Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
IV Domingo da Quaresma 14.03.2021
2 Cr 36,
14-16.19-23 Ef 2, 4-10 Jo 3, 14-21
ESCUTAR
Eles zombavam dos enviados de Deus, desprezavam as suas palavras, até que o furor do Senhor se levantou contra o seu povo e não houve mais remédio (2 Cr 36, 16).
Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. (Ef 2, 4-5).
“Quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3, 21).
MEDITAR
No entanto, todo homem mata aquilo que adora,
Que
cada um deles seja ouvido.
Alguns
procedem com dureza no olhar,
Outros
com uma palavra lisonjeira.
O
covarde fá-lo com um beijo,
Enquanto
o bravo o faz com a espada!
Uns
matam o próprio amor quando ainda jovens,
Outros
o fazem na velhice;
Uns
estrangulam com as mãos da luxúria,
Outros
com a mão de Ouro,
O
que é bondoso faz uso do punhal,
Porque
a morte assim vem mais depressa.
Uns
amam pouco tempo, outros demais,
Uns
vendem, outros compram;
Alguns
praticam a ação com muitas lágrimas
E
outros sem um suspiro, sequer:
Pois
todo o homem mata o objeto do seu amor
E,
no entanto, nem todo homem é condenado à morte.
(Oscar Wilde, 1854-1900, Irlanda)
ORAR
A Nicodemos, que, como fariseu,
identificava o reino de Deus com o reino de Israel, Jesus propõe novos
horizontes: o Espírito, como o vento, não conhece fronteiras, não está ligado a
um povo, a uma religião; não pode ser aprisionado, contido numa doutrina, mas é
plenamente livre. Aqueles que nascem do Espírito não se sentem fechados dentro
dos limites de um povo ou de uma tradição, não são condicionados pelo passado,
mas estão abertos ao presente e voltados para o futuro... E Jesus relembra o
catecismo a Nicodemos, recordando-lhe um conhecido episódio da vida de Moisés,
quando ele “levantou a serpente no deserto” (Jo 3, 14) ... Como a serpente de
Moisés era um sinal de vida que livrava da morte, assim declara Jesus: “será
elevado o Filho do homem, para que todo aquele que crê nele tenha a vida
eterna” (Jo 3, 14-15) ... A elevação do Filho do homem será um sinal de vida
que libertará da morte definitiva. Aquilo que salva os homens da morte é fixar
o olhar no Cristo, modelo da nova humanidade, aspirar à plenitude humana que
resplende nessa figura. Do alto do patíbulo, Cristo será o polo de atração para
todos. Todo aquele que der sua adesão ao Filho do homem possuirá uma vida
eterna, isto é, de qualidade indestrutível. A função que os fariseus atribuíam
à Lei, a função de ser fonte de vida, é substituída pela pessoa de Jesus. Não é
mais a observância de um código externo ao homem que lhe dá vida, mas a adesão
ao Filho do homem, expressão máxima do amor do Pai, pois Jesus é aquele que
possui a plenitude da vida e pode comunicá-la. A obediência da Lei faz com que
a vida do homem seja segundo Deus. A acolhida do Espírito faz com que o homem
tenha em si a própria vida de Deus. Aqui se encontra toda a diferença entre a
antiga e a nova aliança, entre Moisés e Jesus (Jo 1, 17). Mas a Lei, tida como
palavra definitiva de Deus, se torna obstáculo à acolhida da Palavra de Deus
que é Jesus. Por ora, Nicodemos continua na noite, as trevas da Lei lhe impedem
acolher a luz da vida. Incapaz de seguir Jesus enquanto vivo, irá mais tarde
prestar-lhe homenagem enquanto morto (“Foi também Nicodemos, aquele que
anteriormente tinha ido a ele de noite, e trouxe uma mistura de mirra e aloés
de aproximadamente cem libras”, Jo 19, 39). Mas a cena de morte se transforma
em evento de vida. O fariseu Nicodemos, o religioso cuja existência é regulada
pelas severas normas referentes à pureza, pela primeira vez em sua vida
transgride a Lei e toca um cadáver (“tomou então o corpo de Jesus”, Jo 19, 40)
... Para a Lei, Nicodemos agora está impuro, mas finalmente é livre, nasceu de
novo, nasceu do Espírito.
(Alberto Maggi, 1945-, Itália)
CONTEMPLAR
Luz de Esperança, s.d., Black Now, David Carillo, Estados Unidos, viewbug.com
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