A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
XXXII Domingo do Tempo Comum 08.11.2020
Sb 6, 12-16 1
Ts 4, 13-18 Mt 25,
1-13
ESCUTAR
MEDITAR
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que sinto sendo.
ORAR
Falando
da proximidade do Reino de Deus que nossa parábola explicita de maneira
especial (o presente é definido como “estar prestes a”), nós já notamos que
esta “imediaticidade” se resolvia com a recusa absoluta de toda hesitação.
Aquele que entra na órbita do Reino não pode retardar a sua opção radical.
Aceitar o presente de Deus na vida do homem implica que se participe ativamente
da exigência proposta por Jesus. Esta opção é total porque ela compromete todos
os ouvintes e cada um dentre eles no conjunto de sua existência. Ela é pessoal
porque cada um deve responder por si mesmo, deve se apropriar da experiência de
Jesus e atualizá-la concretamente. Em consequência, a opção pelo Reino, não
importa qual, só pode ser compreendida por uma radicalidade, porque a práxis do
ouvinte da parábola é colocada em questão em todas as suas dimensões. Diante da
proximidade do Reino, o homem não pode continuar a viver num paradigma de
contradição: é preciso dar o passo em direção à não-contradição. Se o momento
escatológico presente é urgente e total, a exigência de Jesus é radical e
radical deve ser a resposta dos ouvintes: a passagem da contradição à
não-contradição torna-se uma passagem radical porque o homem é chamado a
participar da radicalidade do Reino de Deus. O homem é então impelido
totalmente a colocar em questão seu paradigma de existência e a fazer uma opção
que o leve a assumir um paradigma novo e diferente. Esta radicalidade exigida
com urgência tem aspectos ameaçadores? A interpretação final eventual equivale
à uma ameaça formal de exclusão dirigida a todos os ouvintes? De imediato, é
preciso dizer que a exclusão não é central. Certamente, poder-se-ia replicar
que a interpelação final quis colocar o dedo sobre a ferida lembrando que
algumas jovens permaneceram diante da porta. Isso é certo. Mas o contador da
parábola, mencionando a exclusão, quis sublinhar as últimas consequências
de uma atitude de contradição, a negação trágica a que se pode conduzir a
manutenção de um paradigma que não é sensível às exigências radicais do Reino.
Jesus quis desqualificar completamente (com todas as consequências) um
paradigma de existência que não responde ao que a proximidade do Reino
requer. Digamos, de outra maneira, que Jesus quis colocar em evidência uma
atitude e provocar uma reposta, porque a parábola é salvação, salvação oferecida
àquele que a escuta. A explicação de uma atitude equivocada não pretende
condenar, mas salvar aquele que aceita a mensagem e a realiza radicalmente. A
parábola quis, portanto, estremecer o homem que a escuta, fazê-lo passar de uma
situação ambígua, de uma situação em que dominam os componentes do não-ser (em
chave narrativa, a falta, o não compromisso com a criação, o fracasso da
prática) para uma situação em que a participação no Reino é nutrida de
transparência.
CONTEMPLAR
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