A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
IV Domingo da Páscoa 03.05.2020
At 2, 14.36-41 1
Pd 2, 20-25 Jo 10,
1-10
ESCUTAR
Pedro
lhes dava testemunho e os exortava, dizendo: “Salvai-vos dessa gente
corrompida!” (At 2, 40).
Se
suportais com paciência aquilo que sofreis por ter feito o bem, isso vos torna
agradáveis diante de Deus (1 Pd 2, 20).
“Eu sou a
porta. Quem entrar por mim será salvo... Eu vim para que tenham vida e a tenham
em abundância” (Jo 10, 9.10).
MEDITAR
A NOITE DISSOLVE
OS HOMENS
A Portinari
A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tampouco os rumores
que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas,
nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos,
a noite espalhou o medo
e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda,
Sem esperança... Os suspiros
acusam a presença negra
que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens,
diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo...
O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a
treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de
teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e
peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.
(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987, Brasil)
ORAR
Jesus quis que encontrássemos acesso
à nossa vida nos colocando entre as mãos de Deus, sob o olhar de Deus. Quando
ele fala de um porteiro, não se trata de modo algum em seu espírito de uma
fronteira exterior a atravessar sob o olhar inquisidor de uma sentinela
qualquer. Ele quer dizer que nossa alma deve se tornar tão sensível, cultivar
uma tal escuta, que ela saiba discernir quando se pode abrir inteiramente a
porta do coração e quando ela não pode, e que esse seria assim o verdadeiro
critério das relações humanas, e a fortiori da nossa relação com Deus.
Quando a porta do coração se abre sem constrangimento, naturalmente, por ela
mesma, como as pétalas de uma flor à luz da aurora, podemos então estar certos
de que Deus está ali a abri-la. Quando se tem necessidade de mil desvios, de
toda sorte de fugas ilusórias, quando é preciso se reprimir duramente, então
podemos estar certos de que nada, absolutamente nada vem de Deus. É uma questão
aqui de saber o que queremos no fim das contas. Os déspotas aspiravam reunir,
governar e dirigir grandes massas humanas. Eles têm sempre a responsabilidade
por tudo. Eles querem continuamente fazer tudo. É exatamente o contrário
do que se iniciou com a fé de Israel no Eterno e que se prolonga com a pessoa
de Jesus: a responsabilidade repousa sobre cada indivíduo, ele a carrega em seu
próprio nome porque este não existe
senão uma vez, uma só e única vez sobre esta terra e Deus deseja que esse nome
se exprima através dele. É apenas no sentido deste acompanhamento de cada homem
até o lugar onde se sente em sua própria casa que Jesus entende sua vocação de
pastor. Trata-se de alcançar e nutrir uma confiança recíproca. Não se pode
pretender guiar os homens tomando-os simplesmente pelas mãos, como se tratasse
de empurrá-los, seduzi-los, corrigi-los, adestrá-los, endireitá-los. Guiar-se-ão
os homens apenas chamando-os à sua voz mais interior, ajudando-os a exprimir um
conhecimento há muito tempo experimentado, mesmo que profundamente oculto, a
fim de que eles se reconheçam ali. Um tal pastor não vem nunca de longe, ele
não é nunca estranho ao ser, mas fala ao que está no mais profundo dele. É por
isso que Jesus afirma aqui: “Eu sou a porta”.
Não se conseguirá jamais abordar os homens, senão à maneira de Jesus.
Poder-se-á pela força engrossar as multidões, reunir as tropas, recolher
impostos e reforçar um aparato administrativo; mas não se poderá realmente, à
maneira de Jesus, encontrar os homens a não ser chamando o outro por seu nome,
reconhecendo e enunciando por isso que ele é o que vive nele e, ainda demasiado
melhor, o que nele aspira a viver.
(Eugen
Drewermann, 1940-, Alemanha)
CONTEMPLAR
Daniela Trezzi, 2020, Newflash/Daniela Trezzi (1986-2020), enfermeira
de 34 anos, que tirou a própria vida ao saber que contraíra o coronavírus e que
infectara outras pessoas. Ela trabalhava na linha de frente do Hospital San
Gerardo de Monza, na região da Lombardia, Itália.
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