segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Caminho da Beleza 25 - IV Domingo da Páscoa

O Caminho da Beleza 25
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



IV Domingo da Páscoa             11.05.2014
At 2, 14.36-41                    1 Pd 2, 20-25                     Jo 10, 1-10



ESCUTAR

“E vós recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor nosso Deus chamar para si” (At 2, 39-40).

“Caríssimos, se suportais com paciência aquilo que sofreis por ter feito o bem, isso vos torna agradáveis diante de Deus” (1 Pd 2, 20).

“Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome a as conduz para fora” (Jo 10, 2).



MEDITAR

“Não me lembro de um só instante da minha vida em que tenha duvidado de Deus. Duvidei e duvido da possibilidade do pensamento humano conhecer e nomear adequadamente a sua existência, duvidei e duvido das pretensões das religiões de encerrá-lo nas suas doutrinas, duvidei e duvido de muitas outras coisas, mas de Deus e da possibilidade de participar no seu mistério de vida infinita que Jesus-Yeshua chamava ‘reino’ nunca duvidei e espero que nunca duvide até o último dos meus dias” (Vito Mancuso).

Um ser humano não deve ser para um outro um objetivo, mas um meio. Meio de aceder a um degrau superior de vida. Meio de se desprender desta terra bem penosa e de suas criaturas. Um com o outro e um para o outro devem chegar a se libertar um do outro para continuar a viver juntos numa liberdade superior” (Etty Hillesum).



ORAR

O final da carta de Pedro nos introduz o tema central desta liturgia: “Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas”. Jesus se apresenta como a porta do redil. Uma porta de exclusão para os ladrões e salteadores, ao mesmo tempo, uma porta de inclusão e acesso para os verdadeiros pastores que dão a vida pelas ovelhas. É uma relação vital e não jurídica, doutrinal ou ritual. Tantas vezes, os pastores com suas investiduras legais e títulos de legitimidade jurídica se comportam como ladrões e bandidos e se tornam impotentes para criarem vínculos de confiança, intimidade e partilha. O verdadeiro pastor faz sair as ovelhas e as liberta dos sistemas fechados de dogmas, ritos e ideologia. A vida só está segura no movimento por Cristo, com Cristo e em Cristo que nos oferece uma vida em abundância (Jo 10, 10) e não uma vida restrita às falsas seguranças do poder e do dinheiro. As ovelhas “não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”. Os poderosos são obedecidos, mas não escutados, pois a sua voz tem a obstinação de dominar e não de amar. Não podemos prender Jesus no redil das nossas estreitas vidas como uma coisa que possuímos. Devemos é transformar nossas vidas numa porta sempre aberta para que entrem e saiam, renovados, os que o Senhor colocou em nossas travessias. O amor cristão não prende e nem cerceia, mas nos coloca na dinâmica de uma vida em liberdade. Para o cristão, “dar a vida” não significa entregar-se à morte, mas se arriscar e se expor diante de um perigo que ameaça um outro. Temos uma relação muito empobrecida com o Cristo: não cremos que Ele cuida de nós e que podemos recorrer a Ele quando nos sentimos cansados e sem esperança. Temos vivido em estruturas nas quais Jesus Cristo é confessado de maneira doutrinal, mas distante da comunidade; em que nossos pastores apascentam mais a si mesmos do que as suas ovelhas. Como diz o profeta a estes falsos pastores: “Comeis sua gordura e vos vestis com sua lã; matais as mais gordas. Não fortaleceis as fracas, nem curais as enfermas, nem vendais as feridas; não recolheis as desgarradas, nem procurais as perdidas e maltratais brutalmente as fortes” (Ez 34, 3-4). Neste tempo pascal, como em todos os outros tempos, devemos procurar o Ressuscitado no amor e não na letra morta; na verdade e não nas aparências; na ação criativa e não na passividade e na inércia; no silêncio interior e não na agitação superficial. Temos que nos perguntar se a palavra que escutamos em nossas Igrejas provém da Galileia e nasce do Espírito do Ressuscitado para que não substituamos a voz inconfundível do Cristo pelo amontoado de pregações, de escritos teológicos, de exposição de catequistas que só nos causam ruídos e surdez para a voz límpida do Cristo que nos chama pelo nome, nos acolhe e nos perdoa em sua misericórdia.



CONTEMPLAR

O bom pastor encontra sua ovelha, Patrice Delaby, 201o, óleo sobre tela, Pas-de-Calais, patricedelaby.artblog.fr, França.






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