segunda-feira, 2 de novembro de 2020

O Caminho da Beleza 51 - XXXII Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


XXXII Domingo do Tempo Comum                       08.11.2020

Sb 6, 12-16              1 Ts 4, 13-18                       Mt 25, 1-13

 

ESCUTAR

 A sabedoria é resplandecente e sempre viçosa. Ela é facilmente contemplada por aqueles que a amam, e é encontrada por aqueles que a procuram (Sb 6, 12).

 Se Jesus morreu e ressuscitou – e esta é a nossa fé –, de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte (1 Ts 4, 14).

 “Ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia nem a hora” (Mt 25, 13).

 

MEDITAR

 Tão abstrata é a ideia do teu ser

Que me vem de te olhar, que, ao entreter

Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,

E nada fica em meu olhar, e dista

Teu corpo do meu ver tão longemente,

E a ideia do teu ser fica tão rente

Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me

Sabendo que tu és, que, só por ter-me

Consciente de ti, nem a mim sinto.

E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto

A ilusão da sensação, e sonho,

Não te vendo, nem vendo, nem sabendo

Que te vejo, ou sequer que sou, risonho

Do interior crepúsculo tristonho

Em que sinto que sonho o que sinto sendo.

 (Fernando Pessoa, 1888-1935, Portugal)

 

ORAR

 

     Falando da proximidade do Reino de Deus que nossa parábola explicita de maneira especial (o presente é definido como “estar prestes a”), nós já notamos que esta “imediaticidade” se resolvia com a recusa absoluta de toda hesitação. Aquele que entra na órbita do Reino não pode retardar a sua opção radical. Aceitar o presente de Deus na vida do homem implica que se participe ativamente da exigência proposta por Jesus. Esta opção é total porque ela compromete todos os ouvintes e cada um dentre eles no conjunto de sua existência. Ela é pessoal porque cada um deve responder por si mesmo, deve se apropriar da experiência de Jesus e atualizá-la concretamente. Em consequência, a opção pelo Reino, não importa qual, só pode ser compreendida por uma radicalidade, porque a práxis do ouvinte da parábola é colocada em questão em todas as suas dimensões. Diante da proximidade do Reino, o homem não pode continuar a viver num paradigma de contradição: é preciso dar o passo em direção à não-contradição. Se o momento escatológico presente é urgente e total, a exigência de Jesus é radical e radical deve ser a resposta dos ouvintes: a passagem da contradição à não-contradição torna-se uma passagem radical porque o homem é chamado a participar da radicalidade do Reino de Deus. O homem é então impelido totalmente a colocar em questão seu paradigma de existência e a fazer uma opção que o leve a assumir um paradigma novo e diferente. Esta radicalidade exigida com urgência tem aspectos ameaçadores? A interpretação final eventual equivale à uma ameaça formal de exclusão dirigida a todos os ouvintes? De imediato, é preciso dizer que a exclusão não é central. Certamente, poder-se-ia replicar que a interpelação final quis colocar o dedo sobre a ferida lembrando que algumas jovens permaneceram diante da porta. Isso é certo. Mas o contador da parábola, mencionando a exclusão, quis sublinhar as últimas consequências de uma atitude de contradição, a negação trágica a que se pode conduzir a manutenção de um paradigma que não é sensível às exigências radicais do Reino. Jesus quis desqualificar completamente (com todas as consequências) um paradigma de existência que não responde ao que a proximidade do Reino requer. Digamos, de outra maneira, que Jesus quis colocar em evidência uma atitude e provocar uma reposta, porque a parábola é salvação, salvação oferecida àquele que a escuta. A explicação de uma atitude equivocada não pretende condenar, mas salvar aquele que aceita a mensagem e a realiza radicalmente. A parábola quis, portanto, estremecer o homem que a escuta, fazê-lo passar de uma situação ambígua, de uma situação em que dominam os componentes do não-ser (em chave narrativa, a falta, o não compromisso com a criação, o fracasso da prática) para uma situação em que a participação no Reino é nutrida de transparência.

 (Armand Puig i Tàrrech, 1953-, Catalunha/Espanha)

 

CONTEMPLAR

 Rebanho de Ovelhas, 2020, a árdua e empoeirada viagem das ovelhas em Bitlis, Turquia, F. Dilek Uyar, Sony World Photography Awards, Ancara, Turquia.








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