Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
VI Domingo da Páscoa 21.05.2017
At 8, 5-8-8.14-17 1 Pd 3, 15-18 Jo 14, 15-21
ESCUTAR
Era
grande a alegria naquela cidade (At 8, 8).
Estai
sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir (1
Pd 3, 15).
“Quem
me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14,
21).
MEDITAR
Há
em mim um poço muito profundo. E nesse poço, há Deus. Às vezes eu consigo
atingi-lo. Mas muitas vezes, as pedras e os entulhos obstruem este poço e Deus
é enterrado. Então é preciso desenterrá-lo, torná-lo visível. Há pessoas,
suponho, que oram com os olhos levantados para o céu. Estas procuram Deus fora
delas. Há outras que baixam a cabeça e a cobrem com as mãos, penso que estas
buscam Deus em si-mesmas.
(Etty
Hillesum, holandesa, 29 anos, morta em Auschwitz em 1943).
ORAR
Jesus nos deixa uma possibilidade: “Se me amais,
guardareis meus mandamentos”; e não uma ordem: “se sois obedientes não seguirão
para o inferno”. O amor é a única maneira de viver o Cristo e qualquer outro
comportamento, ainda que seja irrepreensível, se não for amoroso, não é
cristão. A Igreja é a igreja de Jesus não quando é o lugar da obediência, da
disciplina, da perfeita organização funcional, do dogmatismo, mas quando é a
Igreja do amor e da misericórdia. Jesus, antes de partir, não distribui nenhum
diploma e muito menos um certificado de autenticidade cristã. Nossos atos são
autenticados por Jesus se estão escritos na língua do amor. Pelo dom do Espírito,
o outro Defensor, o Cristo e o Pai estarão presentes no meio de nós: “Não vos
deixarei órfãos”. O homem é o lugar onde irrompe o universo celeste, o lugar
onde habita algum Outro. Não somos e nem estamos órfãos, pois somos filhos
conduzidos pelo Espírito do Pai. A pedagogia do Cristo consiste em impedir que
nos contentemos com pouco. Somos tentados a parar e dizer: “Está bom. Basta”. O
Cristo nos oferece continuamente algo maior e mais além do que o “Basta!”. O
santuário que devemos frequentar está dentro da gente e é imperativo romper o
medo de chegar ao centro de nós mesmos. A Igreja da interioridade não é
intimista, isolada, fechada sobre si mesma, mas uma comunidade de amor e de
liberdade expressas na ternura e lealdade entre todos de dar razão da sua
esperança e generosidade. A esperança existe quando é convincente o amor que
manifestamos em atos concretos. Somos o que praticamos, pois a prática do amor
aniquila a ambiguidade das palavras. Jesus vai ao fundo das coisas. Não fica
nas aparências. Olha as pessoas como o Pai as olha. Sabe seus sonhos, seus
medos, seus sofrimentos e aspirações. É vital superarmos a educação religiosa
baseada no medo e no pecado e nos limites traumatizantes. Basta de reduzirmos a
espiritualidade a uma religião em que procuramos Deus para dele obter o que nos
deve e para nos acomodar. Basta de abusar de Deus como objeto de consumo e
usá-Lo em vão e a nosso bel prazer. Meditemos as palavras de Francisco:
“Excluímos da Igreja a categoria da ternura. Vizinhança e ternura são as duas
maneiras do amor do Senhor. Elas nos fazem ver a força do amor de Deus. Não se salva por decreto ou com uma lei:
salva-se com ternura”.
CONTEMPLAR
Vila de Maadid, 2002,
Erfoud, Marrocos, Bruno Barbey (1941-), Magnum Photos, França e Suíça.
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