A palavra de Deus é viva e eficaz e mais
cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
I Domingo do Advento 02.12.2018
Jr 33, 14-16 1 Ts 3, 12-4, 2 Lc
21, 25-28.34-36
ESCUTAR
“Farei brotar de Davi a semente da
justiça, que fará valer a lei e a justiça na terra” (Jr 33, 15).
O Senhor vos conceda que o amor entre
vós e para com todos aumente e transborde sempre mais (1 Ts 3, 12).
“Levantai-vos e erguei a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21, 28).
MEDITAR
De sua formosura já venho dizer: é um menino magro, de muito
peso não é, mas tem o peso de homem, de obra de ventre de mulher. — De sua
formosura deixai-me que diga: é uma criança pálida, é uma criança franzina, mas
tem a marca de homem, marca de humana oficina... — De sua formosura deixai-me
que diga: é tão belo como um sim numa sala negativa...— Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas. — Belo como a última onda que o fim do mar sempre
adia. — É tão belo como as ondas em sua adição infinita. — Belo porque tem do
novo a surpresa e a alegria. — Belo como a coisa nova na prateleira até então
vazia. — Como qualquer coisa nova inaugurando o seu dia. — Ou como o caderno
novo quando a gente o principia. — E belo porque o novo todo o velho contagia.
— Belo porque corrompe com sangue novo a anemia. — Infecciona a miséria com
vida nova e sadia. — Com oásis, o deserto, com ventos, a calmaria.
(João Cabral de Melo Neto, 1920-1999, “Morte e Vida
Severina”, Brasil)
ORAR
Ide
com coragem ao encontro do Senhor (rendei-lhe justiça!). O encontro entre duas
esperas, no qual a Igreja se coloca para ser sinal e sacramento. O Batismo foi
sua primeira confluência. A Eucaristia não cessa de nos provocar o desejo desse
Deus que nos convida. Deixemo-nos convocar à espera de Deus pela purificação de
todas as nossas esperas humanas. Esperar contra toda esperança do Inesperado.
1. Esperança de um NASCIMENTO! “Uma semente”... Uma semente de “justiça”. Mesmo
na casa de Davi, é excepcional, difícil de conceber em todos os sentidos do
termo. Cf. o temor de Maria!. Um parto doloroso – inquietação – reações
incontroláveis. O Menino que Maria espera, na casa de Davi, é inteiramente
outro. Ele é Santo. Ele será chamado
Filho do Altíssimo. Quem poderia imaginar isso? O INESPERADO... e eis que o
acontecimento é de início uma CHEGADA, um AD-VENTUS,
um começo, o começo do inesperado. A esperança em perpétuo movimento porque o
Filho do homem sempre está por nascer. Se ele se dá a ver, é como meta de
esperança. Em decorrência disso, só nos restará apenas nascer para a esperança.
2. Esperança de uma LIBERTAÇÃO... Toda a ordem do mundo vai ser perturbada.
Esse filho do homem na nuvem, ele ocupa todo o lugar. As estrelas e o sol são
por ele desordenados, apagados, encobertos. Agitação entre as nações. Os chefes
dos povos e os poderosos tremem de MEDO. Reações incontroláveis. Frustram-se
todas as suas esperanças. Herodes vai reagir!... Mas os pobres vão se
REERGUER... surpresa divina. Cf. P. Dominique: “Quando vemos esfacelar, à nossa
volta, todas as coisas que havíamos por vezes nos acostumados a apreciar como a
luz do sol ou a regularidade dos astros, não seria sábio ficarmos inquietos.
Seria melhor bradarmos, como em Pentecostes: “Bravo! Eis-nos aqui! O Filho do
Homem está por vir”. Há ainda nesse país pessoas que se recusam a curvar as
cabeças e que esperam de Deus apenas a sua libertação. Pois não há mais justiça
entre os homens, o inesperado é a JUSTIÇA! 3. Esperança da VIDA! (diferente da
esperança de vida). “Semente de justiça”... Infância + Justiça = VIDA. É a Vida
que é o inesperado do homem... A vida é outra coisa daquilo que acreditamos. É
permanecer de PÉ quando todo o mundo está confortavelmente sentado; é vigiar
quando os olhos pesam para não ver a agonia que ameaça; é se assaltar de amor
para não deixar a morte tomar o coração; é orar o tempo todo para escapar de
tudo o que “deve acontecer” e de que maneira? “não escapando Daquele que chega”
e que é o TRANSBORDAMENTO do amor de Deus, inconcebível!
(Père Christian de Chergé, 1937-1996,
Argélia)
CONTEMPLAR
Garota síria segura seu irmão, 2016, campo de refugiados de Indomeni, fronteira entre a
Macedônia e Grécia, Szymon Barylski (1984-), Polônia.
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