segunda-feira, 29 de maio de 2017

O Caminho da Beleza 28 - Solenidade de Pentecostes

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

Solenidade de Pentecostes                 04.06.2017
At 2, 1-11                  1 Cor 12, 3-7.12-13                       Jo 20, 19-23


ESCUTAR

Todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua (At 2, 6).

A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum (1 Cor 12, 7).

E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22).


MEDITAR

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz...
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo...

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

(Alberto Caieiro, O guardador de rebanhos).


ORAR

Sempre tentamos administrar o Espírito: dividi-Lo em doses e regulamentá-Lo. Temos a ilusão de que podemos usá-Lo para garantir a ordem e avalizar nossas decisões como se fosse o árbitro nos jogos cujas regras foram por nós fixadas. Temos medo de nos deixar habitar pelo vento e pelo fogo. A nova criação nasce de um colossal incêndio, pois o Espírito vem e acende uma paixão. O Espírito de Deus brinca, se diverte e incita nossos versos e vidas a correr entre as línguas de fogo. A vida no Espírito, como fogo e o vento, é incontrolável, imprevisível e não pode ser programada jamais. Os homens e as mulheres de Pentecostes surpreendem não porque são comedidos e discretos, mas porque parecem excessivos, irregulares e loucos. Os discípulos são arremessados para fora de casa pelo vento intempestivo. A blasfêmia imperdoável contra o Espírito é ignorar a sua força, manter-se afastado dela e ter medo de ser queimado pelo fogo. É pretender que Ele se reduza a uma mera e sutil fissura nas paredes ao invés de portas e janelas abertas. É falar da coragem cristã sem ter tentado oferecer ao menos a metade do espaço que concedemos ao medo. É falar de Pentecostes sem ter experimentado a sua embriaguez. O Espírito é um refazer constante e um renascimento. Pentecostes nos conduz a uma nova geografia amorosa do mundo. Todos os símbolos do Espírito são elementos em movimento, mas um movimento para os outros. Ao sermos habitados pelo Espírito, o coração se dilata e se banha de amor divino. O Espirito é um fogo cuja vinda é palavra e cujo silêncio é luz (Efrem da Síria). Somente o silêncio fala todas as línguas e a linguagem do Espírito é o silêncio oferecido ao Verbo. O Espírito que faz bater o coração de Deus é também o sopro que faz bater o coração do Homem.


CONTEMPLAR

Pentecostes, 1989, Andrew Wyeth (1917-2009), têmpera, 20,75 x 30,625 cm, Coleção Particular, Estados-Unidos.



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