terça-feira, 3 de março de 2020

O Caminho da Beleza 16 - II Domingo da Quaresma


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

II Domingo da Quaresma                   08.03.2020
Gn 12, 1-4                2 Tm 1, 8-10                      Mt 17, 1-9


ESCUTAR

“Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem” (Gn 12, 3).

Caríssimo, sofre comigo pelo evangelho, fortificado pelo poder de Deus (2 Tm 1, 8).

“Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!”


MEDITAR

És tu quem circula no ar
És tu quem floresce na terra
És tu quem se estorce no fogo
És tu quem murmura nas águas
Tu és quem respira por mim.

No teu corpo reacende-se a estrela apagada,
A água dos mares circula na tua saliva,
O fogo se aquieta nos teus cabelos.
Quando te abraço estou abraçando a primeira mulher.
Sol e lua,
Origem berço cova.
Teu corpo liga o céu e a terra,
Teu corpo é o estandarte da voluptuosa vitória.
Teu nome reconcilia os dois mundos.

(Murilo Mendes, 1901-1975, Brasil)


ORAR

   Jesus, tomando consigo Pedro e Tiago, subiu a montanha “para orar”, afastado. Não é, acaso, espantoso que Jesus, sempre atento a Deus, experimente ainda a necessidade de criar em si e em torno de si uma zona de silêncio para estar diante de seu “Abba”? Por que esse novo espaço para Deus? A Transfiguração desvenda, num relâmpago e até mesmo na ordem do aparecer, o segredo da iniciativa de Jesus, de sua mobilização absoluta na oração. Ela indica que a atenção do Filho é escuta transformadora, que o tempo do Cristo para o seu Deus não é outro senão o tempo do Pai para seu Filho: o Pai se revela em Jesus que a ele ora. O véu se rasga de repente: o que estava escondido se torna transparência insustentável aos olhos dos discípulos aterrorizados. Aquele a quem o Pai chama seu Filho: “Este é o meu Filho Bem-amado, escutai-o”, ele mesmo é transfigurado: a Palavra de Deus não pode mais ser um simples dito lançado através do espaço e do tempo por um profeta qualquer... Ela tem hoje um corpo de carne e não um revestimento exterior, uma face de homem em quem ela existe pessoalmente. Impossível ao Pai se dizer a si mesmo, sem que Aquele que é a sua Palavra feita carne não estremeça todo em si mesmo a esta dicção, não se ilumine interiormente, ele que é a Luz nascida da Luz. A Transfiguração manifesta Deus que se diz em seu Filho: ela torna “visível” o Pai. O surpreendente é que uma tal transformação seja dada de um modo fugidio, quando ela é, no seu fundo, um dado permanente do Cristo. Como posso eu dizer: “Mostra-nos o Pai”? A oração do Cristo transfigurado no Tabor divulga e sela ao mesmo tempo o único Mistério: o Filho em seu “Abba” e o Pai em sua Palavra não fazem senão um.

(M. Lamy de la Chapelle, 1853-1931, França)


CONTEMPLAR

Em direção ao horizonte, 2007, Emil Gataullin (1972-), Monovisions Photography Awards, Rússia.




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