O Caminho da Beleza 43
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
Exaltação da Santa Cruz 14.09.2014
Nm 21, 4-9 Fl 2, 6-11 Jo 3, 13-17
ESCUTAR
“Por que nos fizestes sair do
Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta água e já estamos com nojo
desse alimento miserável” (Nm 21, 5).
“Jesus Cristo, existindo em
condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação” (Fl 2, 6).
“Deus não enviou o Seu Filho ao
mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3,
17).
MEDITAR
O
Deus meu e de todos,
Que
tenho feito até hoje no mundo,
Senão
te invocar para que surjas,
Senão
me desesperar porque sou pó?
Dilata
minha visão,
Dilata
poderosamente minha alma,
Faze-me
referir todas as coisas ao teu centro,
Faze-me
apreciar formas vis e desprezíveis,
Faze-me
amar o que não amo.
(Murilo Mendes)
Esse é justamente o tema
maravilhoso da Bíblia que assusta a tantos: que o único sinal visível de Deus
no mundo seja a cruz. Cristo não é arrebatado gloriosamente da terra para o
céu, seu destino é a cruz. E precisamente lá onde está a cruz está próxima a
ressurreição. Onde todos ficam desconsertados diante de Deus, onde todos se
desesperam com Deus, é exatamente lá que Deus está bem perto e Cristo está
vivamente presente (Dietrich Bonhoeffer).
ORAR
No mito
africano-egípcio da origem da Vida, a serpente Atum será apresentada como o
primeiro Deus que emergindo das águas primordiais cuspia outros deuses e toda a
criação. Para os egípcios, no meio dos quais Moisés foi criado, a serpente
representava a conservação da vida, a vida salvaguardada e reencontrada. A
serpente colocada num lenho e levantada por Moisés era feita de uma liga
trinitária de estanho, cobre e zinco e brilhava intensamente refletindo a luz
do sol. É uma serpente dos ares e de luz e, segundo os mitos primevos africanos,
carrega o vento e fogo e, por isso, neutraliza a doença e a morte. No Evangelho
de João, a imagem reaparece com outra densidade simbólica: a de um Jesus
Serpente que cura e regenera e que sintetiza toda a humanidade levantada e
libertada. Levantado na Cruz, expira sobre o mundo todo o seu sopro de vida e o
seu corpo é como o bronze brilhante – símbolo solar que reflete a luz divina do
alto. De Jesus, levantado e ungido pelo sol, procede a vida e sua luz coloca às
claras a bondade e a maldade do proceder de cada um de nós. O Filho da Luz
irradia uma verdade que desarma todas as víboras da conspiração e da hipocrisia
que nos espreitam. O Homem Levantado, este Jesus Serpente, é destinado a ser
visto como presença salvadora do Pai e ponto de convergência do encontro
divino/humano, de onde flui a Vida em abundância. No prólogo de João, a luz
brilhava no meio das trevas e chegava até o mundo iluminando todo homem (Jo 1,
9). Antes, podíamos aceitar ou não a luz; agora podemos ou não praticar o amor,
pois o Corpo Crucificado de Jesus ainda continua sofrendo nos corpos fustigados
dos nossos irmãos e irmãs. O Cristo espera de nós que sejamos capazes de sujar
de vida os olhos claros de morte que nos rodeiam e espreitam para que, ao expirarmos
nosso sopro de vida, consumemos as obras de amor e justiça que conseguimos.
CONTEMPLAR
Pietá, El
Greco, c. 1592, óleo sobre tela, 120
cm x 145 cm, Starvos Niarchos Collection, Paris, França.
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