O Caminho da Beleza 25
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
IV Domingo da Páscoa 11.05.2014
At 2, 14.36-41 1 Pd 2, 20-25 Jo 10, 1-10
ESCUTAR
“E
vós recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós e vossos
filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor nosso
Deus chamar para si” (At 2, 39-40).
“Caríssimos,
se suportais com paciência aquilo que sofreis por ter feito o bem, isso vos
torna agradáveis diante de Deus” (1 Pd 2, 20).
“Quem
entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas
escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome a as conduz para fora” (Jo
10, 2).
MEDITAR
“Não
me lembro de um só instante da minha vida em que tenha duvidado de Deus.
Duvidei e duvido da possibilidade do pensamento humano conhecer e nomear
adequadamente a sua existência, duvidei e duvido das pretensões das religiões
de encerrá-lo nas suas doutrinas, duvidei e duvido de muitas outras coisas, mas
de Deus e da possibilidade de participar no seu mistério de vida infinita que
Jesus-Yeshua chamava ‘reino’ nunca duvidei e espero que nunca duvide até o
último dos meus dias” (Vito Mancuso).
Um
ser humano não deve ser para um outro um objetivo, mas um meio. Meio de aceder
a um degrau superior de vida. Meio de se desprender desta terra bem penosa e de
suas criaturas. Um com o outro e um para o outro devem chegar a se libertar um
do outro para continuar a viver juntos numa liberdade superior” (Etty
Hillesum).
ORAR
O final da carta de Pedro nos introduz o tema
central desta liturgia: “Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes
ao pastor e guarda de vossas vidas”. Jesus se apresenta como a porta do redil.
Uma porta de exclusão para os ladrões e salteadores, ao mesmo tempo, uma porta
de inclusão e acesso para os verdadeiros pastores que dão a vida pelas ovelhas.
É uma relação vital e não jurídica, doutrinal ou ritual. Tantas vezes, os
pastores com suas investiduras legais e títulos de legitimidade jurídica se
comportam como ladrões e bandidos e se tornam impotentes para criarem vínculos
de confiança, intimidade e partilha. O verdadeiro pastor faz sair as ovelhas e
as liberta dos sistemas fechados de dogmas, ritos e ideologia. A vida só está
segura no movimento por Cristo, com Cristo e em Cristo que nos oferece uma vida
em abundância (Jo 10, 10) e não uma vida restrita às falsas seguranças do poder
e do dinheiro. As ovelhas “não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não
conhecem a voz dos estranhos”. Os poderosos são obedecidos, mas não escutados,
pois a sua voz tem a obstinação de dominar e não de amar. Não podemos prender
Jesus no redil das nossas estreitas vidas como uma coisa que possuímos. Devemos
é transformar nossas vidas numa porta sempre aberta para que entrem e saiam,
renovados, os que o Senhor colocou em nossas travessias. O amor cristão não
prende e nem cerceia, mas nos coloca na dinâmica de uma vida em liberdade. Para
o cristão, “dar a vida” não significa entregar-se à morte, mas se arriscar e se
expor diante de um perigo que ameaça um outro. Temos uma relação muito
empobrecida com o Cristo: não cremos que Ele cuida de nós e que podemos
recorrer a Ele quando nos sentimos cansados e sem esperança. Temos vivido em
estruturas nas quais Jesus Cristo é confessado de maneira doutrinal, mas
distante da comunidade; em que nossos pastores apascentam mais a si mesmos do
que as suas ovelhas. Como diz o profeta a estes falsos pastores: “Comeis sua
gordura e vos vestis com sua lã; matais as mais gordas. Não fortaleceis as
fracas, nem curais as enfermas, nem vendais as feridas; não recolheis as
desgarradas, nem procurais as perdidas e maltratais brutalmente as fortes” (Ez
34, 3-4). Neste tempo pascal, como em todos os outros tempos, devemos procurar
o Ressuscitado no amor e não na letra morta; na verdade e não nas aparências;
na ação criativa e não na passividade e na inércia; no silêncio interior e não
na agitação superficial. Temos que nos perguntar se a palavra que escutamos em
nossas Igrejas provém da Galileia e nasce do Espírito do Ressuscitado para que
não substituamos a voz inconfundível do Cristo pelo amontoado de pregações, de
escritos teológicos, de exposição de catequistas que só nos causam ruídos e
surdez para a voz límpida do Cristo que nos chama pelo nome, nos acolhe e nos
perdoa em sua misericórdia.
CONTEMPLAR
O bom pastor encontra sua
ovelha, Patrice Delaby, 201o, óleo sobre tela, Pas-de-Calais,
patricedelaby.artblog.fr, França.
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