Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
III Domingo da
Quaresma 07.03.2021
Ex 20, 1-17 1 Cor 1, 22-25 Jo 2, 13-25
ESCUTAR
“Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (Ex 20, 7).
O que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens (1 Cor 1, 25).
“Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2, 16).
Imagine
que não há paraíso
é fácil se você tentar,
sem inferno abaixo de nós
e acima só o céu
Imagine todas as pessoas
vivendo para o hoje
Imagine que não há países
não é difícil fazê-lo
nada pelo que matar ou morrer
e nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
vivendo a vida em paz
Você
pode dizer que sou um sonhador
mas eu não sou o único
Espero que um dia você se una a nós
e o mundo vai ser um só
Imagine nenhuma posse
eu me indago se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma Irmandade humana
Imagine todas as pessoas
partilhando o mundo todo
(John
Lennon, 1949-1980, Reino Unido)
ORAR
A intervenção fogosa do Messias
revela a profanação do santuário que constitui esta impossível tentativa humana
de servir a dois senhores ao mesmo tempo. Os profetas podiam apenas lamentar e
advertir, mas Jesus intervém diretamente, agindo como Senhor da casa, pois ele
é o Filho todo-poderoso daquele a quem a casa pertence. Ele não contesta a
utilidade e a possibilidade dos organismos colocados a serviço da oração e do
sacrifício. Mas ele desvela a mentira que se infiltrou. O coração humano
hipócrita suprime o limite intransponível entre o culto e o interesse próprio.
Assim correm juntos, como num rio contínuo, o serviço de Deus pelo homem e o
serviço do homem para ele mesmo. Se os olhos não são mais dirigidos com uma
intenção pura em direção a Deus, a casa na qual o homem em oração se declara
servidor de Deus torna-se um “covil de ladrões”, que se ajuntam para seu
interesse. Sob o pretexto de servir ao próximo em seu culto, olham com inveja
seu dinheiro a fim de açambarcá-lo. Qualquer que seja o rigor das tradições
comerciais, a mentira de um culto, transformada em pretexto para serviço de
Mamon, torna impossível todo o louvor a Deus. Jesus não quis, como às vezes se
sugere comentando-se essa passagem, se opor ao Templo e à Lei que o santifica.
Realizando seu gesto, ele não transgrediu os mandamentos, antes cumpriu a Lei,
conferindo ao Templo sua santidade e sua verdadeira destinação. Quando a Igreja
e sua pregação são colocadas a serviço de interesses humanos, quando esquecendo
sua missão exclusiva de servidora, a Igreja se coloca à disposição dos desejos
do homem, Jesus a nomeia “covil de ladrões”. Acontece o mesmo por todo lugar
onde, sob o pretexto de facilitar a celebração do culto, este se torna um meio
de ação política ou econômica. A encarnação do Cristo assegura a verdadeira
presença e a verdadeira aproximação de Deus. O Templo do Antigo Testamento não
era senão uma imagem. Assim se ajunta ao antigo Templo o novo. A purificação do
Templo mostra que não é preciso, de modo algum, sonhar com a eliminação de um
pelo outro; fazendo isso, Jesus purifica o que propriamente lhe pertence e que
é o objeto de sua própria promessa.
(Helmut Gollwitzer, 1908-1993, Alemanha)
CONTEMPLAR
Você não pode servir a Deus e a Mamon, 2020, Mike Schaffner, Estados Unidos.
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