A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
V Domingo da Páscoa 10.05.2020
At 6, 1-7 1
Pd 2, 4-9 Jo 14, 1-12
ESCUTAR
O número
dos discípulos tinha aumentado, e os fiéis de origem grega começaram a
queixar-se dos fiéis de origem hebraica (At 6, 1).
Aproximai-vos
do Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos
olhos de Deus (1 Pd 2, 4-9).
“Quem me
viu, viu o Pai” (Jo 14, 9).
MEDITAR
Dentro de
nós está o Amor atraindo-nos até Ele, ao centro de nós mesmos, que é Ele.
Porque o amor busca sempre a união, a identificação do amado com a amada.
Existe alguém dentro de mim que não sou eu mesmo. Estamos construídos de tal
maneira que o centro de nosso ser é Deus. De tal modo que concentrar-nos em nós
mesmos é aproximar-nos de Deus. Ainda que não possamos chegar até Ele, porque
também a distância que há entre Ele e nós é infinita: porque está infinitamente
perto de nós (infinitamente dentro).
(Ernesto
Cardenal, 1925-2020, Nicarágua)
ORAR
Desde que Deus deixou o
mundo estremecido pelo medo, ele empregou seu amor para fazê-lo voltar a ele,
sua graça para convidá-lo, sua afeição para abraçá-lo. Quando do dilúvio, sua
vingança purifica a terra de um mal inveterado; ele chama Noé a construir um
mundo novo, encoraja-o com doces palavras, dá-lhe sua confiança familiar, o
instrui com bondade sobre o presente e o consola por sua graça a respeito do
futuro. Em seguida, Deus chama Abraão do meio das nações, magnifica seu nome e
o faz pai dos crentes. Ele o acompanha no caminho, protege-o do estrangeiro,
cumula-o de riquezas, honra-o com vitórias, assegura-o de suas promessas,
arranca-o das injustiças, consola-o com sua hospitalidade, e o encanta por um
nascimento inesperado a fim de que, cumulado de todos os bens, atraído pela
grande doçura do amor divino, ele aprende a amar Deus e a não mais temê-lo, a
adorá-lo amando-o e não mais temendo-o. Mais tarde, Deus consola Jacó na fuga
por meio de sonhos. Ao seu retorno, ele o provoca ao combate e, durante a luta,
ele o aperta em seus braços a fim de que ele ame o pai dos combates e não o tema
mais. Depois ele chama Moisés e lhe fala com um amor de pai para convidá-lo a
libertar seu povo. Em todos esses acontecimentos, a chama da caridade divina
abraçou o coração humano, a embriaguez do amor de Deus se derramou sobre a sensibilidade
dos homens; e estes, com a alma rendida, começaram a desejar ver Deus com seus
olhos de carne. Deus, que o mundo não pode abarcar, como o olhar limitado de um
homem o abarcaria? Mas o que deve ser e o que é possível não é a regra do amor.
O amor ignora esta justiça. Ele não tem regra e não conhece medida. O amor não
admite o pretexto da impossibilidade, não aceita tampouco o da dificuldade. O
amor, se ele não realiza os seus desejos, ele mata aquele que ama. Ele vai onde
ele se sente atraído e não onde há a força. O amor engendra o desejo, ele se
desenvolve com ardor e almeja o impossível. E o que mais? O amor não admite não
ver aquele que ele ama. Os santos não consideravam como pouca coisa tudo o que obtinham
para ver a Deus? É assim que Moisés ousa dizer: “Se eu encontrar graça diante
de ti, mostra-me tua face” (Ex 33, 13). E o salmista: “Mostra-nos tua face” (Sl
80, 4). Não é por isso que os pagãos se cercam de ídolos? Mesmo no meio do
erro, eles viam com seus olhos o que adoravam. Deus conhecia, portanto, os
mortais atormentados pelo desejo de o ver. O que ele escolheu para se mostrar
era grande sobre a terra e não menos no céu. Porque o que, sobre a terra, Deus
fez semelhante a ele não podia ficar sem honra no céu: “Façamos, disse ele, o
homem à nossa imagem e à nossa semelhança (Gn 1, 26). Que ninguém, portanto,
pense que Deus não tivesse razão de vir aos homens por um homem. Ele se fez
carne entre nós para ser visto por nós.
(Pedro
Crisólogo, 380-450, Itália)
CONTEMPLAR
S. Título, 2015, Nedim
Chaabene (1968-), Flickr/CC BY, Tunísia/França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário