A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
Ascensão do Senhor 24.05.2020
At 1, 1-11 Ef
1, 17-23 Mt 28, 16-20
ESCUTAR
“Homens
da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu?” (At 1, 11).
O Deus de
nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito
de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer (Ef 1, 17).
Quando
viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram (Mt 28,
17).
MEDITAR
Quando
Jesus enviou os discípulos para ir e pregar até os confins do mundo, no final
do evangelho de Mateus foi dito que “alguns duvidaram”. Eu amo isso. Lá estão
eles sobre a montanha, frente ao Senhor Ressuscitado, e alguns ainda não tinham
certeza. Mas Jesus os enviou de qualquer maneira. Logo, quando formos falar de
nossa fé, alguns de nós podem ter incertezas, indagações e questões não
resolvidas. E isso é bom! Porque então as pessoas verão que ser um Católico não
significa que nós temos todas as respostas. O Cardeal Kasper do Vaticano disse
que a Igreja teria mais autoridade se às vezes dissesse com mais frequência:
“Eu não sei”.
(Timothy
Radcliffe, 1945-, Reino Unido)
ORAR
Na verdade, a ascensão de Jesus ao
céu, esse acontecimento inenarrável com nossas palavras capazes somente de
contar fatos humanos, não foi uma supressão nem a conclusão de uma aventura: a
da vida de Jesus. Com efeito, quando se lê com inteligência os relatos da
Ascensão, não se encontra ali o relato de um “adeus”, mas antes um envio dos
discípulos, uma missão desde Jerusalém até as extremidades do mundo. Os
discípulos, indo para o mundo, proclamarão o Evangelho a toda criatura (ver Mc
16, 15) e farão antes de tudo a experiência da proximidade, da presença de
Jesus. Terão mesmo a consciência de ser apenas homens e mulheres a serviço da
missão de Jesus, o enviado do Pai. O Cristo é elevado para junto de Deus para
conduzir seu trabalho a termo, para poder interceder a favor dos homens, entre
os quais e com os quais ele habitou sobre a terra, como verdadeiro homem, durante
aproximadamente trinta e sete anos. Assim, doravante, uma nova relação liga
Deus e a humanidade: esta separação entre o céu e a terra, entre o Criador e a
criatura torna-se comunhão graças a Jesus de Nazaré, o Filho de Deus. “Os céus
são os céus do Senhor, a terra, ele a deu aos homens”, cantava o salmista (Sl
115, 16).; mas essas duas realidades são agora conjuntas em Jesus Cristo: ele,
com efeito, desceu do céu sobre a terra;
ele era “da condição de Deus” (Fl 2, 6) e se revestiu de carne humana e mortal
(ver Jo 1, 14): com esta realidade humana, compreendendo o corpo, a alma e o
espírito, ele sofreu até a morte; ele ressuscitou e, como carne, subiu ao céu.
Doravante, “à direita do Pai”, quer dizer na intimidade da vida de Deus, há um
corpo de homem, uma vez que em Cristo os céus desceram sobre a terra e a terra
subiu ao céu. Na verdade, Jesus é ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho de
homem, capaz de ser para nós, homens, o Emmanuel, o Deus conosco. Presença real
na ausência física, relação na distância: eis o significado da Ascensão, que
chama os cristãos a caminhar “à luz da fé e não da visão” (2 Cor 5, 7),
aprimorando a sensibilidade da fé, os “sentidos espirituais”, a saber a
capacidade do coração humano de ver, escutar, tocar, gozar, sentir. O Cristo
está junto de Deus e ao mesmo tempo presente entre os homens e na história;
confessar este mistério nos ensina a alteridade do outro: a face do outro,
irredutivelmente a sua, nos evoca um mistério de transcendência; ela convida ao
respeito assim como à comunhão. A Ascensão contesta toda voracidade e todo
desejo de possessão, tanto nas relações com Deus como nas relações humanas: na
verdade, é um grande magistério de liberdade!
(Enzo
Bianchi, 1943-, Itália)
CONTEMPLAR
S. Título, 1990,
hospital psiquiátrico de Sichuan, da Série “As Pessoas Esquecidas: a condição
dos pacientes psiquiátricos chineses, 1989-1990”, Lu Nan (1962-), Magnum
Photos, Beijing, China.
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