segunda-feira, 18 de maio de 2020

O Caminho da Beleza 27 - Ascensão do Senhor


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Ascensão do Senhor                  24.05.2020
At 1, 1-11                  Ef 1, 17-23               Mt 28, 16-20


ESCUTAR

“Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu?” (At 1, 11).

O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer (Ef 1, 17).

Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram (Mt 28, 17).


MEDITAR

Quando Jesus enviou os discípulos para ir e pregar até os confins do mundo, no final do evangelho de Mateus foi dito que “alguns duvidaram”. Eu amo isso. Lá estão eles sobre a montanha, frente ao Senhor Ressuscitado, e alguns ainda não tinham certeza. Mas Jesus os enviou de qualquer maneira. Logo, quando formos falar de nossa fé, alguns de nós podem ter incertezas, indagações e questões não resolvidas. E isso é bom! Porque então as pessoas verão que ser um Católico não significa que nós temos todas as respostas. O Cardeal Kasper do Vaticano disse que a Igreja teria mais autoridade se às vezes dissesse com mais frequência: “Eu não sei”.

(Timothy Radcliffe, 1945-, Reino Unido)


ORAR

   Na verdade, a ascensão de Jesus ao céu, esse acontecimento inenarrável com nossas palavras capazes somente de contar fatos humanos, não foi uma supressão nem a conclusão de uma aventura: a da vida de Jesus. Com efeito, quando se lê com inteligência os relatos da Ascensão, não se encontra ali o relato de um “adeus”, mas antes um envio dos discípulos, uma missão desde Jerusalém até as extremidades do mundo. Os discípulos, indo para o mundo, proclamarão o Evangelho a toda criatura (ver Mc 16, 15) e farão antes de tudo a experiência da proximidade, da presença de Jesus. Terão mesmo a consciência de ser apenas homens e mulheres a serviço da missão de Jesus, o enviado do Pai. O Cristo é elevado para junto de Deus para conduzir seu trabalho a termo, para poder interceder a favor dos homens, entre os quais e com os quais ele habitou sobre a terra, como verdadeiro homem, durante aproximadamente trinta e sete anos. Assim, doravante, uma nova relação liga Deus e a humanidade: esta separação entre o céu e a terra, entre o Criador e a criatura torna-se comunhão graças a Jesus de Nazaré, o Filho de Deus. “Os céus são os céus do Senhor, a terra, ele a deu aos homens”, cantava o salmista (Sl 115, 16).; mas essas duas realidades são agora conjuntas em Jesus Cristo: ele, com efeito,  desceu do céu sobre a terra; ele era “da condição de Deus” (Fl 2, 6) e se revestiu de carne humana e mortal (ver Jo 1, 14): com esta realidade humana, compreendendo o corpo, a alma e o espírito, ele sofreu até a morte; ele ressuscitou e, como carne, subiu ao céu. Doravante, “à direita do Pai”, quer dizer na intimidade da vida de Deus, há um corpo de homem, uma vez que em Cristo os céus desceram sobre a terra e a terra subiu ao céu. Na verdade, Jesus é ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho de homem, capaz de ser para nós, homens, o Emmanuel, o Deus conosco. Presença real na ausência física, relação na distância: eis o significado da Ascensão, que chama os cristãos a caminhar “à luz da fé e não da visão” (2 Cor 5, 7), aprimorando a sensibilidade da fé, os “sentidos espirituais”, a saber a capacidade do coração humano de ver, escutar, tocar, gozar, sentir. O Cristo está junto de Deus e ao mesmo tempo presente entre os homens e na história; confessar este mistério nos ensina a alteridade do outro: a face do outro, irredutivelmente a sua, nos evoca um mistério de transcendência; ela convida ao respeito assim como à comunhão. A Ascensão contesta toda voracidade e todo desejo de possessão, tanto nas relações com Deus como nas relações humanas: na verdade, é um grande magistério de liberdade!

(Enzo Bianchi, 1943-, Itália)


CONTEMPLAR

S. Título, 1990, hospital psiquiátrico de Sichuan, da Série “As Pessoas Esquecidas: a condição dos pacientes psiquiátricos chineses, 1989-1990”, Lu Nan (1962-), Magnum Photos, Beijing, China.




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