhor o Evangelho. Jesus vem em socorro da Igreja para libertar
sua fé. Após o Pai Nosso, antes do beijo da paz, é a ele que nos dirigimos:
“Senhor Jesus, não olheis os nossos pecados, mas a fé de tua Igreja”. A fé da
Igreja é Jesus Ressuscitado, que a cria entregando o Espírito, o Sopro que nos
dá acesso à vida: a vida em seu nome é uma vida que não se deixa aprisionar.
Jesus jamais se fechou sobre si, nem mesmo quando do abandono, quando todos o
deixaram: não, eu não estou só, o Pai está comigo (Jo 16, 32). Jesus
jamais se deixou aprisionar por um título, por um papel, por uma ideologia
religiosa ou política, por um partido. Eu sou o caminho (Jo 14, 6).
Jesus jamais se trancou em uma casa. Ele permanecia ali pela amizade, para
comer e beber, para conversar. E Maria Madalena podia entrar. Depois ele parte.
Eu sou o pastor (Jo 10, 11). Eu sou a porta (Jo 10, 9). Jesus
pregado na cruz não foi fixado, imobilizado: ele se ergueu dentre os mortos. Eu
sou a Ressurreição e a Vida. Crês nisto? (Jo 11, 25-26): Jesus
ressuscitado, Jesus livre. Jesus aberto, soprando sobre nosso mundo
aprisionado, sobre nossos infernos: sua liberdade de Filho... Jesus
Ressuscitado indica o fim e o lugar da fé: o fim é o Amor. Esse amor louco.
Esse amor crucificado. Esse amor vencedor. O lugar da fé é o próprio Jesus
conduzido à consumação por seus sofrimentos. É a sua obediência em nós
continuada até o extremo. Crer é o impossível. Jesus sopra sobre nós, Ele faz
todo homem participar de sua fé. São numerosos os que sem vê-lo, sem mesmo
conhecer o seu Nome, avançam com ele, engajando-se em sua aventura, em sua
loucura: os que lavam sua roupa em seu sangue, amando como Ele. Irmãos e irmãs,
não tenhais medo, avancemos, pois, com plena segurança no Mistério da Fé. Jesus
nos precede. Jesus nos atrai. Jesus tem sede de nossa fé, sede de a oferecer como
presente de amor a seu Pai, a nosso Pai.
(Christophe Lebreton, 1950-1996, França)
CONTEMPLAR
Padre Júlio Lancelotti, 2021, Henrique de Campos, Foto: Reprodução/Twitter.
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