A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
I Domingo da Quaresma 01.03.2020
Gn 2, 7-9; 3, 1-7 Rm
5, 12-19 Mt 4, 1-11
ESCUTAR
Os olhos
dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com
folhas de figueira (Gn 3, 7).
O dom
gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em
abundância sobre todos (Rm 5, 15).
O
Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo (Mt 4, 1).
MEDITAR
Deus não
é encontrado na alma adicionando-se qualquer coisa, mas por um processo de
subtração.
(Mestre Eckhart, 1260-1328, Alemanha)
ORAR
Quanto menos se é franco a si mesmo,
mais se é tentado a se evadir. São sempre as pessoas mais atormentadas
interiormente e as mais insatisfeitas consigo mesmas que se queixam de seu
entorno, protestando contra as suas condições de vida e reclamando para que se mude
um “sistema insuportável”. Mas, em definitivo, suas queixas não mudam coisa
alguma. Aquele que quer verdadeiramente transformar o mundo deve começar por si
mesmo e procurar a justiça em seu próprio coração, em lugar de pretender isso
constrangendo os outros (ver Mt 7, 3-5). Somente aquele que colocar um pouco de
ordem em si encontrará as palavras justas para fazer nascer o bem. Por isso, é
preciso aceitar sua solidão. Só ela permite o se confrontar a si mesmo sem
desvios. Para descobrir a verdade de nossa existência, é preciso fazer calar as
vozes alheias. O importante não são nem os pensamentos, nem os conselhos nem as
felicitações nem as reprovações dos outros, mas o que se passa no fundo de nós.
Assim Jesus segue para o deserto antes do início de sua ação pública. Ele
respondia à uma lei espiritual: quem ainda não se encontrou a si mesmo perante
Deus projetará sobre os outros suas angústias e seus conflitos mal resolvidos,
porém não os ajudará. Quando ele for lhes falar de Deus, ele o fará à maneira
de um espelho deformante. Quem não faz o recuo necessário em relação aos seus
desejos não pode ser verdadeiro. O deserto no qual é preciso se retirar não
está, portanto, de início situado no espaço, como aquele que atravessou Israel
ou aquele em que se retiravam os essênios para a espera da vinda de Deus; ele é
da ordem da interioridade. Ele chama ao amadurecimento e à verdade interiores.
Só aquele que é confrontado em si mesmo pode ter a coragem da verdade.
“Coragem”? Atenção à palavra! Se o evangelista insiste explicitamente sobre o
fato de que é o “Espírito” que conduz Jesus ao deserto, é para sublinhar bem
que não se pode por si mesmo escolher o tempo e o lugar de seu retiro. Para
Jesus, trata-se de uma necessidade interior. Não se toma a decisão de se ir
para o “deserto”, de retornar ao cerne de sua existência: isso vem quando se
está maduro; se é “conduzido” a isso. Não se trata, portanto, aqui de uma
“resolução corajosa”, mas do abandono sem hesitação à condução divina interior.
(Eugen
Drewermann, 1940-, Alemanha)
CONTEMPLAR
Alívio na
morte, 2017, Kashi, Varanasi, Índia, Meghan Shirish Iyer,
Monovisions Photography Awards, Doha, Qatar.
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