A palavra de
Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
V Domingo do Tempo Comum 09.02.2020
Is 58, 7-10 1
Cor 2, 1-5 Mt 5, 13-16
ESCUTAR
“Se
acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao
necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o
meio-dia” (Is 58, 10).
Entre
vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado
(1 Cor 2, 2).
“Brilhe a
vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o
vosso Pai que está nos céus” (Mt 5, 16).
MEDITAR
A vida é igual a uma árvore carregadinha de fruto. Uns colhe um só e podre. Uns passa
o tempo inteiro com o fruto na mão, sem coragem de cascá. Outros quer todo
dia o mesmo fruto, iguarzinho: mesmo
cheiro, mesmo gosto, mesmo tamanho, num
tem nem desejo de exprimentá um novo.
Eu sou feito menino. Eu quero exprimentá
todos que eu possa güentá. Os amargo, os azedo, os doce e os farturento. Eu quero é ficá todo lambuzado da vida. Eu quero
ter a corage de cascá todos. Eu
prefiro morrê de indigestão do que vivê aguado.
(Depoimento de um caipira
do interior de Minas Gerais, Brasil)
ORAR
Parece-me que o tema da
loucura pode unir-se estreitamente com o da luz e, também, com o do sal de que
fala Cristo. Estou convencido de que o sal que não perde seu sabor e que, além
de dar gosto à mensagem cristã, impede a deterioração, a decomposição, a
corrupção da terra, é precisamente o da loucura dos paradoxos evangélicos. E,
da mesma maneira, estou convencido de que os cristãos, para serem “luz do
mundo”, não devem ter a pretensão de brilhar. Devem esquecer da ilusão de dar a
luz aos outros com a própria inteligência. E tentar banir a escuridão e o caos
que nos rodeia com uma pitada (abundante) de loucura. O homo sapiens tem
produzido desastres notáveis. Chegou a hora que se afaste, posto que nem sequer
é capaz de compensar os danos que tem causado. A salvação da humanidade só pode
ser alcançada com a aparição do homo demens, do cristianismo que sai da
casca da racionalidade, do cálculo, das prudências táticas, dos equilíbrios, da
moderação, da meia medida, e empreenda decididamente o caminho do exagero,
do excesso, da provocação. O mundo não tem necessidade de beatos de pescoço
torcido, nem de intelectuais refinados, bem apresentados e com voz empolada,
nem de doutores que prescrevem receitas e pílulas com as doses apropriadas (que
fazem bem ao corpo sem trazer danos à alma), mas sim de “loucos de Deus”,
capazes de realizar gestos insólitos, surpreendentes por sua fantasia,
escandalosos em sua liberdade, que não vacilam em dar socos no estômago para
fazer digerir o alimento evangélico mais pesado. Tenho a impressão de que hoje
muito do cristianismo está enfermo de rigidez, compostura, equilíbrio,
seriedade (que é o oposto de gravidade, sendo a coisa mais falsa e inautêntica
desde o ponto de vista evangélico). Talvez tenhamos esquecido de que Cristo não
nos disse que devemos ser embalsamadores (múmias que embalsamam outras múmias pode
ser o equivalente ao cego que pretende conduzir outro cego...), mas sim sal que
queima (“todos vão ser salgados com fogo”, Mc 9, 49). Se não sois como
crianças... se não vos converteis em loucos... se não tendes sal em vós mesmos,
jamais saboreareis o gozo que invade toda a mensagem do Cristo, e não podereis
difundi-la.
(Alessandro
Pronzato, 1932-, Itália)
CONTEMPLAR
S. Título, 2015,
Pradeep Raja Kannaiah, Índia/Singapura.
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