terça-feira, 10 de novembro de 2020

O Caminho da Beleza 52 - XXXIII Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


XXXIII Domingo do Tempo Comum         15.11.2020

Pr 31, 10-13.19-20.30-31                      1 Ts 5, 1-6                Mt 25, 14-30

 

ESCUTAR

 O encanto é enganador e a beleza é passageira (Pr 31, 30).

 Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas (1 Ts 6, 5).

 “Fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence” (Mt 25, 25).

 

MEDITAR

 Faze que sejam claros meus olhos, Senhor,

E que meu olhar, bem reto, desperte uma fome de pureza.

Faze que não seja nunca um olhar desiludido, desabusado, desesperado.

Mas saiba admirar,

Extasiar-se, contemplar.

Dá-me aos olhos a graça de saberem fechar-se para melhor te encontrar,

Mas que nunca se afastem do Mundo por medo.

Dá-me olhar a graça de ser bastante profundo para reconhecer tua presença no Mundo.

E faze que jamais meus olhos se fechem à miséria dos homens.

Que meu olhar, Senhor, seja limpo e firme,

Mas saiba enternecer-se,

E que meus olhos sejam capazes de chorar.

Faze que meu olhar não suje o que tocar,

Não perturbe, mas serene,

Não entristeça, mas semeie a Alegria,

Não seduza para guardar cativo,

Mas convide e arraste à superação de si mesmo.

Faze que meu olhar transtorne, por ser um encontro, o encontro de Deus.

Que seja o apelo, o toque de clarim que mobilize toda a gente cada qual à soleira da porta,

Não por causa de mim, Senhor,

Mas porque vais passar.

Para que meu olhar seja tudo isso, Senhor,

Uma vez mais, esta noite,

Eu te dou a minha alma,

Eu te dou o meu corpo,

Eu te dou os meus olhos,

Para que ao olhar os homens, meus irmãos,

Sejas tu quem os olhe

E de dentro de mim lhes acene.

 (Michel Quoist, 1921-1997, França)

 

ORAR

       Hoje, em nossa sociedade ocidental ultra-desenvolvida, é surpreendente constatar a que ponto alguns se satisfazem em não assumir nenhum risco e que nada se altera em suas vidas. Eles são absolutamente “imóveis”. O homem vive, todavia, numa sociedade que, globalmente, mesmo se pensando nos atuais atos terroristas, é menos perigosa que a da Idade Média e, menos ainda, que a de Jesus. Isso nos faz crer que quanto mais o homem se habitua à segurança e ao seu bem-estar mais ele recusa o risco. Alguns preferem mesmo morrer do que viver! Viver é assumir o risco de se ferir, de ficar frustrado, de sofrer pelo outro. Morrer é evitar de ter que se confrontar com a realidade do outro e de destruir uma imagem ideal de si mesmo por meio da qual nos amamos e nos identificamos. Um ser pode se deixar prender, sem o saber, nas malhas da rede invisível de tudo possuir e se interditar de assumir o risco de viver a aventura do outro, com o risco de morrer por isso! Resta que entre os que têm a paixão de viver o risco da aventura e os que preferem morrer antes de viver, há todos esses “fantasmas” da vida, que se encontram em nosso caminho, que decidiram não se colocar questões, aproveitar-se do tempo que passa (e dos outros), salvar-se de “todo risco” esperando morrer um dia, o mais tarde possível, que recusam o inesperado que poderia colocar em questão todas as proteções que reúnem tão arduamente ao redor de si. Foi assim que um paciente me disse um dia: “Eu só procuro durar”. A sociedade não fabrica cada vez mais “assistidos” que só pensam em proteger o que adquiriram em nome da solidariedade, mas que em nenhum caso seriam capazes de partilhar com aqueles que se achassem em necessidade? Em que medida conseguiríamos escapar desta força social centrífuga que se nutre de nossa vontade de não perder e que nos conduz sem cessar a esse famigerado “reflexo de segurança”? Ao inverso, existem pessoas que empreendem, que inventam, que inovam no cenário da sociedade. São essas que assumem o risco da aventura interior, que aceitam acolher o estrangeiro que há nelas, que fazem aliança com ele e que tiram finalmente sua energia deste encontro com o outro para partir para a descoberta do homem e do mundo. Visivelmente, Jesus foi um homem desta têmpera. Alguns santos também. Seria desejável retirar o véu em que foram colocadas suas biografias durante muitos séculos para reencontrar o vigor desses homens e mulheres de ação e redescobrir a propósito deles o sentido da palavra “notável”. Na parábola dos talentos, Mateus nos ecoa um Jesus que desenvolve uma verdadeira filosofia da ação da qual se destaca uma espiritualidade: uma maneira de ser para o outro e, por meio dela, para o mundo e para Deus. Jacques Maritain sublinhava: “A ação é uma epifania do ser”.

 (Daniel Duigou, 1948- , França)

 

CONTEMPLAR

 Lech Walesa, líder do Solidariedade, fala aos trabalhadores no porto de Gdansk, Polônia, durante uma greve em agosto de 1980, Erazm Ciolek (1937-2012)/Forum, Reuters, Polônia.




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